Fall Out Boy - So Much (For) Stardust

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 5 (1 Votos)

Cinco anos após o anúncio de Mania, o grupo de Illinois Fall Out Boy retorna ao estúdio para enfim anunciar So Much (For) Stardust, seu oitavo e mais recente disco de estúdio. Trabalho integra a discografia do quarteto, que já conta com outros sete Extended Plays e uma compilação.


Dramaticidade e notas adocicadas são inseridas em uma introdução de latente suspense promovido pela Orquestra Metropolitana de Londres. Não demora muito, no entanto, para que esse mesmo despertar se torne explosivo, excitante e levemente sujo. A segunda metade do amanhecer da melodia faz renascer a miscelânea do rock alternativo com o pop punk. Muito disso se deve à fúria com que as guitarras de Patrick Stump e Joe Trohman se movimentam em sintonia com o groove consistente e preciso de Andy Hurley. Com a inserção de sonares de violinos por parte do sintetizador, a canção ganha um rompante dramático que transforma a ambiência melódica. Quando Stump exala seu timbre aberto, grave e típico, entre falsetes e vocais limpos, a faixa ganha um compasso mais contagiante e pertinente para a participação do público por meio de palmas que caberiam perfeitamente em sintonia com a estrutura criada entre a bateria e o baixo de Pete Wentz. Agraciada por um ritmo nostálgico que acalenta a memória afetiva dos ouvintes, Love From The Other Side, uma música que fala sobre amor, sobre um relacionamento não rotulável e imperfeito, mas ainda assim regido pela coragem. Discutindo, ainda, conceitos do mundo moderno como o jogo da imitação, Love From The Other Side tem sua finalização de maneira dramática e explosiva, quase como um looping narrativo-melódico.


O som agudo e trepidante do sintetizador entra em cena solitário, mas logo é acompanhado pelo timbre vocal grave de Stump, elemento que é, inclusive, responsável por criar a cadência da melodia ainda em processo de maturação. Até aí, somente o pop é o gênero em evidência. Porém, quando a bateria entra em cena, o compasso rítmico ganha mais pressão e uma levada que designa um contágio gradativamente mais estimulante e enérgico conforme a guitarra base vai assumindo sua posição de forma tímida. De refrão chiclete e melódico, Heartbreak Feels So Good oferece outro tipo de holofote ao Fall Out Boy: mais intimista e radiofonicamente pop em relação a, por exemplo, Love From The Other Side. Como uma canção que fala sobre amadurecimento, o quarteto fisga na medida certa seu ouvinte fiel, que teve sua maturidade em sintonia com o crescimento do próprio grupo. E nesse sentido, existe um toque nostálgico no lirismo que aproxima o ouvinte e conquista facilmente sua atenção. Heartbreak Feels So Good é cativantemente grudenta.


Com um baixo marcante e encorpado cuja estética recria aquele swing notório criado por John Deacon na introdução de Another One Bites The Dust, single do Queen, e ao mesmo tempo misturando a mesma energia presente no amanhecer de Separate Ways, single do Journey, a canção já traz, por meio da interpretação lírica de Stump, um tom de deboche de notável ironia. Hold Me Like A Grudge se amadurece como um material dançante com um refrão simples, mas cativante. É assim que a canção convida o ouvinte a mergulhar em uma reflexão sobre rejeição, autoconhecimento e noções de pertencimento através de um enredo que, superficialmente, trata da instabilidade de uma relação associada ao ato de reatar tais laços. Para fechar essa análise, Hold Me Like A Grudge ainda traz consigo flertes de um soft rock que muito rememoram as melodias do Maroon 5.


Dramática, melancólica e com toques sombrios. O riff cabisbaixo da guitarra faz nascer um horizonte cinzento e chuvoso que refletido pelos olhos do ouvinte. A entrada gradativa da bateria, com sua cadência acelerada, tenta quebrar essa tristeza visceral a partir de uma base rítmica new wave, o que de fato ocorre. No lugar das lágrimas, porém, o que entra em cena é a nostalgia banhada por uma luz solar morna e reconfortante de um entardecer de outono. De refrão contagiante, cuja estética soa como a trilha sonora de um longa-metragem juvenil, Fake Out é uma canção que dialoga sobre decepções amorosas associadas com um processo árduo, mas conquistado, de superação. Fake Out ainda reflete sobre como a convivência com o outro pode interferir na essência do indivíduo em prol de algo que é sonhado ser para sempre e que, no fim, se torna apenas planos nunca concretizados.


O compasso rítmico já é logo definido pelo chacoalhar do caxixi. Sem demora, o que se constrói é uma ambiência densamente exotérica cuja cadência lírica executada por Stemp rememora aquela executada por Fergie no refrão de Don’t Lie, single do The Black Eyed Peas. Recheada de grandiosas harmonias criadas por um coro de quatro vozes trazidas por Julia Waters Tillman, Luther Waters, Oren Waters e Maxine Waters Willard, Heaven, Iowa é minimalista e melodicamente sensitiva em seus sonares de conjuntura mântrica. Como mais uma canção de So Much (For) Stardust a trazer a temática do relacionamento, Heaven, Iowa, dialoga sobre o desejo da reciprocidade, sobre as inseguranças que o indivíduo possui sobre si. De outro lado, a faixa parece trazer um enredo sobre o desejo do eu-lírico em salvar a personagem coadjuvante de seu estado emocional volátil e aprofundado no sombrio. Uma verdadeira dose de autoconhecimento e motivação.


Ensolarada e denotativamente contagiante, a melodia já amanhece amena e em moldes de possibilitam grande aceitação popular. Repleta de frescor, So Good Right Now traz Stump executando bons falsetes em uma estrutura melódica que mistura pop e indie rock, uma ambiência cuidadosamente desenhada para adornar um enredo que narra o bem-estar consigo mesmo e com os próprios sofrimentos. Aqui, o autoconhecimento e autoaceitação, além de serem atingidos, eles se unem com um orgulho frente a atitudes autênticas. Ao mesmo tempo, porém, So Good Right Now abriga uma crítica ácida à pressão social. Afinal, seu enredo também pode representar a agonia de um indivíduo em não se sentir pertencente e aceito pela sua rede de convivência, além de abordar a infelicidade da pessoa ao assumir identidades apenas para agradar o outro. Interpretação pode ser reforçada por meio dos versos “I cut myself down”, “cut myself down” e “to whatever you need me”.


A melodia é curiosamente não-sinérgica em relação à dramaticidade ácida de seu enredo lírico. Em certo ponto, é até capaz de enxergar lapsos de loucura nele. Em The Pink Seashell, Ethan Hawke se encontra em um interlúdio na forma de monólogo sobre intensidade e tristeza. A faixa evidencia, ainda, sua assumição de que busca, nos momentos simples da vida, uma espécie de fuga para esses sentimentos que revivem a lamentação da perda e da solidão.


Os violinos desenham uma sinfonia dramática e levemente intensa que toma um corpo de enigmático e grandioso suspense a partir do sopro opaco do trombone de Bill Reichenbach Jr.. Quando o crescente e acelerado soprar adocicado do clarinete de Dan Higgins entra em cena como uma espécie de ponte divisória entre as duas partes da introdução, o que se tem é uma melodia ainda mais dramática e intensa que leva, ainda, os sonares agudo-estridentes dos trompetes de Dan Fornero e Wayne Bergeron como auxiliadores na criação de tal ambiente. De estrutura harmônico-melodica grandiosa, I Am My Own Muse é um diálogo sobre a repressão dos sentimentos como uma atitude de autodefesa. A falsa normalidade como estratégia para que o outro pense entender o que o indivíduo está passando para, então, deixá-lo em paz. É assim que I Am My Own Muse, além de ser um single marcante e enfático de So Much (For) Stardust, cria uma sequência linear junto a So Good Right Now. Intensidade, dramaticidade e sensibilidade fundidos na medida certa para criar uma canção denotativamente marcante.


Um riff sujo e ácido surge solitário no novo amanhecer. Logo, porém, ele é precedido de um groove contagiante e levemente acelerado. De temática sutilmente intimista, a melodia que cobre o primeiro verso possui um quê intrigante pela sua linearidade de excitação enigmática. Trazendo um pop punk típico do Fall Out Boy, Flu Game dá seguimento à sequência de enredos psicológico-emocionais. Aqui, a faixa reabre a discussão sobre pertencimento e solidão enquanto reflete sobre a necessidade de criar um falso cenário para que o outro se sinta bem. Quase como a sonorização do dramático longa-metragem A Vida É Bela, Flu Game demonstra o sacrifício de uns para acobertar ou, ainda, excluir o sofrimento do outro, mesmo também vivenciando um conflito emocional.


Na mesma estética de The Pink Seashell, Baby Annihilation surge como um interlúdio entorpecente em sua melodia transcendental. Com um enredo narrativo e lúdico, a faixa traz a história de um crocodilo que vê os anos passarem sem ser quem é. Baby Annihilation é uma faixa educacional e imagética que se apoia em boas metáforas para discutir medo, insegurança e, inclusive, bullying. É um texto curto sobre rejeição e sobre julgamentos que ferem o íntimo do ser e o acoam em uma muralha, escondendo o próprio eu para viver uma mentira que se enquadre no outro.


Com início semelhante àquele de Candy, single conjunto de Iggy Pop e Kate Pierson, por conta do sonar ecoante e do compasso seco do chimbal. De base exotérico-transcendental, a forma como a cadência lírica se posiciona é como uma versão mais lenta daquela feito pelo One Direction no refrão de seu single What Makes You Beautiful. De grande harmonia e de levada mais pop, a ensolarada e contagiante The Kintsugi Kid (Ten Years) se posiciona, melodicamente, como mais um importante single de So Much (For) Stardust. Assim como outras canções do álbum que parecem tratar de trivialidades, a presente faixa trata de vício, de desolamento, de falta de pertencimento e, principalmente, da orfandade de apoio. The Kintsugi Kid (Ten Years) é a simples história de alguém que encontrou o próprio jeito de resolver seus conflitos emocionais depois de ter seus pedidos de ajuda ignorados. Ainda assim, a faixa tem um refrão-chiclete acompanhado de um entorpecido e adocicado sopro suavizante da flauta que, junto ao equivalente dulçor e adicional toque de ingenuidade vindo da voz de Marvel Jane Love Wentz nos backing vocals, ameniza a aspereza do enredo lírico.


Com um pop que remete àquele nauseante synthpop construído em Call Me Maybe, single de Carly Rae Japsen, seus primeiros instantes introdutórios ainda se assemelha à estética de YMCA, single do Village People. É assim, com uma fusão de synth-pop, disco e rock que What A Time To Be Alive se apresenta ao ouvinte. Com swing e um compasso contagiante, a faixa tem o propósito de dialogar sobre a gratitude de ter conseguido atravessar a fase turbulenta da Covid-19 com vida. Nesse aspecto, a música ainda aborda a necessidade associada à carência de interação social e a estranha saudade de um tempo em que a rotina e a sociabilização pareciam normais.


Com uma valsa de violinos chorosa e lamentosa, a canção tem seu amanhecer. Amadurecendo para uma ambiência propriamente dramática, a faixa traz Wentz sob um timbre mais azedo e respaldado por rompantes souls promovidos pelo time de instrumentos de sopro que rompem a melancolia. Ainda assim, o refrão sustenta essa intensidade dolorida, enquanto o enredo da faixa-título mostra tratar novamente do autoconhecimento associado a autoaceitação. A faixa-título revive, inclusive, subtemas como pressão e julgamento, bem como o medo de se estar solitário consigo mesmo e enfrentar seus próprios demônios.


O retorno do Fall Out Boy mostrou muito mais do que faixas mainstream como Thanks For The Memories e Dance, Dance. Em So Much (For) Styardust, o quarteto se mostrou mais maduro e consciente de sua posição frente o público emo-pop-punk. Até por isso, o álbum surgiu representando essa fatia com temáticas mais delicadas e profundas.


Autoaceitação, pertencimento, autoconhecimento. Pressão e julgamento. O novo álbum é um belo recorte de como a sociedade exige muito e acolhe pouco. Um retrato da falta de sensibilidade e empatia associada a um intenso conservadorismo. Apesar de ser focado no jovem, So Much (For) Styardust mostra o resultado de como a intolerância pode ser fatal para o desenvolvimento do indivíduo.


Juntando todos esses aspectos, faixas como Fake Out, So Good Right Now, The Pink Seashell, I Am My Own Muse, Baby Annihilation e The Kintsugi Kid (Ten Years) são grandes e representativas títulos que muito bem representam a análise social proposta pelo álbum. E para dar mais peso a esses estudos, o Fall Out Boy teve mais ajuda.


Steve McLaughlin e Neal Avron ajudaram o quarteto de Illinois a voltar à ativa, fugindo, ao menos no campo melódico, do estereótipo pop punk, uma tentativa que também foi executada pelo Paramore em This Is Why, seu álbum de retorno. Com uma veia dramática, So Much (For) Stardust fundiu o pop punk padrão a gêneros como synth-pop, disco, soft rock, indie rock, rock alternativo e new wave.


Lançado em 24 de março de 2023 via Fueled By Ramen, So Much (For) Stardust marca o retorno de uma das bandas mais representativas do pop punk. Com profundidade, sensibilidade e veia crítica, o álbum tem como critério estudar como o perfil da sociedade interfere na construção da identidade e no amadurecimento da população jovem.



















Compartilhe:

Cadastre-se e recebe as novidades!

* campo obrigatório
Seja o primeiro a comentar
Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.