Benson Boone - PULSE

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Pouco menos de um ano após se anunciar oficialmente no mercado musical global com Walk Me Home, seu EP de estreia vindo na sequência do lançamento de quatro singles, o cantor e compositor de Washington (DC) Benson Boone enfim divulga seu novo material. Intitulado PULSE, ele é o segundo EP da carreira de Boone.


O alvorecer é floral, é ácido. É místico. Misturando noções de blues e new wave, a paisagem é incerta por conta da neblina que encobre o horizonte. Porém, a partir do sequencial golpe na caixa vinda da programação de Jason Suwito, uma ambiência macia, contagiante e swingada conquista o ouvinte. Groovada e aveludada por conta das pinceladas do fender rhodes, Coffee Cake é guiada por um timbre adocicado e com raspas de um grave sutil vindo de Benson Boone. Com influências de Harry Styles em sua estética de composição, Boone faz de Coffee Cake, a partir da maturação melódica, uma faixa pop que fala sobre o acaso, o encontro de duas pessoas movido pelo destino. Uma faixa que dialoga sobre o cuidado revertido em atenção sobre um ar romântico e afetuoso. O autoconhecimento, a autovalorização, a solidão e a ausência de identidade. Tudo isso sob um aroma fresco que não deixa o compasso pop perder seu brilho.


O baixo vem sincopado e como primeiro elemento a ser introduzido em um amanhecer curto. Dando embasamento para um indie pop aveludado, o instrumento segue como uma espécie de guia onipresente que, por vezes, se mostra com clareza ante a maciez do sonar do fender rhodes. Ensolarada e intercalada com a presença de falsetes bem pronunciados por Boone, Lovely Darling tem também certas tendências de soft rock enquanto dialoga sobre discussões infindáveis e improdutivas que levam ao caminho incontestável do fim. É uma música que ilustra o ponto de vista da parte que deseja o término como meio de libertação para ambos os envolvidos, mas sabendo que o relacionamento com a dor é inevitável. Essa é, inclusive, a vivência da parte surpreendida que é narrada de forma sensível, mas sem esconder o desejo de ter, ao menos algumas características e lembranças, eternizadas no coração das memórias daquele que optou por ir embora.


Os dedilhares do violão soam frescos, mas com doses generosas de torpor emaranhados em uma nostalgia reflexiva. Suave, o instrumento é logo acompanhado por um vocal cuja interpretação lírica igualmente reflexiva que pensa, sente e tenta assimilar a passagem do tempo. Minimalista e quase linear, What Was tem um quê dramático ao tratar dos impulsos e dos ímpetos inconscientes que destacam a insegurança e o medo da maturidade. A necessidade de um porto seguro como forma de educar, tranquilizar e, principalmente, perdoar. Diferente de Coffee Cake, What Was é um folk sofrido, visceral e dramático que parece até mesmo ter pitadas de uma autobiografia. Uma música que é encrustada em uma culpa tão lancinante que chega até mesmo a deixar o personagem lírico cego em sua própria consciência. O desejo de recomeçar como a forma de extravasar o desolamento e a decepção consigo próprio.


Com uma ambiência até então inexperimentada, o novo horizonte vem com uma melodia rítmica rappeada a partir da programação de Jason Evigan. Por meio de uma sensualidade tímida vinda de um vocal que, aqui, vem com uma dicção que lembra aquela de Marc Labelle ao mesmo tempo em que soa com um timbre semelhante ao de Joe Jonas, Sugar Sweet vem com um refrão repleto de harmonia a partir da inserção dos backing vocals de Evigan e Jack LaFrantz. Por vezes nauseante, Sugar Sweet é simplesmente uma faixa que trata sobre falsidade. A enganação dos sentimentos, a manipulação e a certeza de que o arrependimento pelos atos egoístas será, de alguma forma, sentido, são os principais assuntos dessa que é uma faixa cujos rompantes R&Bs ajudam a dar vida ao arrependimento com pitadas de raiva, sentimentos cristalinos de um personagem usado para a manutenção da autoestima do outro. Com aparições ácidas e sutilmente psicodélicas vindas do hammond de Kurt Thum que soa quase imperceptível ao fundo da base melódica na ponte, Sugar Sweet pode ser considerada a faixa mais comercial de PULSE.


O compasso do teclado choroso de Ben “Smilley” Silverstein e Mark Schick já introduz, sem demora, o ouvinte sob uma energia confortavelmente melancólica. Com uma interpretação lírica dolorida, Boone faz de Little Runaway uma faixa entorpecidamente gélida que, curiosamente, bebe, no refrão, de uma ligeira semelhança melódica com Just Give Me A Reason, single de P!nk com participação de Nate Ruess. Com uma dramaticidade latente sentida através das cordas valsantes de Gelo Hau, Little Runaway é, assim como What Was, outra faixa de lirismo delicado. Ainda mais densa que a primeira, a presente canção traz um ar trágico ao introduzir a depressão e a sensação de profundo desolamento como temas centrais de seu enredo. A dor e a culpa ofuscam qualquer raiar do Sol que possa indicar a possibilidade do recomeço, mas, em Little Runaway, a necessidade da fuga do passado para tentar se ver livre de traumas é acalentada por um interlocutor sensível, delicado e afetuoso que deseja simplesmente que seja dada uma chance para o novo amanhecer. 


É inquestionável que seja um material pop, mas dentro do teor comercial que já é exalado do próprio gênero musical, existe uma densidade e uma profundidade que pede delicadeza nas abordagens lírico-melódicas. E PULSE é a mistura do suave com o denso. É de fato o pulso para continuar trilhando o caminho da vida e da incerteza do destino.


Lidando com medos, inseguranças, desapontamentos e dores do coração, PULSE vem como um EP confortavelmente dramático, visceral e por vezes até mesmo autobiográfico ao retratar as aflições e os desejos de recomeço vindos de um cantor que ainda está prestes a completar 21 anos.


A necessidade do aconchego, da proteção e de apenas um ombro amigo que o acompanhe e mostre o caminho certo é algo que acompanha, mesmo que indiretamente, todos os cinco enredos do EP. E para dar embasamento a essa miscelânea de emoções, Benson Boone trabalhou ao lado de John Hanes, que conseguiu transferir aos sons os sentimentos antagônicos de amor, raiva e culpa que trilharam PULSE.


A partir daí, o EP oferece ao ouvinte uma mistura de pop, inde pop, soft rock, folk, blues, new wave e R&B que soa limpa e que sobrevoa um conceito de falar das dores do coração e do amadurecimento com supervisão de nomes como Suwito, Evigan, Schick e D-Werk que dividiram a função da produção ao longo das cinco faixas.


Lançado em 05 de maio de 2023 via Night Street Records e Warner Records, PULSE é um EP de melodias delicadas que tratam com intensidade sobre os dilemas de um jovem em processo de amadurecimento. As dores do coração, o relacionamento com o tempo e a interação com a culpa são outras temáticas que fazem de PULSE um EP sensível mesmo que transpareça mais-do-mesmo por conta de seu gênero-base.











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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.