Oliveira - M

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 5 (1 Votos)

Uma onda de lançamentos abraçou a primeira sexta-feira de dezembro. Nomes como Gah Setúbal, Romulo Carvalho, Drowned Men, Karnak Seti e Volbeat escolheram a data para divulgar seus recentes trabalhos. Nessa lista também entra Oliveira, cantor que anuncia M, seu EP de estreia.


Som ambiente. Suspiros, caminhares. A madeira estalando no chão. O dedilhar das cordas de uma guitarra desplugada do amplificador. de Memória é como um interlúdio, uma introdução em medley de de Manhã, uma canção macia e aconchegante. Reconfortante como o prazer de ouvir a água quente sendo despejada sobre o pó de café no bule e tão agradável como estar na presença de familiares e amigos em uma mesa farta de conversa e descontração. Essa ambiência é proporcionada através da sutileza com que as notas do violão são pronunciadas e logo seguidas de uma voz suave e doce. É Oliveira imprimindo delicadeza com falsete e seu timbre ameno cujo conforto sensorial é contagiante. A narrativa de de Manhã acaba sendo um complemento homogêneo e sincronizado dessa ambiência melódica, uma vez que ilustra a delicadeza com que o personagem é acordado e exorta sensibilidade latente vinda do cantor. Com direito a respingos de uma guitarra amplificada representando os raios de Sol mornos da manhã, a canção tem ainda a textura do caxixi enaltecendo os sabores percussivos da canção.


Maciez, conforto, proteção, suavidade. Carinho. A delicadeza com que o riff da guitarra desenha seus traços romancistas é sedutoramente aconchegante. Ao fundo, o corpo sonoro impresso pelo baixo dá uma firmeza precisa na cadência rítmica, mas sem intervir na sutileza da melodia. Mesmo se a camada lírica fosse retirada da canção, já se alcançaria o objetivo de proporcionar sentimentos nostálgicos da figura materna, dos abraços e dos beijos. Quando Oliveira insere a letra, aquele objetivo acaba sendo mais do que alcançado. de Mãe é como uma carta contendo verbetes de uma declaração de amor universal que vale de todos os filhos para todas as mães.


Uma beleza crescente e arrepiante vai tomando fôlegos de uma excitação puramente enérgica. Se em de Mãe a declaração de amor era às mães, aqui a canção possui um lirismo romanceado que busca por uma reciprocidade sentimental baseada na confiança e proteção. Mantendo a doçura e a sutileza padrões que se mostram a essência sonora tanto das obras de Oliveira quanto de M propriamente dito, de Mona é uma canção de cunho puramente romântico que conta com sobreposições vocais sincronicamente executadas no refrão para exaltar a qualidade de um sorriso de canto de boca, um brilho tímido no olhar e os sentimentos de pertencimento e de ser querido por alguém. Assim como a obra Mona Lisa, de Mona traz a paisagem da perfeição e da delicadeza, a forma que um relacionamento regado em amor e paixão deveria ter.


Na estética de um samba misto de MPB, Oliveira traz uma canção recheada em textura que encanta e traz consigo o romance lírico-melódico. No entanto, diferente de de Mona, a presente faixa oferece uma roupagem que beira a discussão entre os amantes, uma conversa com o intuito de recuperar o amor adormecido. Não à toa que a melodia de de Momento traz consigo alguns toques dramáticos que tencionam levemente a experiência do ouvinte com o conteúdo geral da faixa. 


M é simplesmente um EP sensível, doce, macio e aconchegante. Mesmo nos momentos em que inspira tensão, ele consegue trazer essa densidade de forma amena e sem destoar da calmaria entorpecente da melodia que abraça o conteúdo lírico de todas as quatro faixas letradas.


Minimalista em elementos sonoros, o EP tem como principais artifícios sensoriais as notas do violão e o vocal adocicado do nomeado Abner Bruce Oliveira, cuja dicção lembra aquela pronunciada por nomes como Mateus Cortegoso e Gustavo Bertoni. Ainda assim, existem sonoridades percussivas pontuais que conseguem engrandecer a harmonia das canções.


E nesse aspecto, a mixagem de Leo Ramos tem grande responsabilidade. Afinal, foi ela quem resultou em um som maduro e ameno de maneira a capturar toda a essência amorosa, melancólica e nostálgica presente em M. Claro que, no que tange a sintetização da energia, influências rítmicas e da construção melódica as mãos dos produtores Pedro Henrique Robes e Felipe Martins tiveram atuações consideráveis.


Como parte que salta aos olhos e convida o ouvinte a se emaranhar pelo conteúdo do EP, a arte de capa também conseguiu passar todas as emoções experimentadas no decorrer das músicas. Feita por João Nucci, ela traz leveza e delicadeza a partir de um mosaico fotográfico que exorta, principalmente, um forte misto de melancolia e nostalgia, ingredientes dominadoras das camadas de M.


Lançado em 03 de dezembro de 2021 via Rockambole, M é um EP sensitivo, cheio de texturas e que encanta pela delicadeza lírico-melódica. Uma sonoridade que agrada os ouvidos, aquece a alma e conforta o coração.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.