Sami Chohfi - Enemy

Nota do Público 0.00 (0 Votos)

O movimento da guitarra de Tiffany Chohfi e a sua respectiva afinação, não apenas soam como um sussurro ou mesmo como um suspiro de cansaço. Ele vem na forma de um estado de inércia embebido em torpor. Uma experiência sensorial que desafia a lucidez e coloca à prova a alucinação. Ainda que delicada, a melodia desenhada pelo instrumento traz consigo uma postura intimista completamente manipulada pela melancolia.


Sensorialmente fresca, a canção, assim que entra em seu primeiro verso, vai destacando, gradativamente, a sua natureza estrutural baseada no rock alternativo. Enquanto uma voz aguda e levemente doce vinda de Sami Chohfi traz consigo uma postura suplicante, o baixo pulsante e de sabor azedo dominado por Brandon Wolf Gebhardt oferece um lapso de lucidez em meio ao caos e à angústia emocional que, claramente, captura a vivência do personagem lírico.


Sonorizando esse estado de espírito desesperado através de pronúncias verbais embebidas em angústia, o vocalista, durante o refrão, exorta, de uma maneira pungente e visceral, todo o seu medo, sua vulnerabilidade e a sua mais pura fragilidade. É nesse ínterim que, apesar de a levada levemente dançante ofertada pela bateria de Marco Bicca, Enemy acaba funcionando, definitivamente, como uma verdadeira luta entre o consciente e o inconsciente. Um vaivém cenográfico entre sombra e luz. Trevas e redenção.


Bem estruturada em meio a uma mixagem equilibrada, a faixa fornece uma instrumentação vívida e transparente que, consequentemente, é capaz de dar vida a um enredo lírico não apenas urgente, mas necessário, que, em poucas palavras, aborda a questão da saúde mental. No seu âmbito mais profundo, Enemy dialoga sobre aquela voz depreciativa presente na mente de cada indivíduo pronto para dar o bote fatal nos resquícios mais instáveis de autoconfiança, amor-próprio e autovalorização.


Ainda assim, é bonito ver como S. Chohfi faz de Enemy um caminho linear entre o torpor do falso conforto desse estado de canibalismo energético e o enfrentamento consciente, maduro e empoderado que se permite assumir perante o seu próprio inimigo onipresente: a própria mente. É a partir daí que o cantor consegue atrair o ouvinte por fazê-los se sentir emocionalmente representado. Por dar, à sua dor, uma última voz de poder. Por entregar, à sua força interior, o fatal grito de basta.

Compartilhe:

Cadastre-se e recebe as novidades!

* campo obrigatório
Seja o primeiro a comentar
Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.