Klinsh - Siga Em Frente

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 0.00 (0 Votos)

Um novo produto se evidencia no horizonte. Como segunda obra fonográfica do quinteto carioca Klinsh, Siga Em Frente é um EP que vem quatro anos depois de A Soma De Todos Os Dias, material que serviu como estreia da banda. Novo trabalho foi gravado em Jacarepaguá (RJ) e masterizado em Belo Horizonte (MG).


O céu está com tons de entardecer. Sua paleta de cores se divide entre o rosa e o amarelado. Ao fundo, se vê uma revoada de pássaros buscando seus ninhos para passar a noite. Uma sensação de conforto extasiante se forma a partir de tal paisagem graças ao riff introdutório oferecido por Lucas Coelho. Macio, ele é acompanhado de ruído branco que logo é rompido pela contagem do tempo realizada pelos golpes secos produzidos por Jorge Braz no chimbal. Quando a bateria assume um caráter repentinamente explosivo, a guitarra base de Everton Freitas entra em cena amplificando o sentimentalismo e a maciez melódica ao auxiliar no desenho de silhuetas melancólicas promovido pela sonoridade da faixa. Guiada pela racionalidade focada das linhas graves e curiosamente sutis do baixo de Rodrigo Paixão, a faixa-título enfim recebe o ingrediente que preenche sua estrutura rítmica. De timbre mediano, afinado e confortável aos ouvidos, Lito Ferreira vem trazendo um enredo lírico que narra a história de uma mulher de feição cansada e sofrida pelas decepções no amor, mas que é abraçada por um súbito senso de esperança que dá vasão aos impulsos de ingenuidade que são vencidos pela consciência e superados por posturas regidas pela perseverança e autoconfiança. Sob moldes melódicos que misturam ambiências rítmicas de nomes como Nenhum de Nós, Capital Inicial e Guns and Roses, a faixa-título oferece uma mescla de hard rock entorpecido com pop rock de maneira a soar fluída, linear e aveludada em certa medida.


Mais agitada e com um princípio de swing evidente, a melodia traz consigo uma energia que promete excitação, mas que, durante a introdução, assume uma postura comportada que ecoa sentimentalismos melancólicos. Curiosamente, Sozinha possui um caráter diferente daquele presente na faixa-título. Sua sonoridade parece mais equilibrada e equalizada ao mesmo tempo em que a levada 4x4 assumida pela bateria, o que entrega uma posição de destaque entre as faixas de Siga Em Frente, a tornando um single do EP. Com guitarras distorcidas em uníssonos ásperos repentinos que entregam certo tom de dramaticidade, Sozinha é uma canção que traz um personagem regido pela solidão e por um estranho iniciar depreciativo. De riffs chicletes, a canção relata, por outro lado, as questões de falta de pertencimento ao mesmo tempo em que assume uma posição motivacional evidente que é evidenciado, principalmente, pelo grito da guitarra em um solo emocional que representa um urro de socorro e alívio. Em outros aspectos, a dicção de Ferreira assumida em Sozinha faz com que o ouvinte relembre a pronúncia vocal de Badauí ao mesmo tempo em que a melodia traz uma essência soturna. 


Surpreendentemente, o swing, a distorção afinada e melódica, a pose de provocação. Logo na introdução, o hard rock já anuncia a sua presença. Com referências que misturam a ambiência de The Number Of The Beast, single do Iron Maiden, com a sonoridade tradicional do AC/DC, Garota 021 vem ainda com um vocal rasgado que amplifica a ambientação hard rock e traz consigo a descrição de uma garota descolada, imponente e de posicionamento empoderado. De certo ponto, a realidade descrita da personagem traz um parentesco com aquele do eu-lírico de Natasha, single do Capital Inicial. Diferente de Sozinha, que já ocupa o posto de single, Garota 021 traz em sua sonoridade um frescor que atende o apelo radiofônico amplificado, o que a torna mais comercial. 


Áspero e melódico, o sonar introdutório segue, mesmo que em um tom abaixo, a energia consistente adquirida por Garota 021. Com versos de estrutura linear que se estende para o refrão, O Outro Lugar narra, sob a ótica de um relacionamento juvenil, a forma como uma pessoa consegue transformar a vida da outra. Agraciada por um solo de guitarra enérgico que rompe a mesmice melódica, O Outro Lugar também entra na lista de singles de Siga Em Frente, deixando Sozinha no terceiro lugar no ranking.


A forma como as guitarras e a bateria se movimentam em um uníssono linear, mas energético, recria a ambiência introdutória de Que País É Esse, single do Legião Urbana. Com um sangue hard rock áspero e menos melódico com relação àquele que desperta O Outro Lugar, Danica vem com uma linearidade acelerada que cativa o ouvinte pela sensualidade áspera que abraça um lirismo simples que narra a atração e a paixão provocativa que nasce por parte do eu-lírico. Tal sentimento é construído pela postura irreverente que assumida pela garota que o motivou, o que, mais uma vez, casa com a proposta de enaltecer o feminino.


A partir de tal arquitetura introdutória, é possível ouvir as palmas do público acompanhando o compasso da bateria como se estivesse chamando uma explosão incerta, mas esperada. Fluindo para uma maciez melódica cuja estrutura torna possível sua inclusão na trilha sonora de filmes adolescentes, ela é como o calor do Sol banhando o mar em um entardecer de verão. Será Que Ela Vai Voltar? é uma música que mistura nostalgia e romance. Memória e saudade. Paixão e um amornado aconchego. Indiscutivelmente, Será Que Ela Vai Voltar? é a balada que faltava em Siga Em Frente.


Enaltecer o feminino. Misturar sedução com nostalgia. Oferecer o soturno e o amaciado swing. Esses são os grandes feitos de Siga Em Frente, um EP que extravasa os limites do frescor e oferece composições autorais que atraem, cativam e conquistam sem dificuldades o ouvinte.


Trazendo referências às escolas do rock nacional dos anos 80 com o rock californiano da segunda metade da mesma década, o EP desfila lirismos que, abraçados por uma base hard rock, representam diferentes posturas femininas de maneira a sempre fomentar o empoderamento da mulher. O caráter imponente, a sedução, a provocação, a persistência, a firmeza e a força do sexo feminino são muito bem representadas entre seus seis capítulos.


É verdade que, em alguns momentos, Siga Em Frente possui alguns ruídos que deixam dúvida sobre sua existência, mas que nada incomodam a degustação lírico-melódica do trabalho. Esse certamente foi um grande feito de Visso Lana, quem realizou uma mixagem de finalização equalizada e deixou que as energias sonoras se desenvolvessem livremente em cada acorde.


Com produção em três mãos feita pela sensibilidade de Andrea Dórea, Cris Rizo e Jaqueline San Galo, Siga Em Frente conseguiu ser um produto que, acima de tudo, é sentimental e emotivo. Um trabalho que mostra a consistência sonora e o entrosamento entre os integrantes do Klinsh.


Fechando o escopo do EP está a arte de capa, o setor que tem como papel ser o primeiro convite para que o ouvinte deguste o material. Feita por Fernanda Micky, ela evidencia os trilhos do VLT carioca em uma clara alusão à expressão seguir em frente. O curioso é que, por ser composta pelos tons básicos do branco e do preto, ela causa uma estranha sensação de luto, como se o conteúdo lírico do trabalho fosse algo passado. Em todo o caso, não há dúvida que o título do EP foi bem representado pela obra visual.


Lançado em 11 de março 2022 de maneira independente, Siga Em Frente é o destaque do feminino sonorizado por um hard rock de influências brasileiras e californianas dos anos 80. Um produto fonográfico que mostra a consistência do ainda jovem quinteto carioca Klinsh.

Compartilhe:

Cadastre-se e recebe as novidades!

* campo obrigatório
1 Comentários

Estar nesse projeto com o Klinsh foi incrível, e ter toda essa sonoridade é para mim um bálsamo.
Obrigada por suas palavras e pela belíssima resenha.

Responder Compartilhar
Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.