Jam & Lewis - Jam & Lewis, Volume One

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Depois de muitas colaborações e solidificar o nome no mercado musical estadunidense e, posteriormente, global, a dupla de produtores Jam & Lewis enfim anunciou seu álbum de estreia. Intitulado Jam & Lewis, Volume One, o disco foi preparado em 2019 e foi gravado em diferentes localidades dos Estados Unidos, como Agoura Hills, Los Angeles, Hollywood, Atlanta e Nova Iorque. 


Uma voz grave e eletronicamente editada situa o ouvinte de que está ouvindo uma composição de Jam & Lewis. Em seguida, uma dupla de melismas feminina e masculina lança perfumes levemente adocicados no ambiente na forma de uma ambiência soul. Com uma base guiada pelo som aveludado e doce do piano fender rhodes de Big Jim Wright, Til I Found You imerge no universo do R&B com sutileza e maciez. Apresentando semelhanças melódicas com Put Your Records On, single de Corinne Bailey Rae, a canção oferece uma guitarra com toques de swing e igualmente serena trazida por Ah-V-Lah, além de um refrão cantado em um coro de diversas vozes cujos tons se complementam e formam uma harmonia sedutora. Com revezamento intenso de vozes a partir da segunda estrofe, o grupo vocal Sounds of Blackness, guiado pelo diretor de coro Gary Hines, conta uma história de romance e de como a presença de uma pessoa pode mudar significativamente a vida do outro de maneira positiva. 


O piano acústico proporciona uma doçura diferente na introdução. Empregado por Jimmy Jam, ele serve de cama para um vocal feminino de timbre mediano, mas cuja suavidade casa com a proposta inicial do piano. É Mary Jane Blige que, acompanhada da valsa sonora do violino de John Jackson, traz uma ligeira nota de dramaticidade à canção que ainda se encontra em estruturação. Com golpes unidos do piano com a bateria de Brant Biles, Spinnin’ encontra ares pop e recebe de Mary um vocal ligeiramente anasalado que, acompanhada de um ritmo misto de R&B e pop, recupera a dramaticidade melódica introdutória ao apresentar um lirismo cuja narrativa conta a história de alguém imerso em solidão, sem noção de pertencimento e isento de acolhimento. Como o próprio narrador diz, a principal mensagem da canção é “don’t lose your light, remember who you are”.


O piano está em notas pausadas quando uma voz suavemente grave e em ar de sofrimento invade a cena. A dramaticidade ganha visão nítida a partir do bailar dramático proporcionado pelo noneto de violinos que acompanham Nathan Morris até a entrada de Shawn Stockman cujo falsete floreia a aparente dramaticidade e revela o romantismo ao lado do timbre grave de Wanya Morris. Com o Boyz II Men completo, The Next Best Day não apenas se confirma uma canção romântica cuja harmonia remete àquelas das composições de Brian McKnight, em especial à do single Back At One. Ela também se propõe, com uma extrema sutileza sensual, a validar tanto os momentos bons quanto ruins de um relacionamento no intuito de incluí-los no denominador comum da busca pelo positivismo na convivência e no crescimento como casal.


Assim como Spinnin’, a experimentação de diferentes sabores de doçura prossegue em Somewhat Loved. A faixa, além de trazer a delicadeza inicial da voz de Mariah Carey, oferece a sutileza e as máximas fragilidade e finésse das notas da harpa. Estruturado sobre rimas imperfeitas assonantes, o lirismo, que recebe de Terry Lewis o acompanhamento nos backing vocals, é mais uma narrativa romântica cuja noção de sensualidade é entregue pela interpretação lírica de Mariah que é acompanhado por um compasso R&B bem marcado principalmente pelas notas graves do piano, algo que imita a estratégia rítmica adotada em This Love, single do Maroon 5. Ao mesmo tempo, a inserção de sonoridades digitais entrega a Somewhat Loved uma ambiência fortemente marcada pelo pop cujo refrão chiclete auxilia na classificação da faixa como um importante single de Jam & Lewis, Volume One.


A sensualidade é uma característica que continua dominante. Ao lado do sutil swing do R&B proporcionado pela melodia e pelo vocal agudo e afinado de Babyface, ela conquista o território com o beat desenhado por Alexander Richbourg. No entanto, diferente das canções anteriores, o que o vocalista convidado propõe é analisar o romance a partir de um enredo de alguém que é apaixonado por uma pessoa que não sabe e não valoriza o amor. Ao mesmo tempo, He Don’t Know Nothin’ Bout It questiona a autovalorização e a consequente dependência da presença e do amor do outro mesmo em plena consciência da não reciprocidade dessas ações e sentimentos. Essas questões são evidenciadas principalmente no refrão, momento em que Babyface recebe tanto a companhia de Jimmy Jam nos backing vocals quanto o veludo das notas do piano rhodes.


O calmo beat de IZ entra em sintonia com as notas esvoaçantes do teclado. Eis então que uma voz de notas firmes e graves preenche a estrutura sonora em formação. É Toni Braxton trazendo um lirismo de dicotomias sentimentais. Afinal, a história de Happily Unhappy traz um alguém em profunda confusão sentimental perante o parceiro. O amor ainda existe, mas ele fere, machuca. Ao mesmo tempo, o término e o rompimento proporcionam dores maiores. O estar felizmente infeliz é a metáfora adotada por Toni para descrever todos aqueles que escolhem a opção do conservadorismo da relação ante o respeito quanto ao próprio bem-estar. Críticas veladas ao platonismo, machismo e à ausência de amor próprio podem ser questões presentes nas entrelinhas de um lirismo que, em sua superfície, já denota um sofrimento do coração. Com auxílio da maciez do sonar do piano eletrônico e dos backing vocals de Shelea Frazier, Toni exorta essa confusão sentimental na tentativa de buscar a calmaria e o equilíbrio emocional.


O piano se encontra em um solo que mostra uma genuína alegria ao passo que, como os raiares de Sol se mostrando timidamente em um amanhecer, se ouve, ao fundo, notas do órgão hammond. Eis então que uma voz aveludada e mediana entra na conjuntura melódica. É Heather Headley imprimindo maciez em um timbre de grande familiaridade ao de Rihanna. Assim como Happily Unhappy, o que se tem em Maybe I’ve Changed  (Or Did You) é a história de um amor perfeito que, inesperadamente, se acaba. Decepções, sofrimentos e dores sentimentais passam a compor a rotina do eu-lírico, que se encontra na dúvida e insegurança de qual o passo certo a ser dado. 


Um som eletrônico ecoa por entre os paredões inóspitos. De repente, parece que a parede escura desmorona e, o que se vê à frente, é um ambiente cheio de vida, de cores e de perfumes. A programação e o beat são grandes responsáveis por essa atmosfera eletrônica, mas de sonoridades longe de serem minimalistas. Com influências do R&B, Do What I Do é uma música que possui ingredientes ainda não experimentados em Jam & Lewis, Volume One, como o talk box utilizado pelos backing vocals Lah e Sergio. Presente principalmente no refrão, esse artifício acompanha Charlie Wilson em seu lirismo que, apesar de ter uma carapuça romântica, defende a ânsia pela experimentação, pelos prazeres da vida e pelo simples ato de viver. De outro lado, a canção é a primeira do álbum a ter uma participação audível e decisiva do baixo, mesmo que presente na forma de um baixo sintetizador. 


Are you ready for me?”, se questiona o eu-lírico ao introduzir uma sonoridade mista de ingredientes épicos e eletrônicos. Com uma sensualidade na voz e uma cadência atraente, Usher oferece ao ouvinte a declarada primeira balada radiofônica de Jam & Lewis, Volume One. Do It Yourself é uma música cujo refrão possui a denotativa definição de melodia cuja estrutura é calcada em vocais macios e regada em falsetes. O lirismo, por sua vez, é de uma sensualidade que mostra ser a marca registrada da Jam & Lewis no presente álbum. Incentivando o ato de viver intensamente cada momento, a mensagem deixada pela canção é a de se libertar da inibição e se debruçar sobre as vontades e desejos sentidos.


What time is it, Morris?”, “the time to do this, Jerome”. É esse diálogo entre Jerome e Morris Day que introduz Babylove ao ouvinte. Cheia de referências ao universo do hip-hop, como é o caso da sonoridade rap, a canção ainda guarda uma imersão melódica no R&B conforme seu conteúdo de canto se fecha com a entrada do The Roots. De lirismo sensual e retratando uma noite regada em curtição, a canção nada mais expõe do que o incentivo ao divertimento ao mesmo tempo que insere elementos de leve humor, como o pedido de confirmação de idade e a menção da maioridade estadunidense, de 21 anos, como um passaporte para poder aproveitar coisas antes socialmente proibidas para menores. É perceptível, porém, que o quesito sensual na sonoridade é igualmente proporcionado pelas linhas da bateria de Questlove e da guitarra de Capn Kirk, tornando a faixa outro importante produto de Jam & Lewis, Volume One.


Depois de trabalhar com nomes como Janet e Michael Jackson, Jessica Simpson e Bruno Mars, chegou a hora de se dedicar em um álbum próprio. Isso foi acontecer somente após 41 anos de exercício da dupla Jam & Lewis que, agora, apresenta um álbum cheio de swing, ritmo, melodia e mistura de gêneros musicais. Esse é Jam & Lewis, Volume One.


Regado em participações especiais, algumas com as quais a dupla já havia trabalhado anteriormente, como Usher, Mariah Carrey e Mary Jane Blige, o disco transita entre a zona de conforto estruturada por ritmos como o R&B e soul, mas também passa, ao longo de suas 10 faixas, pelo pop, o eletrônico e o rap.


Com maestria, a dupla conseguiu compor uma série de faixas em que a delicadeza da melodia encanta sem dificuldade. A partir de arranjos que abrigam corais, instrumentos seculares de uso que não compreendem o ambiente mainstream, como a harpa e a viola, a Jam & Lewis conseguiu criar uma sonoridade atual e atraente mesmo com ambiências do passado.


Tendo como marca registrada das composições o romantismo, Jam & Lewis, Volume One também traz, intrínseco nesse tema, assuntos sociais de difícil discussão. Por isso mesmo que em todas as faixas a melodia soa amena e aveludada mesmo que hajam respingos de agitação. 


Lançado em 22 de outubro de 2021 via Flyte Tyme Records, Jam & Lewis, Volume One é o mais puro som do R&B. Com bastante swing e delicadeza, o álbum mostrou que a dupla formada pelos batizados James Samuel "Jimmy Jam" Harris III e Terry Steven Lewis sabe como fazer canções denotativamente melódicas e encantadoramente harmônicas.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.