Darren Criss - Masquerade

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Dividindo a carreira de ator e cantor, Darren Criss decidiu dar mais um passo na esfera musical. Se aventurando na carreira solo desde 2010, ano em que anunciou Human, seu disco de estreia, Criss agora lança Masquerade, seu terceiro EP. Trabalho marca o nono ano em que o batizado Darren Everett Criss se encontra longe do Team StarKid.


Em uma escalada de tons, o ouvinte é imerso no universo do soul. Quando o pico da afinação é atingido por essa sobreposição vocal, um ritmo com groove marcante não apenas pelo beat da bateria, mas também pelas linhas do baixo se faz presente. De repente, uma voz em abafada preenche a estrutura melódica com um tom mediano, de canto mole e cadência sutilmente acelerada. É Criss trazendo à tona um lirismo sobre relacionamento abusivo que flerta de maneira extremamente leve com a síndrome de Estocolmo. Na entrada do pré-refrão, a melodia ganha nova tonalidade quando Criss adota o falsete e ocorre a inclusão de notas doces e lineares do piano.  Acompanhando a estrutura musical, é o refrão de F*kn Around que o ouvinte é conquistado de maneira efetiva, pois a melodia encarna um ritmo e sonoridade cativantes tal como o pop pede. 


A introdução de I Can’t Dance segue a mesma estrutura de F*kn Around, com a voz de Criss se mostrando abafada. Porém, aqui existe a inserção da guitarra que, com seu riff alegre e macio, instala toques de soft rock na melodia. Com o despertar do primeiro verso, porém, a canção ganha um tom resultante do blend entre o pop e o eletrônico, cenário em que Criss adota um vocal ainda mais mole que na faixa anterior e o coloca em semelhança com o timbre de Morrissey. Com bateria eletrônica e um teclado de notas aveludadas, lineares e embriagantes, o que o vocalista oferece ao ouvinte é uma canção de lirismo que defende a liberdade, o desejo pela vida, o aproveitar o momento. Claro que existe um apelo por um estilo de vida endinheirado, cheio de viagens, quartos de hotel e baladas. Mas I Can’t Dance realmente não passa de uma faixa destinada para um público jovem em amadurecimento, mas que ainda possui desejos latentes por uma vida de curtição. No que tange a melodia, a faixa recria a realidade setentista e traz forte influência com a música de David Bowie.


Se em I Can’t Dance houve influência de Bowie, em Let’s há a influência do Queen, especialmente com relação à introdução de Bohemian Rhapsody, pois a presente faixa tem despertar bastante semelhante. Assim como em F*kn Around, o baixo entrega forte groove a partir de sua imersão soul, mas mesmo assim, a faixa tem temática pop eletrônica indiscutível principalmente por conta do sintetizador de Lorenz Rhode. No que tange a letra, Let’s segue o caminho de I Can’t Dance ao oferecer um lirismo que se passa não mais na Europa, mas na Califórnia, local onde o personagem procura por um par para viver experiências, energias e ter a adrenalina correndo nas veias por estar vivo em constante festejo e dança por entre as danceterias californianas. 


De voz limpa e aveludada, Criss se utiliza do violão para criar um ambiente mais intimista. Se baseando na métrica voz e violão durante a introdução e o primeiro verso, o vocalista conquista o ouvinte a partir da narrativa de uma história sobre uma noite de amor, de um encontro amoroso. Em Walk Of Shame, mais do que F*kn Around ou mesmo Let’s, existe o soul, mas não apenas pelo estilo de canto adotado pelo vocalista, com falsetes ou melismas, e sim também por conta do ritmo. Romântico, macio e audivelmente confortável, ele consegue fazer com que o ouvinte tenha o tato apurado e consiga sentir cada sentimento vivido pelo eu-lírico durante seu relacionamento. O interessante é que o título da canção é como se fosse um atestado de culpa do personagem por, no amanhecer, deixar seu par antes que este viesse a acordar.


Groovada, sedutora e compassada, For a Night Like This já possui, em sua introdução, um ritmo cativante mesmo sendo calcado na métrica voz-baixo-bateria. Como um perfeito pop, a canção segue com o apelo de liberdade e curtição tão presentes em Masquerade, mas curiosamente, a presente faixa funciona como um hino que carrega todo o desejo da população mundial em reassumir as rédeas da vida, reconquistar a liberdade e voltar a viver intensamente, longe da Covid-19 e da insegurança que por ela é disseminada. Afinal, como Criss mesmo entoa, “it's a brand new day and everyone's invited. So turn the music up!”.  Com um instrumental mais completo, tendo a guitarra uma participação massiva e necessária para a criação de um ambiente que exale uma energia que instigue o ânimo, a canção ainda tem teclado dando sua adocicada pontual no refrão e o baixo trazendo o groove. Por essas razões, For a Night Like This é um single indiscutível do EP.


Melódico, cativante e sedutor. Essas são as três principais definições de Masquerade, um EP que conseguiu unir o pop, o soul, o eletrônico e o soft rock em uma melodia atraente que, ao mesmo tempo em que se posiciona atual, por diversas vezes se inclina para uma temática setentista.


Com influências nítidas de Bowie e Queen, Darren Criss conseguiu unir o espírito da dance music aos anseios tanto dos jovens quanto da população em geral. Afinal, a liberdade e a curtição são os temas que norteiam o lirismo das cinco faixas que preenchem o EP.


Toda essa caracterização foi possível graças à união feita entre a produção de CJ Baran, que conseguiu capturar esse anseio e essas influências, e a mixagem de Michael Freeman, quem fixou na sonoridade os elementos do estímulo, do ânimo e do aproveitar a vida.


A influência de Bowie está presente até mesmo na arte de capa de Masquerade. Afinal, a adoção e a distribuição das cores em tons vivos muito remetem à icônica fotografia estampada em Aladdin Sane, sexto disco do cantor inglês. Além disso, o resultado da capa do EP tem forte apelo LGBTQi+, pois o ato de segurar uma máscara sugere o ato der assumir a verdadeira identidade.


Lançado em 20 de agosto de 2021 via BMG, Masquerade é um EP que, liricamente, entrega ao ouvinte o gosto pela vida. Ritmicamente, é a união dos anos setenta com o pop atual. Visualmente é uma injeção de coragem e autoafirmação.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.