HRVY - Views From The 23rd Floor

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Inspirado nas paisagens urbanas de cidades apreciadas por HRVY vistas a partir das janelas de arranha-céus, nasce Views From The 23rd Floor. O EP, além de ser o terceiro da carreira e o quarto produto a ser anunciado pelo cantor, assume também a função de presente de aniversário por ter sido lançado no dia em que o batizado Harvey Leigh Cantwell completou 23 anos.


Uma voz doce com pitadas de tons metálicos surge perfumando uma atmosfera transcendental e sonhadora. É HRVY imprimindo toques de R&B a partir dos melismas que preenchem o enredo lírico. É curioso como, mesmo com a entrada de subgraves preenchendo a melodia, a sonoridade permite que o ouvinte se veja à noite no topo de uma colina com sentimentos puramente positivos e sonhadores. Os olhos, fixos no céu estrelado, emitem brilhos hipnotizantes de alguém cujo coração está encantado pela possibilidade de descobrir quem é a motivadora dessa emoção morna e reconfortante que é o amor. Mesclando versos ritmados na estética rap em meio à base melódica pop, Talking To The Stars é uma canção que exala uma pureza romântica extasiante ao mesmo tempo em que possui raspas de sensualidade provocantes inseridas a partir da dicção de HRVY. De fato, Views From The 23rd Floor já nasce com uma canção de grande potencial comercial.


Sons ecoantes e opacos caminham livremente pelo ambiente. Existe uma maciez entorpecente e contagiante na melodia, cujo alvorecer é trazido por um som eletrônico crescente que leva o ouvinte para um refrão de roupagem eletrônica com pitadas ácidas, mas uma acidez que foge da psicodelia setentista por conta de sua modernidade estilística. Remetendo estéticas sonoras de nomes como Guru Josh e, portanto, uma roupagem da house music na base rítmica, Sweet October é uma faixa que enaltece o amor do eu-lírico pelo clima frio, pela neve, pelo mês de outubro. Deixando a canção ainda mais envolvente, está a companhia de Dominic Lyttle e Danny Shah nos backing vocals deixando os versos do refrão ainda mais chicletes e hipnotizantes. Tudo a partir de vocais que beiram o sussurro de tão sutis que são pronunciados. Apesar de parecer linear, a melodia der Sweet October sempre encontra um meio de entregar uma crescente momentânea, algo que fica evidente principalmente nos versos repetitivos “can you wrap me all up in your love?” e “can you pull, can you pull me closer” que estruturam a ponte.


Uma voz em tom editado balbucia silabas sem sentido em uma velocidade sutilmente acelerada. “I’m not your light, no” é o primeiro verso nítido e que lança luz sobre várias interpretações e suposições de como a presente história poderia ter continuidade. Aqui, o interessante é notar que a sonoridade é mínima e quem faz a vez da cadência é o próprio vocal de HRVY. Assim como Talking To The Stars, a presente faixa guarda uma sensualidade vinda da dicção e da pronúncia dos versos, mas em níveis menores. As notas graves do piano, como um sussurro súbito, encaminham o ouvinte para um refrão dramático e melancólico regido pelo preciso falsete do cantor, que é acompanhado pelos novos backing vocals de Tom Hollings e Sam Brennan unido aos de Lyttle e Shah. Golden Hour é uma canção em que o eu-lírico exorta sua admiração, seu fascínio pelo entardecer, pela chegada da noite. Pelo crepúsculo preenchido por uma paleta de cores pastéis e ácidas.


Um som eletrônico e fanhoso puxa a introdução. A cadência vocal segue acelerada e a sensualidade na voz soa como algo não premeditado, mas presente. Com um groove evidente inserido por Lyttle, existe um swing e uma força melódica diferenciada em comparação às demais composições do EP. De todo Views From The 23rd Floor, Too Young For This é a canção mais autobiográfica por ter em sua essência lírica a impressão da aflição do passar do tempo, do envelhecimento, do amadurecimento, das cobranças da vida e das responsabilidades sentida por HRVY. É, talvez, a música que mais descreva o que se passa na cabeça de melancólica de qualquer pessoa no dia do aniversário, uma data regida de nostalgias, melancolias, desejos, esperança, mas também medo, aflição e, porque não, também tristeza. O verso que melhor representa esse turbilhão de emoções distintas e antagônicas é aquele em que HRVY pergunta se “can we take a minute to slow down?”. 


Um pop cheio de swing é apresentado. Conforme a melodia vai crescendo, cria-se a impressão de notar uma semelhança melódica entre a estruturada no pré-refrão com aquela feita no refrão de Call Me Maybe?, single de Carly Rae Jepsen. Never Be Us é uma canção que pode parecer dialogar, mesmo que sutilmente, com a mensagem exposta em Too Youg For This por trazer aspectos de maturidade. Ao mesmo tempo, há uma mescla de romance juvenil, aquele guiado pelo simples e puro impulso. É a diatônica da consciência, do superego e do desejo. Em clima de festa, a canção ainda recebe Niamh Murphy e Blair Dreelan no time de backing vocals dando suporte aos versos-chiclete entoados por HRVY.


Leve, contagiante, macio e fluído. Views From The 23rd Floor é um EP que dialoga com a maturidade ao mesmo tempo em que expõe o medo do crescimento e das responsabilidades. É um EP que dialoga com os mais puros desejos regidos pelo impulso e pela melancolia vivida por uma mente consciente ante os momentos do passado em que não havia preocupações. Views From The 23rd Floor é sobre o tempo e sobre o envelhecer. Eis as faixas Too Young For This e Never Be Us.


Romântico e poético. As estações do ano guardam momentos, emoções, sentimentos e climas que regem a vida das pessoas de diferentes maneiras. Assim o é para HRVY, quem expôs de maneira bela e eloquente sua admiração pela beleza singela de um entardecer, da transição das estações entre junho e outubro. A saudade do frio e da neve. As estrelas como portais para o incerto, o imprevisível, o destino. Eis as faixas Talking To The Stars, Sweet October e Golden Hour.


Em Views From The 23rd Floor HRVY, cujo vocal por vezes remete ao de Justin Bieber, coloca todas as suas emoções em músicas. Unindo pop, rap e house music o inglês conseguiu, ao lado dos profissionais do som recrutados, montar melodias e estruturas rítmicas que atraíssem diferentes públicos e de diferentes faixas etárias. Ainda assim, é fato que o que salta aos ouvidos é uma ambiência mais juvenil, mas com grandes notas de maturidade. 


Lançado em 28 de janeiro de 2022 via BMG, Views From The 23rd Floor é um EP de swing e groove, mas mais do que isso: é um EP que extravasa os medos do amadurecimento e os receios de enfrentar as responsabilidades cabíveis com o passar do tempo. É um EP em que a leveza, o descompromisso e a jovialidade do pop são a base de um diálogo sobre o crescer.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.