Steel Panther - On The Prowl

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Três anos após o anúncio de seu sexto álbum de estúdio, o quarteto californiano  Steel Panther retomou as atividades em estúdio para enfim lançar o sucessor de Heavy Metal Rules. Intitulado On The Prowl, o álbum marca o primeiro trabalho do grupo após a pandemia e também o primeiro trabalho sem o baixista original Lexxi Foxxx, que deixou a banda em julho de 2021.


Um horizonte ácido e alegre, recriando uma atmosfera synth-pop extasiante e enérgica, é produzida a partir do sonar do sintetizador. Enquanto o teclado de Stix Zadinia recria a ambiência de um hard rock sensual ao estilo Van Halen, o baixo de Spyder, junto aos golpes precisos e espaçados da bateria, vai criando a pressão melódica que contrapõe à estrutura amplamente açucarada. Evoluindo para um hard rock que, com a guitarra de Satchel, assume aromas metalizados, a canção já apresenta, sem delongas, um teor cômico a partir da narrativa penetrante de Michael Starr. Entre falsetes, seus típicos gritos com suspiros agudos no final e a mesma afinação de sempre, Starr auxilia Never Too Late (To Get Some Pussy Tonight) a ter um caráter chiclete, radiofônico e, consequentemente, forte apelo popular com um refrão melódico de versos grudentos. É assim que Never Too Late (To Get Some Pussy Tonight), tal como All I Wanna Do Is Fuck (Myself Tonight), traz um enredo cômico sobre um personagem procurando distrações sexuais pela noite. Dificultando esconder o riso a partir de versos inusitados como a estrofe “sunday morning is coming in hot. Met a girl with a missing leg and I bought her a shot. She asked me to touch her stump and I wasn’t shy, but she ended up leaving the bar with another guy”, a canção faz o ouvinte se perder pela absurdez da narrativa e por vezes se desvencilhar da melodia. Porém, a verdade é que, fora seu lirismo esdruxulamente hilário,  Never Too Late (To Get Some Pussy Tonight) é uma canção que reforça o brilhantismo do Steel Panther na repopularização do glam metal oitentista.


Uma guitarra áspera e sensual rompe irrompe na introdução. Empregando e ilustrando de maneira ideal a tênue divisa entre hard rock e heavy metal, a canção é puxada por um sombrio, mas sexy amanhecer que dá passagem para uma frase minimalista, porém com rompantes de pressão proporcionados pelo uníssono do punch entre bateria e baixo. Reproduzindo a aura do rock oitentista. Com refrão de versos chiclete, Friends With Benefits traz novamente um enredo cômico que, pelo nome, já se tem uma ideia do que se trata. A canção não é apenas uma alusão à categoria de amizade colorida, mas sim uma atualização da mesma. Tal relação se torna mais intensa, mais liberal, mais independente, mas também mais sensual e provocante. É como a fusão da amizade colorida com ação e reação, mas em se tratando do Steel Panther, ela vem com densa sexualidade, humor e deboche. 


Dramática, levemente adocicada e minimalista. Teclado e guitarra acústica fazem da introdução de On Your Instagram uma balada romântica. Amadurecendo como, de fato, a primeira balada declarada de On The Prowl, a faixa assume uma melodia oitentista que relembra aquela de 18 And Life, single do Skid Row, enquanto dialoga sobre um falso romance. Em verdade, On Your Instagram traz uma vertente curiosamente crítica proposta pelo quarteto em que ele evidencia o narcisismo associado à insegurança e falsidade. O excesso de filtros em fotografias do Instagram não apenas esconde a verdadeira pessoa por trás do efeito, mas também vende uma falsa imagem da mesma. Claro que, em se tratando de Steel Panther, o criticismo fica em segundo plano e o que realça é a imaturidade cômica e debochada.


Provocante, sexy, escorregadia. Um hard rock levemente metalizado grita na introdução como uma sedução irresistível. Apesar disso, a primeira estrofe é regida por uma melodia em 4x4 de sonoridade não tão excitante, algo que, felizmente, não ocorre com o refrão ou a ponte rítmica para sua segunda metade. Put My Money Where Your Mouth Is é uma perfeita alusão ao sexo oral e suas variantes, além de ser ambientada como em um clube de striptease. Mais do que isso, Put My Money Where Your Mouth Is é uma faixa que representa um desafio, uma provocação para as pessoas fazerem e não apenas dizerem. No contexto em questão, é para partir para atos libidinosos e não ficar apenas na ideia.


Com um violão adocicado, mas não grudento, a canção ganha os primeiros raiares de Sol com algo que soa como um embrionário e contagiante folk. Amadurecendo com uma melodia metalizada, mas ainda macia, a canção acaba se mostrando como a primeira balada do álbum. Fugindo do aspecto sexual pungente de Never Too Late (To Get Some Pussy Tonight), 1987 é, como o próprio nome sugere, uma canção saudosista do ano de 1987. Não à toa que, assim como Death To All But Metal, a presente canção traz inúmeras referências daquele período. De Guns and Roses, passando pelo Poison e citando tanto Whitesnake quanto Ozzy Osbourne, Judas Priest e Scorpions, 1987 é a memória afetiva de tempos de intensidade, insanidade e liberdade no sentido mais estrito da palavra, um sentido que chega até a significar imprudência. Conseguindo ainda criticar a futilidade e o efeito da era tecnológica como artifício da perda do apetite da realidade, 1987 é simplesmente uma ode à vida e a um ano em que não haviam preconceitos. Um ano em que a cultura do rock n’ roll rompeu a barreira da designação conservadora do que é ser masculino e feminino.


Um heavy metal melódico ao estilo Iron Maiden surge no alvorecer. As guitarras em união aos golpes secos entre chimbal e bumbo causam uma pressão interessante à melodia nascente. Curiosamente, ainda, a sincronia entre os mesmos instrumentos cria, no primeiro verso, frases que se assemelham com a melodia de Highway Star, single do Deep Purple. Sonora, melódica e com toques de uma sensualidade suave, Teleporter é uma canção sobre ser pego de supetão em situações constrangedoras por amigos ou parentes e a vontade de se teletransportar para outro lugar para esconder a vergonha. 


É verdade que a guitarra grave da introdução oferece requintes de folk. Porém, quando a canção entra em seu instrumental inicial, entre os gritos da guitarra de Dweezil Zappa, a melodia base que se forma relembra de forma nítida a melodia dos versos de Let The Record Play, faixa do Ugly Kid Joe. Is My Dick Enough é provavelmente a canção que representa a maior insegurança e, consequentemente, o maior ponto fraco dos homens: a potência de seu pênis em entregar o nível ideal de prazer aos seus pares. Curiosamente, a narrativa não oferece tanto humor quanto aquela de Never Too Late (To Get Some Pussy Tonight) e faz o ouvinte se entreter somente pela sonoridade que oferece.


O teclado surge adocicadamente ácido como se, de maneira gradativa, trouxesse a luz do amanhecer banhando o horizonte. Com sua temática new wave, ele dá passagem para uma guitarra cujo riff se apresenta doce e até mesmo romantizado. Não à toa que até mesmo a interpretação de Starr é mais introspectiva e de caráter de aparente sentimentalismo. Porém, conforme o lirismo vai construindo um enredo mais linear, o ouvinte vai arregalando os olhos e construindo sorrisos frouxos. Afinal, em se tratando de Steel Panther, até a canção mais fofa tem suas peculiaridades. E Magical Vagina é um exemplo disso. Apesar de sua melodia suave, aconchegante e romântica, a declaração de amor não é para ‘a’ ou ‘uma’ pessoa e sim por sua vagina e a graça, que existe de maneira tímida, está na forma como essa demonstração de afeto é construída. Assim como Never Too Late (To Get Some Pussy Tonight) e mais precisamente On Your Instagram, 1987, Magical Vagina entra no rol de baladas de On The Prowl.


De beat rítmico e contagiante, a bateria surge solitária por alguns instantes durante a introdução até ser acompanhada por um teclado de notas metálicas e ácidas. Entre rompantes ásperos da guitarra que rompem o aparente marasmo da sonoridade durante o primeiro verso e inclusive causam uma semelhança com a mesma estratégia adotada por Tom Morello em Show Me How To Live, single do Audioslave, All That And More surpreende ao oferecer um refrão explosivo e potente. De baixo presente e bem marcado, e um solo glam, a faixa é mais um material que enaltece a virilidade masculina de forma cômica.


De flertes com uma base funkeada, a canção surge com uma melodia trotante típica e já reconhecida do Steel Panther. Curta em sua duração e em humor, One Pump Chump pode ser tanto sobre ejaculação precoce quanto a virilidade na terceira idade. Definitivamente, a canção mais sem vida do álbum. Afinal, nem sua melodia, nem seu lirismo entregam algo marcante.


Contagiante em sua maciez, a melodia minimalista da introdução é fresca e soa como um alvorecer esperançosamente revigorante. Inserida obrigatoriamente no rol oficial de baladas de On The Prowl ao lado de On Your Instagram, 1987 e Magical Vagina, Pornstar é uma música que retoma a comicidade orgânica e inevitável, que é a marca do Steel Panther. O mais interessante é que, de maneira inovadora, ela retoma a temática de Fat Girl (Thar She Blows!), single de Feel The Steel, álbum de estreia do grupo californiano. A verdade é que, devido ao tom cômico, a gordofobia aparece de forma hilária, mas isso não esconde o fato de que Pornstar tem um lirismo ácido por ter, em seu enredo, citações do Papa e de Harvey Weinstein. Ainda assim, é a responsável por reascender o riso frouxo de maneira natural e incontrolável no ouvinte.


Doce, macia e ondulante. É quase como uma rememoração da melodia emocional de Wild Horses, single do The Rolling Stones. Sozinho, o violão consegue proporcionar uma nostalgia que chega a marejar os olhos do ouvinte, mas algo rompe esse momento saudosista particular de cada espectador. É o enredo de Ain’t Dead Yet que, apesar de realmente ser recheado da nostalgia dos tempos viris, ativos e enérgicos, traz uma obra com um enredo digno de atenção por trazer um personagem convivendo com as memórias do auge da carreira e com o momento presente: a última apresentação. Mesmo tendo um ar melancólico e até mesmo fúnebre, Ain’t Dead Yet pode significar o fim de um ato, mas não o fim do indivíduo. Não à toa que a presente faixa é um bom exemplo não apenas de perseverança e persistência, mas de vivacidade. De todas as canções apresentadas até o momento, Ain’t Dead Yet é não apenas a balada mais emblemática, superando até mesmo as rivais On Your Instagram, 1987, Magical Vagina e Pornstar, mas também a canção mais bem construída de On The Prowl, que conta inclusive com belos duetos entre Starr e Satchel.


De despertar explosivo e amplamente sensual, tais primeiros sonares dão passagem para frases melódicas mais-do-mesmo que fazem a excitação declinar drasticamente, Sleeping On The Rollaway é uma música lírico-melódica de qualidade tão triste quanto aquela de One Pump Chump. Uma maneira infeliz de encerrar um álbum que, por pouco, não teve seu fim decretado por sua obra-prima.


Comicidade. Essa é a palavra que acompanha o enredo de On The Prowl, sem dúvida. Porém, parece que o Steel Panther entrou em uma área sombria dentro de sua própria zona criativa. Após seis álbuns lançados, o quarteto californiano finalmente se mostra saturado em seus deboches.


Dentre suas 13 faixas, além dos lirismos serem repetitivos, as melodias não demonstram novidade por parte dos músicos. Sim, as canções são enérgicas, excitantes e por vezes até explosivas, mas a base da receita é a mesma, chegando a desanimar em alguns momentos. Não por menos, o ouvinte se depara com semelhanças estilísticas até mesmo entre outras canções do próprio grupo, o que comprova a teoria de saturação.


Fora Never Too Late (To Get Some Pussy Tonight), Is My Dick Enough e One Pump Chump, que representam pontuais inserções de folk, funk, new wave e synth-pop, o álbum não se liberta do tripé confortável do hard rock-glam metal-heavy metal, mesmo na presença de Jay Ruston na mixagem, que por seu tempo de convívio, poderia ter sugerido outros caminhos criativos. No que se refere a união de melodia e lirismo, Ain’t Dead Yet é a única que se destaca de forma genuinamente positiva.


Em certa medida, pode-se até dizer que esse ponto atingiu também o Nickelback. Porém, diferente dos californianos, o quarteto canadense conseguiu, em Get Rollin’, manter a qualidade de suas composições a partir de melodias contagiantes abraçadas por enredos diferenciados e roupagens mistas. 


Com On The Prowl, o grupo mantém, mesmo que descaradamente debochado, um perfil que o heavy metal está começando a desconstruir: o machismo e o sexismo estruturais. Não por acaso, são raras as composições no álbum que não sejam sobre virilidade ou que tragam alusões ao sexo e suas vertentes.


Claro que em tempos de ‘poíticamente correto’, certos humores podem ser considerados ofensivos mesmo respaldados pela liberdade de expressão que abrange desde a música à comédia, campos bem dominados pelo Steel Panther. Porém, a verdade é que On The Prowl oferece o humor menos natural e orgânico em relação aos trabalhos anteriores do quarteto californiano.


Lançado em 24 de fevereiro de 2023 de maneira independente, On The Prowl é a prova de que a piada pode ser saturada e que a autoprodução pode auxiliar nesse fatídico veredicto. É um produto que ilustra a necessidade de o Steel Panther criar enredos cômicos abrangendo outros campos que não apenas o sexual. Um material mais-do-mesmo com melodias e enredos semelhantes, mas que, ainda assim, mantém a autenticidade do deboche e da diversão.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.