5 Seconds Of Summer - 5SOS5

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Ainda no estágio da adolescência, o grupo de pop rock australiano 5 Seconds Of Summer surpreende por sua discografia de quatro materiais lançados durante seus 11 anos de vida. Para comemorar esse tempo de existência, o quarteto decidiu anunciar um trabalho cujo título escolhido é semelhante ao autointitulado de estreia. 5SOS5 é então seu quinto disco de estúdio.


Um ambiente introspectivo começa a ser construído a partir da união entre o baixo grave de Calum Hood e o riff tímido da guitarra. Sem demora, uma voz rouca entra em cena trazendo um ingrediente mais palpável à melodia em construção. É Luke Hemmings introduzindo uma cadência rítmica de sutil, mas crescente contágio a partir do auxílio do sonar do estalar de dedos auxiliando no compasso sonoro. Existe em tal primeiro momento um tom reflexivo que explica a energia introspectiva emanada até então pela canção, algo que, inclusive, é amplificado pelas raspas agudas e uivantes da guitarra pinceladas estrategicamente no contexto. Fluindo para um refrão dramático, Complete Mess é um produto cujo enredo narra tipos de comportamento do personagem lírico que conseguem transformar a realidade vivida. O afastamento da pessoa amada é apenas um exemplo de como as atitudes podem ser danosas para a harmonia de uma relação. Não à toa que Complete Mess soa como a voz do remorso ocasionada por uma imersão caótica em relação à essência do interlocutor, o fazendo perceber seus erros e a sentir a falta da presença do outro.


A dramaticidade retorna no novo cenário graças à interpretação lírica de Hemmings e da companhia do som ácido do órgão ao fundo. Porém, diferente do drama sofrido e até mesmo sangrento de Complete Mess, aqui ele vem apenas como uma melancolia, algo somente cabisbaixo, sem dor. Estruturada até o pré-refrão com voz e órgão, a canção tem no enredo lírico o elemento que constrói a cadência rítmica até a chegada do refrão, momento em que tal sofrer tem um descanso com a entrada da bateria de Ashton Irwin auxiliando na estruturação do compasso. Entre falsetes bem executados que levam o ouvinte à segunda metade da canção, momento em que Hemmings tem a companhia do backing vocal também em falsete de Hood, Easy For You To Say amadurece como um produto nostálgico que dialoga sobre as memórias felizes de um relacionamento que está prestes a terminar. O medo do encarar a realidade e a insegurança em relação à superação da dor são questões que andam juntas no dialogar sobre a construção de um novo caminho na vida do personagem. Uma vida regida pela autoconfiança, autovalorização e empoderamento emocional.


Um som ácido e levemente cavalgante surge moldando a sonoridade da introdução através do synth de Jason Evigan. Trazendo, a partir daí, uma roupagem new wave, a canção tem um caráter de contágio superior àquele de Complete Mess e é a primeira canção de 5SOS5 a não ter um caráter melancólico-nostálgico. Tendo no baixo o elemento de pressão e corpo na melodia, Bad Omens tem uma levada pop que remonta a estética melódica do Coldplay. Não por acaso, a forma como a guitarra de Mark Schick se movimenta recria muito da sonoridade introduzida por Jonny Buckland nas melodias das canções do grupo inglês. Com tal pop de vanguarda, Bad Omens dialoga sobre o luto no sentido mais amplo da palavra. Presságios sobre um evento trágico que transforma vidas, a vontade de parar e voltar no tempo, a necessidade sonhadora do saber o futuro e poder impedir que ele aconteça. É uma canção que oferece uma visão no mínimo curiosa sobre o destino.


A guitarra traz o Sol, o frescor, o swing e possibilita uma fuga ainda mais eficiente da melancolia do que aquela oferecida em Bad Omens. Ministrada por Michael Clifford ela é o único instrumento a acompanhar Hemmings durante o primeiro verso. Ainda assim, Me, Myself & I possui um refrão dramático apenas pela questão de interpretação lírica, pois a guitarra segue sua linearidade melódica suavizando o aroma sofrido do enredo. Trazendo novamente um elo com relacionamentos, Me, Myself & I é uma questão que discute o egoísmo associado ao orgulho e, outra vez, ao remorso. 


Um som aveludado aparece dando companhia a Hemmings logo nos primeiros instantes do novo amanhecer. Seguindo a mesma roupagem pop de vanguarda de Bad Omens, Take My Hand - Joshua Tree Version é talvez aquela mais característica do 5 Seconds Of Summer. Afinal, a canção representa não apenas representa os integrantes do grupo como também toda a base de fãs que o acompanha desde o início quando dialoga sobre amadurecimento. O medo da transformação e da mudança da essência que um dia caracterizou o indivíduo adolescente sempre circundam a insegurança do indivíduo conforme vai envelhecendo, amadurecendo e ganhando mais responsabilidades. Além disso, a relação com o tempo e seu passar apressado também estão misturadas com o enredo de Take My Hand - Joshua Tree Version, a canção mais autobiográfica de 5SOS5 até o momento. 


O teclado surge em notas rápidas e revesantes enquanto dá passagem para que Hemmings, acompanhado do compasso do bumbo, entrasse em cena e já começasse a desenhar o caráter melódico da canção. Com brisas aromáticas de uma new wave setentista tímida, Carousel cresce em harmonia no refrão com a entrada da guitarra e da bateria de forma mais evidente. Ainda assim, o caráter introspectivo é predominante perante o diálogo rumo ao autoconhecimento, ao autodescobrimento e à autocompreensão. Nesse sentido, não haveria melhor metáfora para o vaivém de emoções dicotômicas do que ‘carrossel’. Por abordar tal tema, um assunto de extrema delicadeza, Carousel acaba casando com o conteúdo lírico de Take My Hand - Joshua Tree Version uma vez que ambas acabam tratando, cada uma a seu modo, do amadurecimento. 


Retomando a melancolia estacionada em Easy For You To Say, o teclado de Michael Pollack entra em uma melodia uníssona à do vocal de Hemmings. Lenta e macia em seus toques extremamente sutis de nostalgia, a tristeza presente na canção ganha doses generosas de um curioso aconchego a partir da maciez do Fender Rhodes ao mesmo tempo em que adquire um contraponto com a inserção de um timbre delicado, feminino e introspectivo. É Sierra Deaton formando um dueto romântico com Hemmings no refrão, tornando a canção ainda mais comovente. Older é uma canção que, de primeiro momento, pode parecer se tratar do amadurecimento tal como foi em Take My Hand - Joshua Tree Version e Carousel, mas em verdade, ela dialoga sobre a passagem do tempo e como ela, tornando os indivíduos que formam um casal mais velhos, transforma a realidade do relacionamento. Older é, então, a tangencialidade da melancolia do fim e a nostalgia daquilo que um dia foi estruturado sob juras de eternidade.


O teclado aqui surge quase como um personagem onipresente criando a energia quase exotérica da canção. Já com uma melodia madura a partir de seu sutil indie pop construído entre bateria e guitarra, a canção possui estrutura rítmica simples e um refrão guiado pelo vocal agridoce de Hood. Essa nova estruturação vocal proporcionou a Haze um contraponto de doçura em relação às outras canções em que Hemmings foi o cantor absoluto. Como uma canção de amor, mas não propriamente romântica como Older, Haze traz a saudade, a dependência e como a ausência da outra metade faz o personagem lírico sofrer e ter um comportamento atípico, deprimente. Interessante notar que não apenas Hood empresta seus vocais na canção. No primeiro verso da segunda metade da canção, o protagonista é o timbre rouco de Irwin, fazendo de Haze a canção mais diversificada de 5SOS5 até o momento.


Continuando essa reestruturação lírico-interpretativa, ao lado da guitarra de riff azedo e introspectivamente entristecido se encontra o vocal grave de Hood, que introduz outro tipo de textura à melodia ainda em processo de maturação. No primeiro verso, porém, You Don’t Go To Parties ganha um compasso sutilmente sensual a partir do encorpado groove do baixo que se confunde entre o ácido sonar da programação. Tomando a forma de um pop de balada ao flertar com a dance music, You Don’t Go To Parties é uma canção de lirismo simples e sem grandes significados. Afinal, ela é mais um exemplo de produto que traz como base de fundo o relacionamento e a falta que um indivíduo faz ao outro. Jovial, a canção tem uma ambiência adolescente pelo cenário lírico que constrói, o que pode ser uma boa aposta para conquistar um novo público.


Com um groove encorpado e sensual puxado pelo baixo, a canção amanhece com um compasso rítmico atrativo. Guiada pelo compasso do chimbal durante a introdução, a canção escorrega para um pré-refrão de caráter épico que leva o ouvinte para um refrão swingado e com a presença da programação de bateria de Peter Thomas na construção do tempo rítmico. Blender é uma canção que, finalizando junto ao auxílio do soprar agudo do saxofone de Jacob Scesney, fala sobre os vaivéns do relacionamento e o prevalecer do amor ante os problemas vez ou outra trazidos pelo cotidiano. 


As guitarras, em uma sincronia em que uma não atropela a outra, trazem, assim como em Me, Myself & I, o frescor que, aqui, vai tomando corpo de um pop rock praiano enquanto a bateria vai se inserindo gradativamente no escopo melódico que ainda consegue flertar com o indie rock. Curiosamente, porém, Caramel,  assim como Easy For You To Say e, mais diretamente, Older, traz um relacionamento antes perfeito, mas agora desgastado. É a vontade do não deixar o amor morrer contra a realidade do esfriamento da relação. 


A batida, junto com o sonar do teclado, cria um enredo curiosamente divertido à canção que vai se construindo. Reintroduzindo Hemmings como o protagonista do campo lírico, Best Friends possui uma estrutura popeada em seu compasso 4x4 que flerta com a roupagem melódica adotada por Katy Perry. Flertando inclusive com o indie pop, Best Friends é uma canção de ambiência de verão que traz um cunho romântico baseado na sinceridade e na honestidade sem filtro. Eis o motivo que fez com que o interlocutor se apaixonasse pela coadjuvante: o desprendimento de dizer a verdade, independente do que ela signifique.


É como acessar o inconsciente. Um sonho, um pensamento. O ambiente mental é vasto e inóspito, mas pede concentração para que a introspecção seja capaz de atingi-lo. É isso que Bleach representa. Assumindo ares românticos através dos sonares aveludados do Fender Rhodes e do vocal introspectivo de Hemmings, a canção vai se amadurecendo como outro produto de levada pop contagiante conforme vai atingindo seu clímax. Bleach representa o desejo desesperado do eu-lírico por recomeço, pela reconstrução do romance. É a vontade de deletar o passado e as chateações. Fazer não existir o comportamento esnobe que emitia uma desvalorização do outro. 


As duas guitarras formam uma melodia macia e reconfortante como o aconchego do amornar do edredom em uma noite fria e chuvosa. Apesar dessa energia introdutória, a canção logo muda seu espectro para algo mais transcendental e melancólico enquanto o personagem lírico dialoga sobre o abismo do autoconhecimento aberto a partir do término do relacionamento. Em Red Line, a escuridão e a solidão são convites para o descobrimento de questões emocionais ofuscadas pela presença do outro, questões essas que podem ser desde insegurança à latente ausência de autoconfiança.


A guitarra acústica acompanha Hemmings e Irwin em suas intercalações de timbres graves em falsetes bem afinados. Dramática, Moodswings possui grande harmonização através das combinações timbrais entre os integrantes estruturadas entre coros que acompanham o vocal principal de Hemmings. Novamente trazendo ares de culpa e consciência da responsabilidade pelo presente, Moodswings, assim como Easy For You To Say, Older, Caramel e Red Line, fala do término do relacionamento. Tal como Haze, inclusive, a presente faixa ilustra a dependência do outro como estabilizante emocional.


Caótica, dissonante e levemente atordoante em sua velocidade, Flatline causa, já em seus primeiros instantes, um senso desconfortante que passa a acompanhar o ouvinte durante a caminhada pela execução da faixa. Trazendo Hood protagonizando o refrão com um afiado falsete e vaivéns entre o pop e um flerte com o rock alternativo, Flatline é a dicotomia entre luz e sombra, positividade e negatividade, sorriso e sisudez. É quase a história da Cinderela ao avesso por trazer o personagem central hipnotizado pelo brilho autoconfiante e presente daquela que assume a função de coadjuvante na canção.


Trazendo uma novidade, a canção tem sua introdução desenhada sob a estética voz e violão e quem entrega as linhas líricas de forma absoluta é Michael Clifford e seu vocal agridoce com notas levemente mais graves. Contagiante em sua levada minimalista, Emotions  é uma canção que traz um personagem emocionalmente perdido e sempre pressionado pela outra pessoa do relacionamento a mudar o comportamento. É a confusão emocional, as dialéticas e dicotomias sentimentais que hora fazem rir e hora fazem chorar. Emotions é o autoconhecimento e a noção do que o temperamento pode fazer.


A harmonia é latente entre o baixo e a combinação de timbre estruturada no “ooh” introdutório. Contagiante em seu compasso swingado, Bloodhound é, sem dúvida, a canção mais alegre de todo 5SOS5. A sede pela vida, a ostentação, o senso desmedido de liberdade, o descompromisso e a proposital falta de responsabilidade dão à canção um ar instintivo e intenso. Porém, o ponto-chave de Bloodhound é o estimular da aceitação da própria essência. Mostrar quem se é de fato, tirar as máscaras do socialmente aceito para se ver livre e leve. Bloodhound casa, inclusive, com roupagens melódicas desenhadas pelo The Kooks, o que lhe confere uma sonoridade indie rock bastante atraente.


Um coro angelical puxa com grande harmonia a guitarra grave e melancólica. Construído sobre o compasso oco do bumbo, o ritmo tem uma estrutura minimalista e de energia reflexiva. Como mais uma canção preenchida por forte groove do baixo, Tears! é dividida entre Irwin e Hood enquanto traz um personagem em busca de motivação para viver, em busca da saída da zona de conforto da negatividade. Um alguém que, contraditoriamente, nutre um desejo insano de se sentir vivo.


Ele consegue ser dramático, mas também consegue ser contagiante. Consegue ser triste, mas também alegre. Consegue falar de relacionamentos e de romance, mas também consegue dialogar sobre os conflitos emocionais que às vezes assolam o indivíduo. 5SOS5 pode ser o produto mais maduro e consciente do 5 Seconds Of Summer, pois por meio dele existem muitos relatos de cunho autobiográfico e assuntos que pedem extrema delicadeza ao serem abordados.


Tendo a participação dos quatro integrantes afrente do microfone, mas tendo protagonismo massivo de Luke Hemmings, o álbum se vende por uma superfície agridoce repleta de falsetes bem pronunciados. Cheio de harmonias e melodias que se misturam entre o pop, o pop rock, new wave, indie pop e o rock alternativo, o álbum poderia ser enxugado no que se refere ao número de faixas, uma vez que grande parte delas transita pelo mesmo tema, mudando apenas os pontos de vista: o relacionamento.


Com uma equipe vasta, o 5 Seconds Of Summer foi respaldado por profissionais reconhecidos no mundo da música para fazer de 5SOS5 um material diferente daqueles lançados até então. De caráter mais pessoal, ele, apesar de tratar demasiadamente sobre relacionamento, traz consigo uma base lírica mais delicada e quase soturna por dialogar sobre delicadas questões emocionais.


A insegurança, a falta de autoconfiança, a dependência e ideias negativistas são apenas alguns assuntos misturados nas essências líricas como um processo de autoconhecimento dos próprios integrantes do grupo. E para que o 5SOS5 pudesse ser visceral e dramático, mas também radiofônico não apenas Neal Avron foi recrutado para o time de engenheiros de mixagem, mas também Mark “Spike” Stent, Serban Ghenea, Rob Kinelski, Michael Freeman


Stent tem em seu currículo trabalhos como Jude, de Julian Lennon e C’mon You Know, de Liam Gallagher. Ghenea assinou trabalhos como 30, de Adele e An Evening With Silk Sonic, do Silk Sonic. E Freeman, por sua vez, mixou Inside Voices/Outside Voices, de K.Flay, The Dreaming, do Monsta X, e Masquerade, de Darren Criss.


Estes são apenas alguns exemplos de trabalhos assinados por parte do time de mixagem de 5SOS5, provando estar bem respaldado e explicando o motivo de a sonoridade final ter um caráter pop radiofônico, mas sem deixar despercebido as influências de Johnny Cash e outros nomes da cena pop como Katy Perry, Coldplay e Jordin Sparks.


Para tornar o trabalho com um tom ainda mais maduro, o 5 Seconds Of Summer foi respaldado pela produção de nomes como Tim Nelson, Tyler Spry, Jon Bellion, Pete Nappi, Zander Caruso, Matthew Pauling, Colin ‘Doc’ Brittain, John Feldmann, Wylie Hopkins, Rami Yacoub, Sly, Evigan e Thomas. Clifford, um dos cantores e músicos do grupo, também assinou a produção, o que auxiliou para que 5SOS5 soasse o mais autêntico possível.


Lançado em 23 de setembro de 2022 via BMG, 5SOS5 é um trabalho autobiográfico que discute relacionamento, amadurecimento e autoconhecimento ao mesmo tempo em que mergulha profundo nas mais diferentes emoções sentidas pelo indivíduo. É um trabalho dramático com raízes pop e influências das mais variadas origens.



























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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.