A guitarra surge em um riff fresco, mas curiosamente já informando certos requintes de melancolia. De base melódica agradavelmente esotérica desenhada pelo sintetizador, a introdução assume uma atmosfera espiritual, quase transcendental. Ainda assim, o que salta aos ouvidos é a sua energia cabisbaixa e contagiantemente entristecida.
Tal impressão, reforçada por um vocalista de timbre adocicado em cuja interpretação destaca o teor cabisbaixo da canção, se torna algo concreto a partir do sofrimento extravasado pelo cantor. Contudo, conforme a canção vai crescendo em elementos, como a entrada do baixo dando corpo e base para o contexto rítmico-melódico, e a bateria de Colin Humphrey entregando consistência, a obra acaba por assumir uma silhueta curiosamente adorável em sua estética indie rock.
Sob um ápice explosivo e visceral, o The Morning People faz de Piloto uma canção que destaca um indivíduo inconstante e incerto de seus desejos. Uma insegurança capaz de danificar um relacionamento recíproco que tinha tudo para ser duradouro e fiel. É exatamente aí que existe o sofrimento. Um sofrimento de decepção, de lamentação. E o que chama mais atenção é que o lirismo é estruturado na língua materna no grupo, o espanhol. Tal atitude mostra certo grau de ousadia admirável por não ceder ao autoritarismo do inglês.