Monsta X - The Dreaming

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Concretizado graças ao programa No.MERCY. Desde 2017, o grupo Monsta X não apenas conquistou a realização de seu álbum de estreia como também lançou um total de oito discos de estúdio. Dessa discografia, o conjunto sul-coreano possui três produtos em coreano, quatro em japonês e um em inglês. Mas para fechar 2021, o sexteto anuncia o sucessor de All About Luv. The Dreaming é o nono álbum de estúdio e o segundo no idioma inglês.


Uma maciez melancólica e doce vai tateando, aos poucos, a pele dos braços. Os pelos, aos poucos, começam a se arrepiar. Não há malabarismo algum. Somente a simplicidade do minimalismo. Ainda assim, é possível se emocionar com os primeiros sonares da melodia em construção. É então que uma voz levemente rouca e com amplos palatos de doçura entra em cena trazendo a linha lírica. Changkyun Im e Hyungwon Chae trazem consigo um sofrimento juvenil que aparenta ser baseado no sentimento de exclusão. No entanto, quando Kihyun Yoo e Jooheon Lee assumem a dianteira lírico-melódica com seus falsetes adocicados, essa dor inicial se mostra resultado de um amor não correspondido. Passado um refrão recheado por um swing amaciado composto pela união Minhyuk Lee, quem puxa o lirismo na segunda estrofe é Hyunwoo Sohn. Sua voz levemente mais grave ainda carrega aquela energia nostálgico-melancólica que domina a atmosfera pop de One Day.


Mais agitada, alegre e contagiante, a melodia inicial já desfila um leque de cores quentes no cenário. A guitarra de David Stewart é o primeiro instrumento a ser inserido nas camadas sonoras e aquele que mostra a imersão em um pop funkeado. Impressão se sustenta a partir do vocal de Kihyun Yoo. No entanto, conforme You Problem vai evoluindo, seu caráter mais pop acaba predominando a partir do canto de Hyungwon Chae e Minhyuk Lee, proporciona uma atmosfera que recria a ambiência de Don't Stop 'till You Get Enough, single de Michael Jackson. Ao mesmo tempo, o tom e a forma como Jooheon Lee e Yoo trazem o falsete remete ao canto de Justin Timberlake. You Problem é uma canção que, por meio de sua levada dançante, traz consigo um lirismo que põe nas mãos da parceira a tarefa de decidir se vai ou não mergulhar no relacionamento romântico com aquele que lhe demonstra interesse.


O som do violão impresso pela programação de Afterhrs e John Ryan e Teddy Geiger traz um movimento diferenciado. São apenas os riffs swingados, macios e com flertes do reggaeton do instrumento ao lado da sincronia de três vocais que se dividem entre tons agridoces, roucos e com sutis falsetes. Com um swing pop típico de boybands como 5 Seconds Of Summer e The Wanted.  Tide To Your Body é uma música que, liricamente, mistura dança, azaração e romance de maneira a recriar uma ambiência de balada juvenil.


A maciez melancólica presente na sonoridade inicial em muito recria a ambiência de Talking To The Moon, single do Bruno Mars. Sons sutis fundidos às notas acidamente doces da programação de KIN. dão a essa melancolia um tom que beira o transcendental enquanto a mescla de timbres roucos, agudos e agridoces dos vocalistas inserem nas camadas sonoras um lirismo sobre solidão e a relação do eu-lírico com sentimentos depressivos que envolvem a verdade do não conhecimento de si próprio. Como Shownu e Kihyun Yoo sugerem sobre a mente, “you’re an actress, a beautiful lie”. Whispers In The Dark é uma canção que, apesar da melodia contagiante, é uma faixa introspectiva e de fato sentimental em que mostra a fragilidade do personagem com relação aos seus ímpetos, aos seus instintos e ao seu inconsciente.


Um universo cítrico e entorpecido começa a se formar. É como proporcionar um cenário que bebe da fonte da sonoridade setentista do ácido, da psicodelia e da new wave. Apesar disso, existe uma cadência macia e melancólica que atrai o ouvinte a partir de sua fluidez. Se mostrando como a balada de The Dreaming, Blame Me é uma canção que possui um beat na métrica pop atual por misturar uma sonoridade eletrônica, algo inserido pelas baquetas de Nir Z. Melodicamente, ainda, é possível notar lampejos de uma guitarra distorcida trazida por Rob McNelley ampliando a dramaticidade ambiente que permeia um lirismo nostálgico de um personagem que, com dores de vazio no peito, se lembra da pessoa por quem se apaixonou e nutria um romance. 


Um pop eletrônico amanhece unido a uma cadência vocal sutilmente acelerada que remete ao rap. Secrets é uma canção que, melodicamente, não possui temperos que engrandecem a conjuntura estrutural da composição, mas possui um lirismo que, em união às linhas encorpadas, pontuais e groovadas do baixo trazido pelos sintetizadores de Iain James e Ben Berger e Ryan McMahon, dá conta de, sozinho, trazer o sabor necessário.. Repleto de uma sensualidade propriamente sexual, a canção relata o puro ato da entrega, do encontro dos corpos, do impulso, do desejo. É uma canção que trata da conexão de duas pessoas machucadas por relacionamentos anteriores e que estão, juntas, se dando outra chance de sentir. Secrets é uma faixa que, aquém dos singles One Day e You Problem, pode claramente entrar na lista de singles lado b de The Dreaming.


O som das palmas e o baixo de Peter Nappi são responsáveis por entregar a base melódica e a cadência de About Last Night. Oferecendo um lirismo que conta a história de um personagem que viveu eventos excessivos em uma noite passada. Porém, é como diz Kihyun Yoo, “God, it feels right being so wrong and I realized all the blurry nights are when I feel alive”. Com trechos melódicos que recriam a ambiência de Meet Me Halfway, single do The Black Eyed Peas, About Last Night traz os excessos, o torpor e a consequente não recordação dos atos como características de uma experiência que permite a sensação da mais pura vivacidade.


O vaivém de uma sonoridade embriagante e submersa causa a sensação de flutuar. Better é uma canção que, pelo canto dos integrantes no pré-refrão, imerge na temática do R&B de maneira sutil, mas perceptível. Com um groove marcante proporcionado pelo baixo, Better é uma canção cujo lirismo traz um enredo em que o personagem principal precisa de outra pessoa para se sentir melhor. O apoio, o auxílio, a ajuda e a paciência. Um personagem que não consegue se ver sozinho, mas que ao mesmo tempo busca alguém omisso e submisso, que acate todos os seus impulsos com paciência. É como a narrativa de um relacionamento abusivo. 


Um coro de cores destoantes e não melódico introduz Blow Your Mind com o verso “I blow your mind”. O som de violão colocado pela programação de Kris Eriksson, por sua vez, assim como em Tide Your Body, traz uma ambiência latina swingada cujo frescor encanta. Passando para um pop aveludado com flertes de R&B, Blow Your Mind é uma canção de lirismo singelo que narra a simples atração de uma pessoa por outra. Os olhares, a fala do corpo, os desejos secretos. Está tudo imerso no ato da conquista. 


As notas da programação de Ben West ao imitarem o piano por si só trazem um tom dramático. Introspectiva e sentimental, a canção caminha por uma melodia minimalista que abraça um lirismo sobre o planejamento, o desejar e o realizar de um sonho. A faixa-título nada mais é do que uma canção que defende a perseverança, o foco, que traz o ato de sonhar como um meio de ter esperança e confiança em si próprio. Abraçar a ideia é como poder tocar o céu.


Quando se ouve The Dreaming se percebe o motivo de o k-pop ser o gênero do momento. Fundindo elementos do rap, do R&B, do pop e até mesmo do soft rock, o álbum impressiona pela sua ampla capacidade de contagiar o ouvinte com melodias-chicletes, envolventes e agradáveis.


Esse aspecto, antes de ser creditado aos seis membros remanescentes do grupo sul-coreano, é primeiramente devido à ampla capacidade e competência de um time de músicos que, além de Z, Davis, Klempner, Stewart, Ryan, Geiger, KIN., McNelley e Nappi é composto por nomes como Yoed Nir, Taylor Wilzbach, Ryan Rabin e Keith Varon.


Em seguida, claro, vem o potencial vocálico dos membros do Monsta X. É nítida a sincronia e a química existente entre todos eles, os quais se dividem entre falsetes, melismas, agudezas, rouquidões e graves. É justamente esse misto de timbres que ajuda a levantar a ambiência melódica das 10 faixas que moldam The Dreaming.


Para soar plural, o disco teve a participação de uma grande equipe de mixagem formada por Michael Freeman, Miles Walker e Jordan Young. Esse som lapidado, equalizado e de qualidade radiofônica é uma etapa póstuma à produção, atividade creditada a nomes como Davis, Klempner, Stewart, Geiger, KIN., Wilzbach, Eshy Gazit, Captain Cuts, Brian Lee, Varon, Eriksson e West. 


Esses profissionais conseguiram sintetizar todas as influências e gêneros musicais de maneira a criarem músicas cativantes que abraçam temas variados como relacionamento, depressão, autoconhecimento e conquista, assuntos muito presentes no dia a dia do público-alvo do k-pop.


Lançado em 10 de dezembro de 2021 via Starship Entertainment, The Dreaming é um disco que, antes de ser k-pop, é R&B, é pop, é funk, é soft rock, é rap. É um disco plural que agrada a todos os públicos com seus lirismos majoritariamente intensos e com suas melodias lapidadas e sensorialmente percebidas.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.