Don’t Tell John - Grandad

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A guitarra vem com um riff distorcido grave, sujo. Ao lado do baixo, que se apresenta de forma grave e ressonante, a atmosfera assume curiosos e marcantes contornos de doom pela sua cadência. Cooperando com esse detalhe, a bateria, elemento que domina a base rítmica, surge com uma levada lenta, mas de notável precisão.


Sensual em meio ao entrosamento instrumental denso, o blues aqui se percebe fundido a elementos estruturais do soul, mas também com requintes singelos de post-grunge. Surpreendentemente, como um raio que corta a escuridão da noite com seu clarão espectral, uma voz feminina de timbre grave surge por entre versos monossilábicos experimentando diferentes extensões vocais e brincando com sua potência.


Entre ligeiros melismas que lhe conferem uma espécie de sensualidade provocante, seus gritos de ousadia extravasam seu contralto ao ponto de criar uma agradável semelhança para com o timbre de Cássia Eller. Ainda que em uma espécie de jam session unilateral, a cantora traz consigo uma inquestionável influência sofrida de Big Mama, com suas interpretações líricas quase teatrais.


Dessa forma, como em uma escada, a cantora acaba, também, apresentando semelhanças de canto em relação à Janis Joplin, outra vocalista musical influenciada pela cantora célebre na seara do blues e R&B. Imprimindo visceralidade, intensidade e entrega em sua movimentação interpretativa mergulhada profundamente em uma interessante mescla de blues e soul, a cantora é o elemento de destaque inquestionável frente a banda, que executa uma cama que se matura em uma linearidade essencialmente blues. Com auxílio dos backing vocals uivantes, ainda, Grandad garante para si uma ligeira harmonia adocicada que contrapõe a atmosfera doom-blues da canção. Uma obra perigosamente ardente.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.