CPM 22 - Turnê 1/4 de Século (Tangaroa Hall - Taubaté 09/06)

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A noite era fria e úmida com seus 16°C marcados em Taubaté (SP). Mesmo com esse clima pouco convidativo, às 21h a fachada do Tangaroa Hall já era preenchida por um pequeno grupo de pessoas que se dividia entre os food trucks e a montagem das filas na entrada do estabelecimento.


Mesmo a entrada dos pagantes ainda não tendo sido liberada, o volume de pessoas nas filas aumentava, mas timidamente. Às 21h15, 15 minutos mais sedo do que aquele previsto pela organização, a passagem foi liberada e o interior do Tangaroa Hall começou a ganhar sons e cores diferentes por todo o seu espaço.


Vazia, a casa de show educava o ouvido e criava expectativa aos poucos indivíduos presentes já eufóricos a partir de uma seleção de músicas que, tocada no playback, transitava entre rocks clássicos tanto internacionais quanto nacionais dos anos 80, 90 e 2000.


Outbox


Às 21h57, toda a grade dos dois setores já se encontrava tomada por fãs do CPM 22, banda que, dentro de pouco mais de 1h30, subiria no palco. Para passar o tempo e suavizar a espera, o playback parou e o palco foi preenchido por cinco pessoas que caminhavam pelo palanque até se posicionarem em frente aos instrumentos.


De trajes destoantes entre si, os indivíduos, integrantes do quinteto Outbox, deram início ao show de abertura às 22h10 com um cover de Zombie, single do The Cranberries. Mesmo com público morno e sem interação, a banda desfilou simpatia durante as primeiras músicas.



Com som preciso, o Outbox se destacava pela afinação da vocalista e pela desenvoltura do baterista, integrantes que se chamavam atenção durante as performances. Tocando sucessos de outros grandes nomes do cenário do rock (inter)nacional, como Green Day, Alanis Morissette, Foo Fighters, The Offspring, Rita Lee e AC/DC, o quinteto não conseguiu motivar o público mesmo quando este se encontrava em maior volume.


De apresentação alegre e entregue pelos integrantes, o show foi marcado por um público mudo e inexpressivo e por um setlist cuja grande parte das canções já havia sido tocada anteriormente no playback, o que pode ter causado certo desânimo na plateia. Mesmo assim, com grande carisma, o Outbox fez sua função de entreter os presentes por rápidos 38 minutos.


Rapidamente os instrumentos do quinteto foram retirados do palco e a arrumação do palanque para a apresentação principal tomou corpo. Com grande staff, não demorou para que o espaço estivesse limpo e os técnicos de som iniciassem a checagem da afinação dos instrumentos.


Às 23h23, as pistas, mesmo ainda tendo gargalos, já se encontravam generosamente preenchidas por um público ansioso que, sem muita sintonia, entoava curtos gritos eufóricos “uh, CPM, uh, CPM”.


CPM 22


Pouco depois, o público já conseguia enxergar a movimentação dos integrantes ao lado do palco. Às 23h33 cravado no relógio, o CPM 22 subia ao palanque trazendo, como abertura, a clássica, enérgica e nostálgica Regina Let’s Go, primeiro grande single do quinteto paulistano. E assim era dado início a apresentação taubateana da Turnê 1\4 de Século.



Com som potente e propositadamente sujo, o abre-alas da banda foi marcado por precisão e por um Badauí excitadamente enérgico que, entre versos entoados de maneira explosiva, bebia e cuspia água ao alto mostrando uma visível animação, algo que foi comprado pelo público.


Mostrando sua típica pose de performance, inclinando-se para a direita com o estande do microfone e deixando o pé esquerdo esticado, Badauí cantava, caminhava e chacoalhava o suporte do mic com veemência enquanto os músicos mantinham a sonoridade das músicas afiada.


Trazendo em seguida Tarde De Outubro, o quinteto manteve a energia elevada. Porém, o frenesi foi presenciado pela primeira vez com a performance de Nossa Música. Durante a execução da música, o público se mostrava alegre, pulava e cantava os versos de maneira uníssona junto de Badauí.


Atordoado, mesmo dramática, conseguiu atingir o público, mas foi com Vida Ou Morte, faixa que o vocalista introduziu dizendo “essa música é de maconheiro”, que a plateia mostrou grande receptividade. Entre cantorias dispersas e dissincrônicas, a multidão se encontrava em harmonia ao gritar, de forma uníssona e em grande frenesi, com direito até mesmo a braços levantados e esticados em pose de ordem, o verso “vamos vencer!”.


Nossa Música foi outra faixa que ditou a energia da performance, obtendo participação de um público que cantava o refrão em uníssono junto ao vocalista, mas ainda não foi ela a responsável por causar frenesi. Esse feito ficou a cargo de Não Sei Viver Sem Ter Você. Durante a faixa, as pessoas gritaram, pularam e cantaram a plenos pulmões de forma tão intensa que Badauí arriscou deixar que o refrão fosse cantado à capella somente pela plateia, ação recebida de bom grado.


Três músicas depois, Dias Atrás recriou o feito de Não Sei Viver Sem Ter Você, tendo intensa participação do público especialmente no refrão, de forma a deixar difícil até mesmo a audição da voz de Badauí. Outras faixas como Irreversível e Ontem foram responsáveis não somente por ter notáveis interações, mas também por conseguir romper eventuais marasmos e reenergizar um público cuja presença por vezes parecia dormente.


Entre os momentos curiosos esteve aquele em que, durante a ausência de Badauí, o guitarrista Luciano Garcia pegou o microfone para si e, após uma breve interação com o público, puxou o verso de Epitáfio, single dos Titãs. Ou, ainda, aquele em que, por um rápido momento, a banda executou somente o instrumental de We’re Not Gonna Take It, single do Twisted Sister.


Fora os acasos, Desconfio foi a música escolhida para finalizar a apresentação. Com intensa participação do público e uma performance enérgica, entregue e alegre, a faixa foi responsável por deixar a plateia com gosto de quero mais e um senso de dever cumprido por parte da banda, que saiu do palco sem muito alarde às 00h58.


Por pouco menos de duas horas, o CPM 22 entregou a Taubaté muito mais do que hardcore e rapidez. O grupo desfilou precisão e sincronia e seu frontman, Badauí, foi uma verdadeira fonte de simpatia e carisma, mesmo deixando evidente, durante suas interações, sua essência tímida.


Com organização afiada desde a abertura da casa, passando pela banda de abertura até o encerramento da atração principal, a performance do quinteto hardcore paulistano por um lado deixou a desejar na qualidade do som, mas por outro surpreendeu ao mesclar clássicos com canções de seus últimos trabalhos.


É verdade que a estética rítmica que o quinteto criou pede pressão, sujeira e rapidez, mas na performance taubateana, esses ingredientes curiosamente não surtiram em nenhuma mosh pit. Além disso, o áudio do Tangaroa Hall estava destoante nas diferentes áreas da plateia.


A equalização dos instrumentos estava com volume superior àquele do microfone, fazendo com que, em diversos momentos, as melodias se sobressaíssem em demasia sobre os vocais. O fato tornou difícil a compreensão de alguns versos principalmente na área da pista, onde o som chegava estourado.


No que tange o setlist, ele, em meio às suas 22 faixas intercaladas entre sucessos consagrados como Atordoado, Regina Let’s Go, Um Minuto Para O Fim Do Mundo e Não Sei Viver Sem Ter Você, e novos singles, apresentou importantes pontos de destaque.


Entre eles estão Tudo Vale A Pena, Vida Ou Morte e Combustível. As músicas, além de terem conquistado a atenção de um público que, mesmo mudo e parcialmente morno, acompanhava o grupo com olhares de notável admiração, evidenciaram o amadurecimento e a versatilidade melódica do CPM 22.


E no que se refere a amadurecimento, duas peças são chaves nesse processo. Os novos integrantes Ali Zaher e Daniel Siqueira assumiram as respectivas funções de baixista e baterista em agosto de 2020, mês em que Japinha foi desligado do grupo. Com a nova formação, o quinteto de line up completo por Badauí, Garcia e Phil Fargnoli, já mostra novas assinaturas sonoras que desfilavam sincronias que, certamente, estarão presentes em um novo material de estúdio.


O curioso foi notar, no entanto, que Siqueira, por diversas vezes, demonstrava feições de cansaço e até mesmo desespero em conseguir manter a cadência rítmica acelerada e cheia de pressão que as canções da banda pedem. E talvez por isso ele ainda transpareça como alguém tentando efetivar seu lugar junto aos outros companheiros.


Ainda assim, foi nítida a sinergia da nova formação do CPM 22, banda que comprova sua capacidade de, aos 28 anos, ainda conseguir deixar o público com gosto de quero mais, trazer altas doses de nostalgia, generosas injeções de adrenalina e letras que trazem enredos que vão do casual a reflexões sócio-comportamentais.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.