Spitfire Demons - Death From Above

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Com três anos de idade, o trio paulistano Spitfire Demons coleciona dois produtos em seu catálogo musical. Dentre eles, o mais jovem é o EP nomeado Death From Above, que apesar de suceder o anúncio de um single, é o trabalho de estreia do power trio no mercado musical e fonográfico brasileiro.


Uma guitarra de riff grave e levemente acelerado vai rompendo a calmaria do amanhecer. Sua afinação comunica logo de início um misto de rockabilly e blues rock com pitadas de post-grunge. No entanto, quando a bateria de Alan Rat Skates entra em cena, a canção em um ambiente heavy metal que flerta com a sonoridade do Black Sabbath até o momento em que se ouve um grito rasgado. Com seu timbre agudo tal como o de Rob Halford, Maniac Biffs acaba introduzindo o ouvinte para uma segunda etapa introdutória que é guiada por um hardcore de paisagem levemente californiana. Evil Rider é uma canção enérgica que já coloca o ouvinte a participar de rodas Mosh.


Ainda mais californiana que Evil Rider, He Never Dies traz um parentesco melódico com a sonoridade de Bad Religion. Acelerado e sujo, o hardcore oferecido aqui traz um menu linear que oferece protagonismos repentinos ao baixo de Biffs, o que acontece sempre nas pontes de um verso a outro. Em meio a flertes com o som construído pelo Sex Pistols, em especial à faixa God Save The Queen


Uma nova roupagem se apresenta. Ao invés da agressão áspera, existe na guitarra de Alex From Hell um misto de hard rock com blues rock. Apesar de a bateria prosseguir com o groove hardcore e abraçar referências ao Motörhead, a canção possui um swing diferenciado e selvagem. Mas não só isso. Além do power trio inglês, Losing Control possui uma identidade melódica aparentemente construída também a partir da fusão de Jaded e Geek Stink Breath, singles do Green Day. Contando uma história cômica de uma má memória de eventos passados, algo que é uma clara referência ao enredo da trilogia de Se Beber, Não Case!, a letra é recheada de rimas imperfeitas assonantes que proporcionam uma atração mais fluída por parte do ouvinte, que se vê fisgado pela narrativa e energizado pela melodia.


A bateria surge com um groove misto de hardcore e pop punk com extrema velocidade. O que se forma é um mergulho em uma sonoridade levemente azeda, mas com os ingredientes que a fazem hardcore. Com rispidez, agressividade e riffs distorcidamente graves, a guitarra proporciona à canção contornos metalizados que enaltecem o sabor da família do subgênero punk. One-Way Ticket To Hell possui um lirismo que facilmente poderia ser incluído no catálogo do AC/DC em sua era Bon Scott. Afinal, aqui o eu-lírico exorta a influência do rock na vida, algo que beira o impulso, o enérgico, a ânsia, além de brincar com a falsa ideia do senso comum de que rock é música do demônio. 


Uníssono acelerado que, assim como em One-Way Ticket To Hell, mistura elementos do pop punk com o hardcore. Com um pré-refrão crescente, enérgico e estimulante que ainda tem a participação de from Hell nos backing vocals para dar ênfase nas frases cantadas, Spitfire Demons é uma música que enaltece e descreve a postura e a persona do power trio paulistano. A faixa possui ainda um tempero extra que, apesar de parecer desconexo, cria um espécie de desarmonia proposital que serve como um enaltecedor do sabor hardcore. Esse tempero é o solo de from Hell cuja estrutura é construída na base do rockabilly. Uma dissonância desarmônico-melódica surpreendente.


Apesar de lançado há pouco mais de um ano, Death From Above continua sendo um importante cartão de visita do Spitfire Demons. Afinal, ele mostra ousadia pelo gênero adotado e pelo idioma inglês, experimentação, o cômico e uma desenvoltura com que os integrantes caminham por entre terrenos distintos.


Esses terrenos, no EP, não possuem fronteiras irrompíveis. Tanto que existe a harmonização do hardcore, o gênero base das composições, com estilos como o punk rock, o pop punk, o blues rock, o rockabilly, o post-grunge e o heavy metal. Nessa mistura é fácil perceber as influências de vindas de nomes ainda não citados como Ramones, The Offspring, Iron Maiden e Judas Priest.


E o mérito para que o ouvinte consiga identificar tais influências está na liberdade de produção, algo que foi feito pelo próprio power trio, mas também no tratamento de som feito por Rogério Wecko. Ele conseguiu, a partir da mixagem, imprimir a sujeira e a astúcia dos integrantes em um mesmo recipiente. O resultado disso é Death From Above, um EP áspero sem ser sombrio.


No entanto, a arte de capa traz notas de um sombrio repugnante. Feita por Alan Mazzoni, ela digere uma influência direta das obras feitas por Derek Riggs, em especial o Eddie, mascote do Iron Maiden. Afinal, ela traz uma espécie de corpo em decomposição em um avião de guerra a uma clara alusão aos kamikazes.


Lançado em 20 de janeiro de 2020 de forma independente, Death From Above é o hardcore repaginado ou o pop punk metalizado. O fato é que o Spitfire Demons conseguiu ser transparente e mostrar que sua praia não é meramente o asfalto, mas sim bagunçar o conservadorismo musical.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.