Azato - Ism And Schism

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O repique ressonar pela caixa da bateria de John “Thunder” Allen já comunica certo grau de swing. Sem demora, o time de metais formado por saxofone e trombone introduzido por Garrett Kobsef e Balboa Becker, respectivamente, entra em cena com sua típica maciez reavivante, enquanto o órgão B3 de Alex “Al Licks" Somerville vai fornecendo uma base aveludadamente ácida e quase espiritual. Assim que a verdadeira introdução tem seu início, o ouvinte é levado a uma profunda embriaguez de um afofar swingado densamente tropical que, sem qualquer dificuldade, comunica o mergulho estético na roupagem do reggae.


Com sua movimentação rítmico-melódica típica e baixo marcante, a canção dá passagem para que uma voz de timbre suave e levemente grave comece a desenhar o quadro que consiste no enredo lírico. Sob uma cadência quase falada, Azato é, por vezes, acompanhados por um backing vocal formado por James McWhinney e Lindsey “LJ" Wells, que auxiliam, mesmo que pontualmente, na amplitude harmônica.


De refrão organicamente contagiante em sua essência serena, Ism And Schism recebe, graciosamente, a companhia de Kumar também na construção das linhas líricas. De timbre ligeiramente mais grave, o cantor jamaicano usa sua contribuição para pincelar sua base de canto R&B a partir de melismas bem executados que dão uma noção de movimento mais amaciado também no lirismo. 


Curiosa e propositadamente, Azato se usa dessa estética macia para suavizar a seriedade do tema lírico, ainda que sua importância não seja, em hipótese alguma, diminuída. Urgente e atual, a obra chama o ouvinte para tratar de um dos maiores tabus sociais: o racismo. Negado, subjugado e, até mesmo, debochado por uma vasta parcela populacional, esse ato, apesar de viver na marginalidade, ainda existe e é observado sem qualquer filtro.


Nesse intuito, Azato faz de Ism And Schism um chamado para a sociedade parar de brigar em virtude da cor da pele. Usa a canção como um método para incentivar o senso de igualdade, estancar o preconceito cultural e a fazer as pessoas enxergarem a essência de cada um. De maneira inteligente, até mesmo o nome da canção já tem um viés transparente que já informa essa temática. Afinal, nela o cantor brinca com o sufixo das palavras que denotam o ato do preconceito. Parafraseando o próprio nas suas mais significativas frases de ordem: “let’s love one another!”, “love where there’s hatred!”, “freedom where there’s slavery!” e “peace, where there’s fighting”.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.