Silk Sonic - An Evening With Silk Sonic

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Aos 36 anos e trilhando uma carreira musical que se iniciou em 2004, Bruno Mars se aposenta momentaneamente de uma trajetória solo de três álbuns de estúdio bem sucedidos e se alia ao cantor Anderson .Paak no projeto Silk Sonic. O duo se anuncia ao mercado com o álbum An Evening With Silk Sonic.


Contagem regressiva. “Who y’all came to see tonight?” é a pergunta entoada em coro por Mars, .Paak e D’Mile no compasso das palmas. É quando o trio questiona “who gon’ get the ladies feelin’ something?” que uma bateria de levada groovada entra em cena trazendo o swing do funk à cena. Nesse momento, existe uma melodia completa em estímulos sonoros a partir de metais, piano e guitarra, os quais criam uma ambiência aveludadamente sensual. Silk Sonic Intro é uma canção que, além de convidar o público a dançar e oferecer uma dose de adrenalina pelo que ainda está por vir, vem acompanhada da participação de Bootsy Collins nos vocais, quem encerra a canção com o convite: “and ladies, don’t be afraid to make your way to the stage for a band that I name Silk Sonic”.


A introdução minimalista executada pela bateria traz à memória do ouvinte a estrutura construída pelo arranjador Gene Page em Never, Never Gonna Give Ya Up, single de Barry White. Apesar dessa inesperada menção à sensualidade, o sexteto de violinos entrega toques dramáticos na melodia introdutória de Leave The Door Open, sensação melancólica que, como um sopro, desaparece do horizonte. Em seu lugar entra um ritmo cadenciado de maneira macia pelos traços sutis e encorpados do baixo de Christopher Brody Brown que caminham alegremente ao lado da guitarra e do teclado de notas pontuais. É esse cenário de romance e conquista que abraça o ouvinte para um universo de calor, sensualidade e atração. Trazendo seu falsete característico, Mars traz em seu diálogo sinceridade quanto ao sentimento de amor por outro alguém e, em uma tentativa de provar isso de forma sexy e ao mesmo tempo romântica, diz que deixará a porta aberta caso “if you tryna lay in these arms”.


Com um swing mais áspero, o que o ouvinte recebe é uma estrutura funk ainda mais latente que aquela executada em Silk Sonic Intro. E nesse quesito, a guitarra tem responsabilidade inquestionável, pois entrega notas de agressividade selvagemente sensuais na melodia introdutória de Fly As Me. Ao mesmo tempo, a bateria acompanha de maneira homogênea a trilha ilustrada pelo instrumento e entrega o groove restante para deixar o ecossistema acaloradamente convidativo e atraente. Cantada majoritariamente por .Paak, a canção é puro suspense de sedução que almeja um amor recíproco. Com seu vocal potente, rouco e característico, Mars situa a personagem para que ela “meet me halfway there”. Fly As Me é uma canção que ainda oferece lampejos de soul a partir do órgão Hammond B3 e que, sensorialmente, é como o calor do Sol aquecendo e amorenando a pele. É como a brisa do mar trazendo o imprevisto e o destino convidando para sair da rotina.


Introspectiva, mas ainda assim, sensual. Uma voz feminina invade a cena com gemidos e suspiros que funcionam como um interlúdio para um devaneio de memórias sobre o que aconteceu na noite anterior. Ainda assim, ela questiona “was it good for you?”. A resposta está intrínseca no baixo de Thundercat que caminha de forma tranquila como se abraçasse calorosamente a personagem. Com o saxofone, trombone e trompete empregados por Kirk Smothers, Kameron Whalum e Marc Franklin, respectivamente, o quesito sensualidade ganha uma crescente vivaz e estimulante. Essa roupagem melódica e macia na estética R&B de After Last Night acaba tendo uma simetria com o lirismo sobre paixão, atração e romance. 


Com ar confuso e até mesmo atordoado, .Paak tenta entender o que aconteceu com o romance. É interessante como, de uma sequência de quatro músicas intensas de romances alegres, recíprocos e sensuais, de repente surge uma música de estética melancólica que aborda o oposto disso. Pode-se dizer que Smoking Out The Window é uma canção de lirismo sertanejo em que a sofrência é um quesito carregado pelo eu-lírico ao se ver trocado pelo ex-companheiro da namorada. E nesse sentido, a canção serve como um desabafo sobre todos os atos feitos, dinheiro investido em joias e roupas para então se encontrar novamente abraçado pela solidão. “How could she do this to me?” é a questão que segue sem resposta.


Os violinos deslizam com velocidade enquanto .Paak introduz o ouvinte para mais uma canção de An Evening With Silk Sonic. A conga é ouvida ao fundo e traz respingos de um ar tropical enquanto Mars desfila tão leve quanto o vento com seus “oohs” em falsete. Enquanto em Smoking Out The Window existe sofrimento e toques de rancor, em Put On A Smile, através de sua melodia dramático-melancólica, existe uma sensação de feliz nostalgia pelo que foi vivido. Uma conformação consciente de que aquilo que se foi representa um capítulo feliz, mas encerrado, na vida.


A guitarra funkeada recria a atmosfera proporcionada por Joe Perry em Walk This Way, single do Aerosmith. Alegre e sensual, a 777 traz um quê de malandragem ao ser ambientada em uma Las Vegas das apostas e jogatinas em cassinos suntuosos. A sorte está em jogo assim como o lifestyle. 


A maciez e a sensualidade retomam o posto com a delicadeza dos violinos pairando sobre uma bateria de frases igualmente serenas. No entanto, o que se segue é uma melodia dançante que se emaranha por entre a temática disco enquanto destaca silhuetas de R&B por entre a melodia. Skate é uma canção com gingado e de exortação à imagem de perfeição da figura que despertou a paixão do eu-lírico. 


O violoncelo de Glenn Fischbach traz um clima narrativo de conto de fadas à melodia introdutória. As explosões da bateria em união com o violino sugerem o instaurar de uma valsa, quando, na verdade, o que acontece é a imersão para um suave e amaciado R&B. Com divisões bem definidas entre os vocais de .Paak e Mars, Blast Off é uma canção que sugere a vivência pós-consumo de produtos alucinógenos. A viagem extraterritorial, a ampliação dos sentidos, a sensação exacerbada de paz e tranquilidade. Com direito a um solo de guitarra ácido e psicodélico proporcionado por Mike Feingold, Blast Off se torna a faixa que convida o ouvinte para uma experiência, no mínimo, extrassensorial.


Romantismo e sensualidade. Sofrimento e melancolia. Conformidade e nostalgia. Esse trio de duplas sensoriais define bem o que é An Evening With Silk Sonic: um híbrido de alegria contagiante e sofrência embriagante. Mais do que isso. O álbum mostra que o duo Bruno Mars e Anderson .Paak tem química não somente pelo parentesco rítmico de suas canções, mas pela sincronia e entrosamento enérgico que são facilmente perceptíveis pelo ouvinte.


Repleto de hits, o disco mostra que o Silk Sonic sabe conduzir uma audiência com músicas que sejam dançantes, alegres, carismáticas e sensuais. Muito disso é graças aos ritmos em evidência entre as nove músicas do álbum, tais como o R&B, o soul, o funk e o disco.


Claro que entre essa exacerbação sorridente existem faixas que estruturam uma atmosfera mais introvertida e triste. Smoking Out The Window e Put On A Smile, no entanto, não são capazes de recriar a melancolia cavalar de canções aclamadas de Bruno Mars como Talking To The Moon, Grenade e It Will Rain


Combinando os falsetes roucos de Mars com o timbre agridocemente áspero e levemente anasalado de .Paak, An Evening With Silk Sonic é um produto que capturou o swing iminente do duo graças à mixagem de Serban Ghenea. Afinal, ele conseguiu somar e casar duas grandes personalidades do R&B atual em um disco que soa fluído.


Lançado em 12 de novembro de 2021 via Atlantic Records, An Evening With Silk Sonic é o puro swing romanceado com toques de sensualidade e melodrama. Um álbum que traz a irreverência de um e a versatilidade do outro. É um trabalho que mostra que não há dúvidas de que o duo Silk Sonic agraciará o mercado com mais lançamentos futuros.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.