Iron Maiden - Senjutsu

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Levaram cinco anos para que o Iron Maiden se reunisse novamente em estúdio para preparar um novo trabalho. O fato é que o sucessor de The Final Frontier foi enfim anunciado em 2015 com boa receptividade. Desde então, o nomeado The Book of Souls manteve o grupo inglês na estrada até o presente momento, quando, durante a pandemia, iniciou-se, no estúdio Guillaume Tell, na França, a preparação de um novo capítulo. De nacionalidade francesa, veio ao mundo Senjutsu, o 17º disco do sexteto.


Como um susto, surge um instrumental rápido, mas não agressivo explode o ambiente. Com as três guitarras em uníssono criando um riff que mistura elementos do hard rock com thrash, a canção ganha uma aceleração latente, mas não chega a atingir o campo do speed metal. Com um repique característico, Nicko McBrain introduz o ouvinte para o que se pode chamar de introdução do primeiro verso com frases compassadas e cadenciadas. Ao passo que Janick Gers prossegue com o riff acelerado, Dave Murray e Adrian Smith fazem sobreposições em tons mais aveludados que sutilmente recordam a estrutura sonora adotada por Paul Gilbert no Mr. Big. Porém, é quando McBrain golpeia a bateria de maneira rápida e sequencial que, enfim, o primeiro verso tem seu despertar. Ainda mais acelerado que a introdução, esse trecho é baseado em uma base hardcore que recicla a sonoridade adotada pelo Iron Maiden durante seu álbum autointitulado e Killers. Entrando sem aquecimento, Bruce Dickinson emprega seu vocal potente cujas altas extensões já são empregadas nas primeiras notas do canto. Com frases de efeito como “rejection’s not fare” e “they always respect the enemy”, Dickinson é acompanhado ao fundo pelo baixo encorpado de Steve Harris que se sobressai em momentos oportunos na melodia do pré-refrão. Assumindo contornos épico-dramáticos, o refrão da faixa-título é potente e segue com frases líricas de efeito como “fight the fury until we die, close enough to sacrifice”. E com um grito de ordem, a velocidade, a cadência e os riffs em uníssono retomam a cena. A faixa-título é uma boa forma de apresentar Senjutsu ao público, pois ao mesmo tempo que recria a sonoridade de origem do Iron Maiden e traz um tema lírico que mistura questões socio-comportamentais e bélicas, a faixa apresenta um trio de guitarras afiado, um baixo groovado, uma bateria precisa e cadenciada e um vocal visceral e potente.


É como se, a frente dos seus olhos, o ouvinte visse um cenário caótico. Essa sensação não é causada pela agressividade com que os instrumentos se pronunciam, e sim pela combinação sonora. Aqui, é a bateria de Nicko McBrain que, com golpe duplo, desperta Stratego, uma música que logo de início apresenta presença maciça e marcante das linhas do baixo em compasso sequencial e groovado. Ao seu lado, as guitarras de Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers criam uma melodia semelhante àquela empregada por Roger Fisher em Barracuda, single do Heart, fazendo com que Stratego seja uma faixa expoente do hard rock. Acompanhando esse cenário, existe ainda um sobrevoo de notas entorpecidamente doces do teclado de Steve Harris que enaltece um ar dramático à canção. Quando ocorre a entrada do vocal, ele se mostra em tom introspectivo, como um narrador contando histórias mistas de guerra e ação. O que Dickinson traz aqui é um lirismo que oferece um tema que mistura dois temas em perfeito equilíbrio: guerra e religião. Existe nela, inclusive, pitadas políticas, afinal, o eu-lírico se encontra em um desespero interno frente às guerras desenfreadas e a necessidade de se mostrar diferente e não corrompido pelos interesses dos líderes políticos de seu país . E é aqui que ele clama para que essa observação seja capturada quando diz “I have not a mortal soul that you already know. Look at my eyes, there’s no surprise!”. Ao mesmo tempo, o personagem pede para que seja liberto de uma realidade cercada de culpa e remorso por atos passados. Quando diz “Hear me listen my call, I am ready to fall! Lord hear me no, let me go” é como se ele estivesse clamando por uma morte como forma de redenção. Por esses versos líricos, Stratego parece ser uma música em que o lirismo é baseado no diálogo direto de um soldado com Deus. Apesar de os vocais de Dickinson se mostrarem fortes e potentes, como um todo a melodia é emaranhada por um lamento e sofrimento que ficam evidentes tanto no pré-refrão quanto no refrão. No entanto, o trecho que mais chama atenção é na transição entre o solo e a ponte. Afinal, aqui o instrumental atinge o ápice da dramaticidade, com o teclado tomando a dianteira e a guitarra se rebelando no plano de fundo por entre gritos de suplica. Definitivamente, Stratego é um produto épico-dramático resultado da fusão de The Trooper e Where Eagles Dare.


O vento, a poeira, o Sol incandescente. Essa é a imagem que se forma perante os olhos do ouvinte a partir das notas dedilhadas do violão, as quais criam uma atmosfera sonora folk que é mantida por uma estrutura sonora unilateral até que, com a entrada dos riffs da guitarra, começa a respirar um oxigênio mais complexo. A partir do momento em que o groove de Nicko McBrain entra em cena, a canção assume contornos countrys cuja cadência se torna cativante. Nas frases que servem como uma divisória entre os dois trechos introdutórios, existe um uníssono em que, apesar da presença das três guitarras, é a linha do baixo de Steve Harris que oferece um tempero que enaltece o sabor geral da melodia até então formada. No entanto, o ouvinte é surpreendido quando, no despertar da nova introdução, The Writing On The Wall assume estrutura que mistura o country com um blues rock que muito se assemelha à melodia formada em Feel Like Makin’ Love, single do Bad Company. É nesse momento em que o vocal preenche a melodia. Mostrando sinais da idade, Dickinson ainda segue com uma considerável força em seu timbre vocal, o qual traz um lirismo com forte apelo político, guerrilheiro e social respeitando as abordagens assumidas pelo Iron Maiden. Como um narrador, Dickinson questiona o abismo que divide a riqueza da miséria e a ordem da desordem ao mesmo tempo em que prevê a chegada da mudança e critica a cegueira psicológica daqueles que a negam. No que ainda tange a melodia, o solo é o momento em que o ouvinte se sente agraciado por um som padrão Maiden. Afinal, as guitarras entoam um uníssono melódico que recria a roupagem de For The Greater Good Of God, faixa de A Matter Of Life And Death. Como um todo, The Writing On The Wall é uma música orgânica, sem filtro e fora da zona de conforto do sexteto inglês.


Entorpecente, reflexiva, triste. A união da melodia construída entre teclado, guitarra e vocal cria uma atmosfera melancólica que contamina a energia do ouvinte até então posta em excitação com The Writing On The Wall, uma música que, desde o início, trouxe uma estrutura sonora enérgica. Por meio de ecos no encerramento de cada frase cantada, Dickinson oferece um sentimento fortemente nostálgico e saudosista ao ouvinte, que inconscientemente se vê revivendo memórias há tempos inacessadas. De repente, Nicko McBrain muda por completo esse ecossistema nostálgico-melancólico ao introduzir uma ponte cujo baixo de linhas graves e a guitarra de riffs distorcidos se unem em um compasso que funciona como injeção de adrenalina por inserir, na melodia, ingredientes hard rock metalizados cheios de groove e precisão. Eis que, no despertar da segunda estrofe, o verso “the people worshiping the sun and the children point up to the sky.  They see the eagles as it floats on the wind and they follow with their spirits high” indica um forte desejo por mudança, por transformação, algo que caminha, no lirismo total de Lost in a Lost World, com questões inerentes à tradição. É como se o que é tido como conservador estivesse encontrando seu limite, para enfim dar passagem a um cenário mais liberal. 


Uma explosão uníssona dramático-melódica se forma. Por entre as guitarras cujos riffs funcionam como lágrimas escorrendo na melodia, o teclado é o fator-chave para a estruturação de um sentimento sofrido e lamentoso. Esse misto de emoções tristes é rapidamente esquecidos quando a introdução é passada para o primeiro verso. Afinal, essa ponte se apresenta com um riff de guitarra levemente sujo e de levada alternativa, o que, por sua vez, recria a atmosfera introdutória de Everlong, single do Foo Fighters. No entanto, quando Dickinson entra em cena, o fator emocional é retomado com presença exuberante a partir de uma interpretação lírica sentimental rodeada de frases de impacto, a exemplo de “waiting for the judgement, but the judgement never ends”, que encerra o refrão e os versos “once crucified you forgave it all, but my own life condemned to fall” e “where’s the glory in your name? My twisted soul still burns in flame” que preenchem o início da segunda estrofe. Assim como a faixa-título, Days Of Future Past tem um lirismo que abriga forte análise reflexivo-social, mas, diferente da anterior, esta traz, ainda, uma fusão com religião no que tange a crença na evolução do homem.


À frente do ouvinte, a noite. Uma noite invadida pela neblina, criando uma atmosfera de insegurança e solidão. Situação é criada por conta da fusão de um som eletrônico com o riff espaçado e reflexivo da guitarra, uma conjuntura que cria uma sonoridade que, como um piscar de olhos, se assemelha com a introdução de Elasticity, single de Serj Tankian. Por isso, assim como aconteceu em The Writing On The Wall, muitos ouvintes assíduos do sexteto podem ficar estranhados com o som criado na introdução de The Time Machine, pois ela foge do que é estipulado ‘padrão Maiden’. Conforme a melodia vai se desenvolvendo, uma segunda guitarra surge em tom mais macio e assume a forma de uma brisa que sobrevoa o cenário como a luz do Sol em um amanhecer pós-batalha. E é quando o som desse sopro macio da guitarra vai sumindo gradativamente que o ouvinte fica tenso e ao mesmo tempo com expectativa em saber como será o primeiro verso. De repente, entra um riff áspero, agressivo e sutilmente acelerado da guitarra base. É só com os golpes secos da bateria que se percebe a imersão profunda no campo sonoro do thrash metal. Curiosamente, o trio de guitarristas do sexteto conseguiu produzir uma melodia que se afasta de ícones do subgênero como Metallica e o Megadeth, sendo que o principal artifício-diferenciador é a desenvoltura adotada por Nicko McBrain na bateria. Afinal, as frases em tempo triplo e quadruplo em união aos vários repiques dão à The Time Machine uma cadência diferenciada. Na ponte para o refrão, é Steve Harris o protagonista absoluto, pois as linhas do baixo, cuja afinação se apresenta no típico padrão Maiden, amplificam, em união aos suspiros ásperos da guitarra, o suspense instaurado na introdução. O fato é que o Iron Maiden se superou ao mergulhar em um universo longe da sua zona de conforto sonora que se divide entre o heavy metal e o hard rock. Afinal, apesar de esmagadora e majoritariamente thrash metal, o instrumental The Time Machine ainda apresenta pinceladas de metal e punk, além do power metal em algumas frases.


Gaivotas e ondas são ouvidas preenchendo a praia com seus sonares tranquilos e calmantes. Eis que o time de quatro cordas do Iron Maiden preenche a cena com uma harmonia mista de reflexão e emoção. Com o chimbal imprimindo o compasso, a melodia se completa com o bailar das notas do teclado, cuja energia épico-dramática vai proporcionando, cadenciadamente, uma mudança na energia de Darkest Hour. Quando o vocal enfim se apresenta, uma narração ao estilo Fear Of The Dark com doses mais folgadas de melancolia começa a ser construída. Difícil dizer que a estruturação da faixa assume um desenho de balada, mas de todas as composições até então apresentadas de Senjutsu, esta é aquela que mais se adequa na titulação de balada por conta da sonoridade mais tranquila em que o beat em compasso 4x4 a deixa até mais comercial em certos aspectos. Assumindo ares ainda mais dramáticos no pré-refrão, Darkest Hour atinge seu ápice de ato dramático-emocional no refrão, momento em que a melodia forma um desenho visceral com base no hard rock. Toda essa composição estrutural se encaixa com um lirismo sofrido que relata um cenário em que, externamente, é deprimente, mas que em verdade relata a mudança.


Curiosamente, as sonoridades iniciais de Death Of The Celts traz na mente do ouvinte aquela melodia apresentada por Joe Bonamassa em Different Shades Of Blue. Aqui, no entanto, o folk, o blues e o épico se fundem somente com a união entre teclado e guitarra, a qual constrói um cenário cheio de suspense épico que encanta o ouvinte a partir da alta expectativa proporcionada por esse blend rítmico que vai se desenvolvendo. Conforme a canção vai se desenvolvendo, ela se prova ser um produto obtido através da fusão melódica entre The Greater Good Of God e No More Lies, pois há suspense e há um tom épico exacerbadamente presente. A partir da entrada do baixo de linhas precisas, o cenário construído é monárquico e oferece ao ouvinte a sensação de estar caminhando pela entrada de um castelo rodeado por guardas armados cujos olhos atentos oprimem e amedrontam o caminhar executado. Por essas razões, o folk fortemente desenhado traz, inclusive, bastante influência de The Bard’s Song, single do Blind Guardian. Death Of The Celts é uma canção que, além de trazer um lirismo com temas-padrão do Iron Maiden, como pinceladas de religião em um cenário abundantemente bélico, recicla eras anteriores do sexteto trazendo pressão e melodia. Hard rock e metal. Uma música indiscutivelmente cosmopolita.


Um folk épico começa a se construir. Riff linear da guitarra, com um baixo sutilmente sombrio na base e um teclado de notas sinistras se unem nesta sonoridade que dá ao ouvinte a ideia de trilha sonora para uma cena trágica e mórbida. Com referências à música do leste europeu fundidas com o oeste asiático, uma explosão uníssona não apenas muda o andamento e o ecossistema rítmico, mas assusta o ouvinte pelo punch oferecido. Épico, dramática e hard rock são fatores que preenchem a atmosfera em formação do primeiro verso. Diferente daqueles das músicas anteriores, Dickinson surge com uma voz azeda e áspera, mudando completamente o tom narrativo do conteúdo lírico. Um dos ingredientes que mais chama a atenção em The Parchment é o solo de guitarra dividido em dois atos. No primeiro, é possível encontrar sofrimento e lamento entorpecidos pelas notas aveludadamente catedrais do teclado. Já no segundo, o lamentar encontra a incredulidade com a inserção de toques sutilmente ásperos na guitarra base enquanto a participação da guitarra solo de riffs aveludados parece funcionar como lágrimas inestancáveis. No terceiro, a aspereza da guitarra domina e o baixo, com seu groove preciso e potente, prova sua hegemonia na criação de uma base compassada. E no quarto ato, o medo na demonstração do sofrimento parece deixar de existir quando a guitarra solo grita e parece deixar as lágrimas correrem livremente pelo seu rosto. A partir do quarto verso lírico, com frases como “drinking from your cup of wisdom true many men will follow you”, “now an army is raised and our gods, they be praised” e “death is but a guilted edge” cheias de menções bíblicas, fica clara a forte questão religiosa inerente no lirismo de The Partchment, mais uma faixa para integrar o time de músicas épicas de Senjutsu. Não à toa, é uma das favoritas de Dickinson.


Se em The Writing On The Wall o som do baixo teve apenas alguns momentos audíveis e de protagonismo vultuoso, o mesmo não acontece em Hell On Earth. Afinal, é ele que, ao lado de um teclado de notas acidamente macias, serve de introdução da faixa. Homens caminhando, fracos, por entre escombros. Suas feições são cansadas, mas com uma satisfação latente ao vislumbrar os raios de Sol vencendo o silêncio. Esse cenário vitorioso de um pós-guerra é formado na mente do ouvinte a partir da inserção de um riff de guitarra aveludado que casa bem com a proposta do teclado, a qual, de repente, assume ares épicos crescentes. Na ponte entre a introdução e o primeiro verso, o instrumental assume uma postura mais séria e madura, mas ao mesmo tempo melancólica a partir do riff das guitarras solo, o qual, apesar de sobressair ante a linearidade da guitarra base, segue com a atmosfera épica já bem alicerçada. E quando o espectador sentia já conhecer a roupagem da música, uma surpresa. O repique preciso da bateria funciona como um cair de cortinas para o aguardado início do primeiro ato. Com solo melódico, Smith e Murray conseguem proporcionar arrepios nostalico-melancólicos no ouvinte, ao passo que a união de baixo e bateria recriam a base do cenário sonoro de Heaven Can Wait. Com o desenrolar desse instrumental introdutório, o ouvinte se embriaga com um hard rock melódico e épico até que, enfim, de um solo cujas linhas emitem uma sonoridade vitoriosa que jorra esperança, Dickinson assume seu lugar em cena. Trazendo um lirismo que metaforicamente aborda o renascimento, o vocalista reflete sobre a sociedade mundial, sobre os caminhos por ela escolhidos e pelos desafios por ela enfrentados. “All you have been, all you have seen. Lost in somewhere in your dreams”, questiona Dickinson. “We’ll never be the same again”, lamenta o vocalista em uma clara e comovente menção às transformações proporcionadas pela pandemia da Covid-19. Após a ponte talvez seja o momento em que a interpretação lírica de Dickinson assume patamares ainda mais viscerais. Afinal, com gritos de incredulidade, ele traz dualidades presentes em uma sociedade entorpecida e transformada: “love in anger, life in danger”. E assim, Hell On Earth, um hard rock épico-emocional cheio de questionamentos sobre a sociedade em nascimento, oferece uma reflexão severa ao ouvinte embriagadamente entorpecido durante o encerramento do último ato de Senjutsu.


Para muitos, mesmo com mais de 20 anos de colaboração intensa com o Iron Maiden no campo da produção, parece pretensão de Kevin Shirley dizer que Senjutsu é um dos melhores álbuns do sexteto que já produziu. Porém, quando Bruce Dickinson e Adrian Smith corroboram com a opinião de Shirley e enfatizam que o álbum é um dos melhores já feitos em toda a discografia do grupo, a constatação fica mais séria.


E não é por menos. Afinal, fazendo valer a máxima de fazer um disco melhor do que os anteriores, o Iron Maiden fez, em Senjutsu, vários trabalhos extras. Além de revisitar estéticas de músicas antigas do próprio catálogo, o sexteto se desafiou e inseriu no disco melodias que, para muitos, podem parecer fora da zona de conforto habitual do som consagrado como em músicas The Number Of The Beast, Run To The Hills, Revelations ou Two Minutes To Midnight.


No presente álbum, não há apenas hard rock ou heavy metal. Há também folk, country e thrash metal, além de flertes com o power e o speed metal. Senjutsu é um disco fora da caixa para além do quesito rítmico, afinal, a ousadia está presente também na duração das faixas. Longe dos cinco minutos padrões, faixas épicas como o trio de encerramento Death Of The Celts, The Partchment e Hell On Earth superam os 10 minutos. Já Lost in a Lost World e a faixa-título vão além dos seis minutos.


Mas não por isso que o disco ficou maçante. Afinal, muitas das músicas são divididas por atos bem estruturados e lirismos de narrativas intrigantes. Nesses quesitos, todos os músicos, apesar de já terem superado a marca dos 60 anos, se apresentam em boa forma. Porém, existem dois dos seis integrantes que merecem mais atenção em Senjutsu.


Bruce Dickinson, o mais novo dos integrantes, com 63 anos, arriscou em mostrar os efeitos da idade em uma faixa que pareceu ter, propositadamente, pouca lapidação. É o caso de The Writing On The Wall, primeiro single divulgado do álbum. O outro é Nicko McBrain, curiosamente, o mais velho do sexteto, com 69 anos. Com precisão e desenvoltura, o quase septuagenário criou frases complexas, que, por muitas vezes, foram as guias que inseriram ritmos diferenciados tal como aconteceu no instrumental The Time Machine.


Talvez, a zona de conforto mais abundante esteja presente nos temas líricos. Sendo muitos deles épicos, existe a imersão no campo da guerra e da religião. Mesmo assim, até no campo lírico existem mudanças significativas, afinal, a base de significado de grande parte das nove faixas cantadas se baseia em uma reflexão sócio-comportamental regida pelo impacto da pandemia da Covid-19 na vida das pessoas.


E por falar em Covid-19, a arte de capa de Senjutsu é bem significativa quanto à pandemia. Trazendo Eddie vestido de maneira como tanto os guerreiros chineses e japoneses se postavam e em pose de ataque, ela comunica um enfrentamento ao vírus, atitude vivenciada globalmente desde o início da pandemia, em dezembro de 2019. 


Lançado em 03 de setembro de 2021 via Parlophone Records, Senjutsu é um álbum musicalmente completo e com um Iron Maiden sonoramente desafiador. Assim como a própria tradução do título do álbum sugere, Senjutsu é uma tática de recriação do próprio som ao mesmo tempo em que imerge em solos ainda inexplorados pelos sexagenários. Indiscutivelmente e definitivamente, um dos álbuns mais bem trabalhados do Iron Maiden.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.