Pink Sweat$ - Pink Moon

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Pouco menos de um ano depois de se anunciar no universo musical com Pink Planet, seu álbum de estreia, o filadelfiano Pink Sweat$ retoma as atenções do mercado sonoro ao divulgar Pink Moon, seu primeiro EP da carreira e a forma como o cantor encontrou de oferecer uma nova perspectiva sobre o amor.


É como observar a água se mexer, formar pequenas ondas que refletem a própria imagem. É como ouvir o som da correnteza, sutil, singela, amena. É como ouvir o zumbido do vento ecoando por todo o ambiente. Ao fundo, o som aveludadamente ácido do órgão hammond abraça de maneira reconfortante todo o contexto em construção que, em seguida, recebe um vocal grave. É Pink Sweat$ imprimindo à melodia um timbre cuja doçura ainda está visivelmente adormecida. Quando um verso falado invade a sonoridade da canção é a deixa para que a doçura vocal enfim seja alcançada ao atingir o refrão e oferecer ao ouvinte uma roupagem R&B. A faixa-título é uma canção de uma sonoridade tátil construída pelo engenheiro de gravação Aleksei Savchenko que serve de base para um lirismo de puro romance e declarações de amor. Um lirismo em que o protagonista extravasa todas as suas intenções e a forma como a força do amor sentido por outro alguém o atinge de maneira a fazê-lo romper barreiras e assumir maiores responsabilidades. De outro lado, o título da canção é quase uma metáfora para o sabor adocicado da relação entre o par romântico feito à luz da Lua. De maneira ampla, o verso que melhor define a canção é “girl, you know that I ain’t (Ready to be no father, but I will be)”.


Um som áspero e ecoante é ouvido ao fundo enquanto o violão surge sob uma performance minimalista e de uma extrema tranquilidade cujos sonares de cada nota, feitos de maneira espaçada, promove sons doces com pitadas melancólicas que funcionam como um repente inebriante e entorpecente. Enquanto isso, porém, ao contrário da canção anterior, Sweat$ já surge com seu falsete aveludado destilando mais um lirismo de profunda perdição no sentimento de amar. Aquele incondicional e visceral que fala mais alto que a própria razão, algo que pode ser, inclusive, traduzido de versos como “I don’t know what the end is like, but I wanna be there with you”. Não há menções ao ato de assumir maiores responsabilidades e de se portar de maneira madura como na canção anterior, mas em Midnight River existe o espírito de proteção, da presença física sempre que a ajuda e um simples abraço for necessário. Ganhando ares ainda mais romantizados, a faixa ganha um ar de extremo perfume doce quando atinge o refrão que, apesar de seguir com a linearidade melódica, oferece sobreposições vocais flutuantes. A novidade chega quando, caminhando por entre o iniciar da segunda estrofe, um lirismo calcado na cadência rap é presenciado a partir da narrativa trazida por 6LACK que ilustra a crescente confiança e entrosamento entre as duas partes do par romântico.


O veludo do Fender Rhodes traz uma melancolia e o despertar de um sofrimento que, aparentemente, soa como se fosse ser extravasado de alguma forma. Cheio de melismas, o vocal de Sweat$ vem fincado na estética do R&B enquanto narra uma passagem da vida do eu-lírico em que se sente abalado por experiências românticas anteriores. A dor é visível e as lágrimas, inevitáveis. E isso é ilustrado sem delongas logo no primeiro verso, quando o cantor entoa “the moon don’t shine bright like this often”. Desde esse ponto, fica evidente que o cerne de For Me reside na aceitação e na consciência de que o amor é também fonte de incertezas e sofrimento. Assim como em Midnight River, a canção ganha uma repaginada rítmica na segunda estrofe quando a cadência lírica assume uma roupagem rap pela voz metálica e agridoce de Blxt. Acompanhado de um beat sutilmente swingado, o rapper versa sobre o diálogo dos sentimentos conflitantes e sobre o ato de dividir com alguém aquilo que está sendo sentido como uma metáfora à confiança e ao conforto.


A guitarra surge com um riff sem distorção e espaçado, como se comunicasse fluidez e momentos de pensamentos soltos. É então que uma melodia completa emerge do chão trazendo um swing de maciez excitante e de um groove penetrante. O R&B com instrumentos reais que causam uma sensualidade em que a pele sente cada toque, cada suspiro, cada gota de suor, cada arrepio. Better é uma música que fala sobre o amar, o sentir e o viver verdadeiramente, sem o auxilio de entorpecentes. O viver intensamente e, como o próprio Sweat$ pede, sóbrio. Interessante notar também que a maneira como o som do trompete é inserido na melodia faz com que o ouvinte perceba uma sutil semelhança com sonoridades pontuais existentes em Ego, single de Beyoncé. Em Better há um ingrediente inédito que levanta a melodia e a sensibilidade do ouvinte. Aqui não é mais o rap que serve como realçador de sabor, mas sim o próprio R&B. Com a presença do vocal de timbre agudo e por vezes sussurrante de KIRBY, Better ganha ainda mais sensualidade ao passo que o personagem lírico vai ganhando mais confiança e vai ficando mais confortável na presença daquela responsável por tirar seu fôlego. Afinal, é como a própria KIRBY entoa, “but you're getting comfortabe, I noticed” e “and lately these walls have been talking, saying you should do much more, more often”. Aqui é bem possível que o ouvinte perceba também um parentesco com as canções de Bruno Mars. Um forte single de Pink Moon.


A guitarra vem com riffs curtos, secos, simples e lineares de maneira que seu movimento traga um súbito parentesco com as notas construídas por Christian Stone em Psycho, single do Puddle Of Mudd. Os “oohs” ao fundo criam uma noção de embriaguez que, com a entrada do veludo de Sweat$, se confirma se tratar da embriaguez da paixão. É quase como se notar vestido de um sorriso frouxo, o brilho inexplicável e vagante do olhar. A mente distante. Isso é Nothing Feels Better. Contagiante e swingada, a canção tem seu cerne lírico presente em um verso simples, mas que carrega toda a mensagem da canção: “love ain't blind and that's the truth”. Nothing Feels Better é a primeira canção depois da faixa-título que é cantada inteiramente por Pink Sweat$.


O doce do violão acompanhado de um súbito som que parece ser retirado do violino preenche a atmosfera com seu aroma perfumado. Apesar da linearidade melódica, vai se construindo, com a entrada do vocal, um alicerce romântico latente. A paisagem é como duas pessoas se entreolhando fixamente enquanto o céu, afrente, realça sua beleza a partir de uma paleta de cores pastéis de um entardecer de verão em que as primeiras estrelas brilham intensamente na melodia da chegada da luz do luar. Esse quadro é fortemente concretizado quando uma voz de notas aveludadas e fanhosas vem crescendo a participação a partir dos primeiros versos do refrão. É Tori Kelly entregando uma dose extra de doçura e, principalmente, sutileza ao romantismo de Real Thing. Na segunda estrofe, porém, Tori extravasa sua voz de maneira a escancarar a potência de seu timbre, que vai desenhando notas que misturam R&B, pop e pitadas bastante sutis de gospel. O que melhor define a paixão exacerbada de Real Thing é o significado do verso “you make me feel like heaven is a real place”.


Existe uma sedução penetrante perceptível logo a partir das notas do Fender Rhodes. É uma maciez embriagante, um veludo de infinita perdição. Assim como em Better, há um groove que é decisivo na criação de uma atmosfera sensual no puro sentido sexual. Essa percepção ganha patamares de estratosféricos quando Sabrina Claudio assume o microfone na segunda estrofe. Sexy é o que define sua interpretação lírica. Sua dicção e sua pronúncia são outros fatores que assumem um caráter sensual latente que reforçam a base do enredo contado em Waiting On You: a arte da sedução e a química inegavelmente picante entre dois corpos no momento do amor. Não à toa que os versos que definem a canção são “you see me naked, gotta take your soul” e “I'll keep you coming back for more, baby”.


O veludo e um leve swing são degustados a partir dos sonares iniciais. De melodia minimalista, a canção tem como base lírica a pureza do amor, a entrega, a confiança. Mas exala também o medo e o receio dessa entrega, algo que é apaziguado com a promessa de um abraço e proteção. Como o próprio nome sugere, Spiritual é uma música que narra o encontro de almas a nível espiritual. Não à toa que a canção possui a participação de um coro gospel dando uma ambiência transcendental e, não sendo redundante ou repetitivo, espiritual.


O que é o amor? Um sentimento regido por emoções secundárias como felicidade, alegria, tristeza. Também é um sentimento que desperta melancolia, nostalgia, medo, insegurança, incerteza, mas ao mesmo tempo desejo. O amor é um sentimento amplo que faz jus ao peso que exerce quando, de fato, sentido de forma sincera. É sobre essa dicotomia de significâncias do amor que Pink Moon trata.


No decorrer de suas oito faixas, o EP é como um coração aberto expondo todos os seus devaneios de maneira ou para simplesmente extravasar ou para mostrar que sim, o amor é real. Em faixas como a música-título e Midnight River, o amor vem em forma de responsabilidade e entrega, mas também de parceria.


Por outro lado, em For Me ele vem em forma de sofrimento, de melancolia. Better e Waiting On You o amor é sedução, é desejo. Nothing Feels Better, Real Thing e Spiritual, ele é o puro sentimento de carinho, admiração, respeito e, principalmente, conexão.


Como roupagem para esses diferentes pontos de vista sobre o que é o amor, Pink Sweat$, ao lado da equipe de mixagem formada por Savchenko, Manny Marroquin, Zach Pereyra e Anthony Vilchis, e da equipe de produção formada por Dante Bowden, Joseph Ruffin e Geoffro Earley, criou atmosferas regidas pelo R&B. Nessa mesma regência, porém, alguns ingredientes foram adicionados, tais como o rap, presente em grande parte das canções como um realçador de sabor, gospel e o pop.


Assim como em Pink Planet, a arte de capa de Pink Moon traz a identidade visual de Pink Sweat$ ao ser preenchida de rosa, mas ao mesmo tempo traz uma cena que traduz bem o enredo lírico proposto no EP. Com uma Lua rosa ao fundo, o avatar de Sweat$ se encontra cabisbaixo em um barco na companhia de outra pessoa lhe estendendo a mão em uma clara menção do oferecimento de apoio e conforto.


Lançado em 28 de janeiro de 2022 via Atlantic Records, Pink Moon é a melodia do amor e suas emoções secundárias. É a prova de que amor não é só felicidade. É a evidência de que não é regido só pela alegria. Mas é também a prova de que, para ser amor, tem que ser legitimo, sincero e profundo.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.