The Pretty Reckless - Death By Rock and Roll

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Desde 2016, uma série de mudanças atingiu a estrutura do The Pretty Reckless. A primeira foi a morte de Chris Cornell por suicídio. E a segunda e talvez mais marcante foi a morte do então produtor do grupo, Kato Khandwala. A partir desses dois acontecimentos nasceu Death By Rock and Roll, o quarto álbum de estúdio do grupo.


Peso e explosão. Heavy metal e hard rock. Essas palavras definem o que é a faixa-título. Quando Taylor Momsen entra em cena com seu vocal rouco, existe a impressão de sensualidade em meio à base rítmica groovada e enérgica. No refrão, há rebeldia e toques de raiva que são exaltados por uma guitarra que grita e se posiciona junto à Taylor que “I wanna go out of my way”.


O peso continua em evidência. Mas em Only Love Can Save Me Now a guitarra de Ben Phillips cria um ambiente mais sombrio em comparação àquele da faxa-título com suas distorções intensas e graves. De refrão pra cima, a música caminha entre trechos em que a letra descreve ambientes obscuros em contraponto a pedidos de socorro por parte do eu-lírico e é aqui que entra o refrão própriamente dito. Afinal, nele fica clara a forma da salvação do personagem, que clama por ajuda.


Uma guitarra raivosa, como se fosse um cão feroz mostrando os dentes cheios de saliva escorrendo por entre seu comprimento, recebe o ouvinte em And So It Went. É verdade que, em sua totalidade, as frases de bateria são simples, mas elas acompanham a guitarra em perfeita harmonia dando um contraponto entre a raiva e o bom senso. Com um vocal áspero, rasgado e reinvindicando justiça, a música comunica com seu refrão “The world does not belongs to you. It belongs to me”. O que deixa a música em um tom ainda mais sujo, pro lado do post grunge é a participação de Tom Morello dividindo espaço com Phillips.


Sombria, dramática e melancólica. Como se o eu-lírico caminhasse para a morte. É assim que a melodia de 25 se apresenta. E nisso, o groove de Jamie Perkins tem grande participação, assim como Taylor, que vem com sua voz mais contida, mas para dentro dando uma ideia de sofrimento velado até a entrada do refrão, momento em que todos os fatores explodem em frases que apresentam sua incredulidade sobre os fatos.  Na ponte, porém, existe uma falsa felicidade na melodia e harmonia, quase como uma morfina temporária que, ao acabar o efeito, volta àquela mesma sensação de impotência.


Em My Bones, Taylor surge com o vocal mais rasgado apresentado até então em Death By Rock and Roll. De melodia crescente, a métrica rítmica é calcada no blues, mas de forma bem sutil. No solo, é possível que alguns ouvintes consigam captar uma singela semelhança entre a melodia apresentada e aquela empregada no solo de For the Greater Good of God, single do Iron Maiden.


Melódica, contagiante. Got So High é uma balada tranquila, sedutora e aconchegante. Um alento em meio a toda a agressividade e raiva trazida nas faixas anteriores que chega até a dar sensações de conforto no ouvinte. De outro lado, assim como aconteceu em My Bones, é possível notar uma semelhança melódica entre a apresentada no refrão da faixa com aquela trazida no ápice de Save Me, single do Remy Zero


Boomsticks se apresenta como uma faixa divisora no disco. Com seus 38 segundos, ela é um respire para o ouvinte se restabelecer e esperar para as próximas músicas que completam Death By Rock and Roll.


Em Witches Burn os riffs de guitarra na introdução informam que a faixa será um produto com flerte no hard rock, causando excitação e uma injeção de ânimo no ouvinte. Mas o que acontece é que essa mesma guitarra fica acompanhando o ouvinte de longe com seus olhos de caçadora e leva o espectador para um ritmo calcado única e exclusivamente no blues. Por 
isso, há sedução, existe groove e tem uma cadência difícil de resistir.


Uma experimentação melódica acontece em Standing at The Wall, em que a estrutura recebe a companhia do som de cordas clássicas acompanhando o vocal e o violão que caminha livremente fazendo hammer on e pull off. Com um vocal mais limpo e aveludado, Taylor imprime uma interpretação visceral para uma letra que trata sobre depressão e menciona eventos anteriores ao suicídio, algo que fica evidente na frase “But I am standing at the wall. Its’ high and I’m small. All alone, there’s no one to cactch me when I fall”.


Em Turning Gold existe a influência da música do Oriente Médio junto com estética sonora do velho oeste. De letra positiva que oferece uma energia contagiante, sedutora e revigorante, a música é majoritariamente montada em uma estética acústica. É verdade, porém, que essa ideia vai ao chão com o refrão, momento em que todos os instrumentos se unem e formam uma melodia de contágio tão grande e cuja harmonia é tão bem estruturada que a faixa é uma música perfeitamente construída nos moldes do rádio. Comercial, mas com assinatura do The Pretty Reckless.


Country blues é o que define Rock and Roll Heaven, uma música de melodia tranquila assim como em Turning Gold e Standing at The Wall. Mas diferente dessa última, a letra é positiva e o ritmo alegre, com flertes no folk e com frases de efeito como “Rock and roll heaven, great gig in the sky” e “Could I make 27 before I die”  emu ma clara alusão ao fato de diversos cantores do rock morrerem aos 27 anos. Mas não apenas isso. Na faixa é possível perceber outra Taylor Momsen, uma jovem mulher de voz doce, amplo alcance vocal e com estilo de canto imerso no jazz e blues. Uma música de alegria e contágio transbordantes.


A gaita é quem puxa a introdução de Harley Darling, uma música que só pelo nome já traz algo de inteligente simplesmente por conter uma rima calcada inteiramente na fonética das duas palavras. Com um ritmo ao estilo country e com boa marcação do baixo de Mark Damon, a música possui semelhanças entre Stand By Me, single de John Lennon. Oferecendo um aconchego, uma sensação de proteção e conforto, a melodia é um mero contraponto a uma letra que traz o eu-lírico visivelmente conversando com a morte e reivindicando as pessoas que foram levadas.


A primeira coisa que precisa ser dita sobre Death By Rock and Roll é que ele foi disco inteligente. O tema da reivindicação, da raiva, do ódio, da incredulidade perante a morte é algo que perambula por todas as 12 faixas.


Porém, a partir de Broomsticks, a melodia sai do ambiente sombrio, agressivo, raivoso e mórbido por onde as músicas anteriores caminharam e até por onde o The Pretty Reckless se consagrou em Going to Hell e se encontra em uma estrutura mais branda, leve, contagiante  e alegre. Mas, como foi dito antes, a morte também está nessas melodias, apenas acompanhada por outra roupagem.


E justamente no que tange a melodia e a harmonia, Death By Rock and Roll pode ser considerado uma fusão entre Going to Hell e Who You Seeling For. Afinal, os discos visitam ambientes completamente diferentes que se encontram no trabalho atual da banda. Talvez esse seja um mérito do produtor Jonathan Wyman em canalizar todo esse desgosto e oferecer a ele novas sonoridades.


Por conta disso, a arte de capa não poderia retratar outra coisa. Nela, Taylor Momsen se encontra deitada nua sob uma lápide numa clara alusão entre o nascimento e a morte. Uma nítida busca por respostas e, consequentemente, por explicações.


Lançado em 12 de fevereiro de 2021 via Century Media Records, Death By Rock and Roll soa maduro, sombrio e experimental. Para os antigos fãs, uma surpresa. Para os novos, um convite. Como um todo, nem assinatura lírica e nem a assinatura harmonico-melódica do The Pretty Reckless foram esquecidas. Apenas entrarem em ambientes diferentes na busca por respostas por algo que nunca será esclarecido.



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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.