NOTA DO CRÍTICO
Passados três anos desde o lançamento de Anti-Social Butterfly, último disco do grupo estadunidense Blue Helix, o vocalista Sami Chohfi apostou na empreitada de carreira solo. Se distanciando da linha hardrock seguida por sua banda de Seattle, Chohfi chega agora em setembro com Extraordinary World, seu primeiro disco.
Um repique de bateria puxa para uma melódica e singela linha de guitarra. Harmônica e comercialmente grudenta, a introdução de Tidal Wave apresenta, em seguida, uma voz aguda e levemente rouca. De uma levada indie rock, a canção caminha, de verso em verso, para atmosferas acústicas sedutoras e suaves as quais, na companhia do violão, ganham ares nostálgicos que ganham força com a letra que emana mensagens de esperança e incentivo. De outro lado, o refrão possui frases fortes que entregam à canção um status indiscutível de single. Harmônica, melódica e sedutora. Isso é Tidal Wave.
Quem puxa a próxima canção é o violão. De introdução curta, a faixa-título é uma música de energia mais reflexiva calcada em um ambiente rítmico acústico. Apesar de crescer gradativamente em elementos sonoros, a música mantém a finalidade de ser minimalista. Dessa forma, apesar de receber respaldo dos grooves de Jean Dolabella, a estrela da faixa se torna, sem dúvida, a voz de Chohfi.
Mais pra cima que sua antecessora, Dirty Your Soul possui igual métrica comercial. O ritmo e a melodia se conversam de maneira a ficarem perambulando pela mente do ouvinte mesmo depois do término de suas execuções. Com boa marcação e presença do baixo de David Caggiano, a canção segue a linha lírica de transmitir mensagens estimulantes e motivacionais.
De início melancólico, This Majesty, assim como as demais músicas de Extraordinary World, captura o ouvinte com melodia que agrada aos ouvidos e fornece arrepios que caminham pelo corpo involuntariamente. Nos primeiros versos da música, mesmo que sem grandes alardes, a participação de Dolabella entrega ingredientes que engrandecem a canção e criam um compasso sedutor. Isso muda na chegada da ponte. Nela, a bateria ganha destaque e o instrumental fica levemente mais complexo e chiclete.
Talvez a canção de ritmo e instrumental mais completos, Serenade the Darkness é acelerada e levanta o ouvinte. Por outro lado, a melodia do refrão traz na memória do espectador o ponto alto da canção O Astronauta de Mármore, do grupo Nenhum de Nós, por apresentar semelhanças estruturais. De toda a forma, na presente canção, Chohfi inova na construção, inserindo até mesmo linhas de teclado compostas por Caggiano.
Da união do baixo e violão nasceu a introdução de All Over Again, uma música tranquila que apresenta Chohfi mostrando mais de seu alcance vocal. De letra altamente inspiradora, a canção possui uma estrutura rítmica capaz de arrancar arrepios e lágrimas do espectador, o qual se comove e se vê como um personagem da letra. E nesse processo, o baixo tem grande responsabilidade vista a sua precisão.
Dreams of Yesterday segue a mesma estrutura de suas músicas irmãs. Calcada em linhas de violão bem definidas e que servem como base do instrumental, a música tem padrão nostálgico que ganha um embalo singelo desenhado pelos grooves crescentes e apropriados de Dolabella.
It’s Just Me é uma música que entrega uma surpresa agradável ao espectador. Primeira faixa a ser gravada e lançada como um single de Chohfi no início de 2019, a música apresenta metáforas sobre o amadurecimento, aceitação e crescimento. Crescendo em sentimentos positivos ela ganha ares de superação e motivação. Realmente It’s Just Me é uma aula que busca a finalidade de passar a mensagem de, sem mais nem menos, ser quem você é.
Extraordinary World é um disco sentimental. Cheio de ensinamentos, boas energias e envolvente, ele abraça o ouvinte a cada música que segue, independente da duração. Além de ser bem desenhado e amplamente harmônico, sua qualidade rítmica se deve muito aos músicos presentes na obra.
Além dos já citados Chohfi, Dolabella e Caggiano, o álbum conta com a participação do tecladista Douglas Coronel nas faixas Tidal Wave e All Over Again. A competência dos músicos sem dúvida faz de Extraordinary World um disco de qualidade e de um ritmo que agrada a diversos públicos.
Outra coisa que merece atenção é a arte de capa. Desenhada por Alexandre Suplicy, ela passa uma real ideia de mundo extraordinário. Um mundo sombrio, que, apesar de se movimentar rápido, consegue observar o passado e prosseguir na busca por melhorias.
Além disso, a mixagem é outro aspecto importante. De assinatura de Caggiano, ela possibilita ao ouvinte degustar atentamente todos os instrumentos e linhas vocais presentes no álbum. Sem ruídos e nítido, as músicas são claras e aveludadas.
Lançado em 03 de setembro de 2020 de forma independente, o álbum é harmônico, melódico, comercial e amplamente sedutor. Mas acima de tudo, ele é algo necessário para ser consumido em uma época de incertezas e medos como a que está sendo vivida. A boa música é sempre um remédio. E nisso, Extraordinary World se encaixa muito bem.
*Crítica originalmente postada no Allmanaque.