TC Tenet - Breakaway

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Outro nome está chegando ao universo musical global. Após lançar uma série de singles ao longo de 2023, o músico TC Tenet se dispôs a fazer um grande salto em sua carreira. Próximo ao fim do primeiro mês a compor o último trimestre de 2024, ele enfim anuncia Breakaway, seu EP de estreia.


Enquanto uma guitarra em distorção estridente comandada por TC Tenet surge rasgando a atmosfera, o ouvinte acaba identificando, sem qualquer dificuldade, um sonar chacoalhante na base rítmica já dando uma noção de cadência. Assim que mergulha em uma segunda metade introdutória, não apenas a canção fica com uma postura mais sexy pela entrada do baixo em seu groove consistente se movimentando de maneira linear, mas há em seu novo aroma requintes de uma jovem década de oitenta ainda com resquícios de uma new wave setentista. Fornecendo uma breve familiaridade estética para com White Wedding, single de Billy Idol, a obra, enquanto é mantida por uma percussão linear estruturada pela bateria de Nate Barnes, consegue, sem dificuldade, fornecer ao espectador a percepção da fusão entre uma espécie de southern rock elétrico com hard rock e pitadas extremamente tímidas de uma já citada new wave. Do momento em que entra em seu primeiro verso e passa a ter seus versos líricos desenhados por uma voz masculina de timbre sutilmente adocicado, o ambiente se transforma. Por meio da maneira com que Tenet, agora no comando do microfone, pronuncia as palavras que dão vida ao seu enredo verbal, a faixa adquire um tom debochado cheio de ironia. Cada vez mais provocante em sua veia estética sensual, The Guru convida o ouvinte a se embrenhar por uma narrativa que trata a maneira irritante  com que os gurus da internet surgem por meio de pop ups nas redes sociais oferecendo soluções para os mais diferentes tipos de problemas sugeridos pelos internautas. É aí que a canção evidencia o estado avançado de futilidade e de dependência que a sociedade atual se encontra.


A maneira como a bateria se movimenta em meio a golpes secos que surgem de maneira levemente crescente faz com que o ouvinte rememore, mesmo que vagamente, a introdução de TNT, single do AC/DC. Rapidamente, porém, essa percepção se esvai, conforme a guitarra entra em cena e torna o ambiente solar com uma noção de embrionário excitação enérgica. Recebendo, por entre golpes consistentes uníssonos entre bateria e guitarra, a excêntrica acidez adocicada do sonar do wurlitzer por meio do teclado, a canção vai destacando um cenário hard rock iminente. Surpreendentemente, o que se tem a partir da entrada do primeiro verso é uma fluidez estrutural para uma espécie de rock alternativo oitentista. Ainda assim, a canção é embebida, sim, em uma paisagem de estética hard rock folkeado setentista que muito traz de referência a essência sonora do Greta Van Fleet e de seu precursor-mater Led Zeppelin. Sensual e ligeiramente pegajosa, Animals é uma faixa que expõe o senso exacerbado de ganância da sociedade atual, ao mesmo tempo em que parece relacionar esse fato com a corja do conglomerado político. Censura e ignorância são fatores aqui presentes de maneira intrínseca para mostrar como a manipulação funciona apagando o simples desejo de resistência e liberdade.


Diferente das canções anteriores, a introdução, aqui, é regida por um dulçor aconchegante e com agradável aroma bucólico. Nesse processo, o baixo, que entra em cena por meio de um rugido bojudo, acaba tendo grande valia pelo simples fato de que ele insere, mesmo que despretensiosamente, noções de folk na receita estética. Se mantendo sob uma veia acústica, a canção flui para um primeiro verso em que a atmosfera se transforma em algo pegajosamente entorpecente em sua essência agora dramática. Tendo a bateria assumido uma levada desenhada de forma a soar como uma marcha fúnebre e a maneira com que Tenet interpreta o lirismo que se configura como um acesso reflexivo embebido em questionamentos sem resposta, a faixa-título extravasa, simplesmente, a necessidade urgente de união e de um abrupto encerramento da intolerância. Em meio a um mundo separatista imerso em um buraco negro de violência, guerras e opressão, levantes em prol de objetivos como esse são como bálsamos. Como oasis no meio de um deserto. Não é de se espantar que o violoncelo de Emanuel Pavon consiga não apenas representar as lágrimas, mas os olhares de angústia e agonia em vista da incerteza do amanhã.


Seu início, puxado inteiramente pela solidão do piano, traz consigo uma tristeza, uma melancolia pegajosa. Dramática, mas curiosamente capaz de configurar agradáveis toques de dulçor e delicadeza, a canção assume uma postura entorpecente e denotativamente introspectiva a partir do início do desenvolvimento das linhas líricas. A partir da interpretação assumida por Tenet, não apenas um senso desmedido de embriaguez é sentido pelo ouvinte, mas também um curioso estado de melancolia. Por meio de uma ambiência etérea que flerta com uma paisagem atmosférica, a canção recebe sonares de violinos inseridos pelo sintetizador que ampliam seu clima dramático e lacrimal. Com essa paisagem que consegue até mesmo soar visceral no momento em que o instrumental entra em uma valsa intensa uníssona que conta com o baixo de Gustavo Panis fornecendo uma rígida base melódica, Let It Shine é, simplesmente, uma canção sobre superação. Um processo denso que pede, acima de tudo, maturidade emocional para conseguir erguer a cabeça e seguir sem qualquer tipo de dor ou ressentimento em relação ao passado.


A new wave, enfim, garante seu protagonismo estético na presente introdução por meio da nova contribuição do sintetizador. Consequentemente mergulhando em uma paisagem de sonares sintéticos que evocam uma atmosfera embrionariamente dançante, a canção, surpreendentemente, flui para um cenário completamente diferente. Fresco, mas ao mesmo tempo gélido em sua melancolia curiosamente sensual, o novo terreno é regido por uma interessante fluidez rígida proporcionada pela união entre o baixo bojudo e a bateria de postura amaciada. Por meio da maneira como Tenet introduz as linhas líricas é possível e ao mesmo tempo interessante notar como a canção consegue assumir, mesmo que brevemente, silhuetas britpops e rock alternativo noventistas. Conforme se desenvolve, a canção, inclusive, consegue soar sombria, mas, também, romper esse senso com menções harmônicas tocantes que sugerem esperança. Take It All é uma canção de cunho lírico delicado por tratar da depressão, um tema socialmente posto como tabu. Nesse diálogo, Tenet visa mostrar para o ouvinte que, independente do momento que estiver atravessando, se a vida estiver difícil, há, dentro de cada indivíduo, uma força para a qual se apoiar para conseguir superar a dor e seguir a vida de cabeça erguida. 


Breakaway é um EP que, acima de tudo, destaca não apenas a musicalidade, mas, sim, a sensibilidade de TC Tenet. Como um material experimental que caminha por diferentes e aparentemente intangíveis campos musicais, o produto traz uma coleção de cinco faixas que prova o contrário graças ao apoio de músicos e uma equipe técnica competentes. 


Mergulhando profundamente em temas sociais e psicológicos, Breakaway propõe um afastamento da zona de conforto de pensamento para abrir a mente e ser aberto a novas propostas, sejam elas comportamentais ou não. Um EP que convida a refletir sobre futilidade, impunidade e opressão, mas que também é capaz de olhar para dentro do ser. Para onde os olhos não chegam, mas as emoções alcançam.


É aí que Tenet, com toda a sua delicadeza e gentileza caminha por terrenos que tratam de superação no que tange tanto o âmbito do relacionamento quanto o individual. Não é à toa que, nesse ínterim, o ouvinte se depara em vários momentos que Breakaway se envereda por paisagens atmosfericamente melancólicas.


Para conseguir comunicar tais mensagens de maneira enfática, mas sem se perder perante a seriedade de tais temas e tornar o EP algo rígido e sério, Tenet contou com o apoio de Al Scott na engenharia de mixagem. Por meio do profissional, o EP conseguiu adquirir uma sonoridade madura, mas ao mesmo tempo leve e até mesmo etérea em alguns momentos, graças à mistura bem sincronizada entre o rock alternativo, a new wave, o folk, o hard rock e o southern rock.


Fechando o escopo técnico de Breakaway, vem a arte de capa. Assinada por Anze Ban V, ela traz o busto de TC Tenet em evidência sob visto em primeiro plano. Contudo, sua aparência se percebe desbotada em virtude da adoção de um tom azulado que circunda toda a arte. Com isso, existe, aqui, um tom que mistura noções de renascimento associadas diretamente com o tempo de forma a evocar um senso desmedido de melancolia com traços curiosos de esperança.


Lançado em 24 de outubro de 2024 de maneira independente, Breakaway é um EP sensorial que busca convidar o ouvinte a se despir de conceitos preconcebidos e discutir sobre assuntos não muito colocados em pauta. Um material em que sensibilidade tangencia com musicalidade e a sensualidade, com generosidade. Acima de tudo, aqui é onde TC Tenet expõe seu modo de ver o mundo sem qualquer tipo de filtro.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.