O orvalho ainda ofusca a visão. Deixando todo o gramado com uma branda camada de névoa sob sua superfície, ele começa um processo de evaporação visível a olho nu conforme o Sol destaca seu calor e sua imponência vivaz através de sua anunciação perante as montanhas no horizonte. Enquanto a vida começa a acontecer, porém, existe, nessa mesma atmosfera, notas de uma melancolia envolta em nostalgia que, facilmente, captura o emocional do ouvinte.
Graças à união entre o veludo bluesado e dramático da guitarra de Edu Lersch que se coloca em cena através de uma postura cheia de lástima e um teclado adocicado dominado por Luks Diesel que tenta, a todo custo, usar sua ternura para estancar o sofrimento do instrumento de cordas, a canção permite a obtenção de uma cenografia sensorialmente pungente. Porém, assim que a obra se permite fluir para uma segunda etapa introdutória, a redenção é surpreendentemente alcançada.
Por meio de uma receita sonora que muito remete ao Journey, a faixa propõe a combinação de teclado cristalino, bateria consistente controlada por Arthur Schavinski, e uma guitarra visceral, algo que desencadeia na obtenção de uma harmonia resistente, firme e baseada na pura sintonia instrumental. É a partir do despertar do primeiro verso, porém, que o baixo de Bife, instrumento restante, é notado com mais facilidade. Por meio de sua linha concisa, ele dá corpo ao enredo melódico e, ao mesmo tempo, liberdade para que o vocalista Rod Marenna possa entregar a sua própria visão perante o enredo lírico.
Misturando hard rock com pitadas singelas de rock progressivo, Runnaround se destaca pelo seu frescor, sensualidade e envolvência. Sua imponência, porém, não vem em forma de rebeldia, mas, sim, na forma de um alicerce firme em seu intuito motivacional. Afinal, muito mais do que disseminar a resiliência, a faixa mostra ao ouvinte que a persistência e a determinação são a chave para despertar o autocontrole, a autoconfiança e seu senso de empoderamento de maneira a afugentar a insegurança e mostrar que o horizonte está logo afrente para ser domado pela vivacidade e não mais pela autocomiseração.
