Kim Logan & The Silhouettes - Evil

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A guitarra de Martin Zissel, com seu riff entristecido, cansado e decepcionado, é como a representação de um cenário desolado em que pessoas com feições desesperançosas, de olhares petrificados no vazio, vagam sem destino. Rapidamente, uma voz aguda, afinada, com leves toques ácidos vindos de Kim Logan, entra em cena como um personagem narrativo e onipresente desse quadro de essência desumana.


De timbre semelhante ao de Taylor Momsen, ela segue suas linhas líricas entregando bojudas notas de um torpor sem efeito naqueles que por aquelas terras mortas perambulam. Sob uma curiosa interpretação vocal mântrica, quase como uma prece dita em voz alta, ela, despropositadamente, como se regida pelo instinto inconsciente, tenta buscar algum feixe de luz em meio à escuridão.


Com uma estética e uma cadência que remetem a estética folk céltica, Kim encaminha o ouvinte para o encerramento do minimalismo estrutural e o início de algo mais grandioso. Fluindo para um cenário em que o instrumental é apresentado em sua forma completa, suja, densa e levemente sombria, a melodia agora é embebida em um heavy metal ao estilo Black Sabbath com direito a singelos detalhes lo-fis.


Ganhando uma espécie de swing provocador e imponente vindo da forma como Jules Darmon dá vida à bateria, Evil é agraciada por frases de uma embriaguez capaz de romper o sofrimento pegajoso e em cujas camadas melódicas transpiram um hard rock clássico que remete a nomes como Rival Sons e até mesmo Led Zeppelin.


O interessante, nesse ínterim, é observar como o baixo de Alexis Collard se mostra como um item primordial na construção do corpo, da consistência e da precisão melódicas. Com ele, Evil ganha peso e imponência, fatores primordiais para levar a sua mensagem lírica o mais longe possível. Até porque, ela tem senso de urgência.


Tratando do período nebuloso naquele que parece ser o mundo pandêmico e pós-pandêmico, Evil soa como se estivesse provocando os governantes buscando a sua virilidade, a sua força e a sua coragem em se responsabilizar pelo mal que têm causado às suas e às sociedades mundo afora. E nesse processo, a população nunca deixou seus desejos e esperanças se esvaírem. Sempre se manteve imponente e irrequieto na gana de exigir seus direitos a um governo corrompido para o mal.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.