Pedro Casagrande - Mantras e Devaneios - Vol.2

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 5 (4 Votos)

Poucos meses após o anúncio de Mantras e Devaneios - Vol.1, Pedro Casagrande se reúne ao time de músicos catarinenses formado por nomes como Fantástico Caramelo e Madu e lança Mantras e Devaneios - Vol.2. O EP é o segundo capítulo da empreitada de Casagrande em oferecer tranquilidade e paz aos ouvintes.


O Sol é poente. Sua luz clareia o gramado de uma maneira amena. Os pássaros são vistos em revoadas no horizonte em busca de seus ninhos para passarem a noite. De dentro da casa de onde se vê essa transformação, se sente o cheiro do café fresco esquentando no fogão. A mesa posta com a louça cuidadosamente disposta sugere o carinho e a união daqueles que ali vivem. Esse é o quadro vislumbrado pelas notas aveludadas do violão de Casagrande, as quais, com uma pitada de nostalgia, aquecem o coração com o conforto da lembrança e o aconchego das memórias que ainda serão vividas. Essa sensação de nostalgia presente na melodia desenhada pela sonoridade das cordas violonistas traz a mesma energia oferecida pelas notas da guitarra de Myles Kennedy proferidas durante a introdução de Summergirl, single do The Mayfield Four. O desenrolar de O Lugar assume uma harmonia crescente que, além de criar um clima bucólico, traz consigo uma imersão na estética folk que encanta pela simplicidade. 


O olhar cuidadoso de uma mãe. O toque do carinho materno. A presença segura da figura paterna. O amparo de um pai presente. A sensação de proteção e de amor incondicional é distribuída livremente por entre as notas tranquilas do violão. Sua melodia constrói um quadro de alegria, de risos bobos, de reciprocidade. De família. Aquele momento em que se recebe um abraço apertado, um tapa no ombro, um olhar de aprovação, um sorriso largo. Aquele momento do correr e se atirar nos braços dos avós em um final de semana chuvoso. O conforto. O alento. Felicidade. Isso é Aconchego


Um banco de concreto. Uma pessoa. Cabeça baixa. Uma companhia discreta senta-se ao lado oferecendo o ombro e a envolvendo cuidadosamente entre os braços oferecendo apoio e conforto.  As lágrimas estão caindo, envergonhadas, tímidas de estarem escorrendo pelo rosto de maneira visível para aquele que está ao lado. É então que esse mesmo alguém conforta, reconforta e conversa. A delicadeza, humildade, sabedoria e cuidado de quem se importa. É esse quadro reflexivo que as notas do violão, mais graves e mais tristes, sugerem ao ouvinte em Silêncio Amoroso.


Lágrimas, cores, texturas, cenários. Mantras e Devaneios - Vol.2 não é marcado pela exacerbação de malabarismos melódicos, instrumentais explosivos e crescentes ou por diversas linhas melódicas. Ele é marcado pela simplicidade. A simplicidade resplandecente das noções de humildade, humanidade e sensibilidade de Pedro Casagrande.


O menos é mais. A máxima do chef e cantor Henrique Fogaça enfim encontra quem a siga piamente. Afinal, com um único instrumento, Casagrande desfruta de uma sabedoria saliente em proporcionar diversos sentimentos a partir das notas de violão escolhidas para compor as linhas harmônicas das três faixas do EP.


Alegria, melancolia, nostalgia e tristeza. Conforto, proteção e aconchego. São esses os diferentes sentimentos que abraçam o ouvinte em atmosferas de êxtase sorridente e de uma tranquilidade bucólica.


A tranquilidade e simplicidade são elementos que foram bem administrados na arte de capa. Feita com base em uma foto tirada por Ângela Reck, ela traz, inclusive, a sensação crescente de aconchego e sutileza.


Lançado em 15 de outubro de 2021 de maneira independente, Mantras e Devaneios - Vol.2 é um EP que, como seu antecessor, é autoexplicativo. A paz, a tranquilidade, o amor, o conforto. A simplicidade como prova de que, com pouco, se pode fazer muito mais. 

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1 Comentários

Quanta generosidade e amorosidade nas palavras Diego! Grato pela linda avaliação e por essa leitura poética do Mantras e Devaneios Vol. 2. Me emocionou profundamente ao ler! De coração!

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.