A bateria é o elemento que funciona como abre-alas da canção. Com sua levada crua, ela dá passagem para que o piano de Thomas Charlie Petersen surja como em um escorregão. Dando vasão para que a guitarra de Rasmus Bruun desfile seus riffs de caráter interessantemente melancólico ao lado dos pontuais, mas necessários, sopros da tuba de Bebe Risenfors, a introdução assume uma linearidade capaz de entorpecer e hipnotizar o ouvinte.
De estrutura trotante em que o elemento mais doce e ao mesmo tempo gélido recaia sobre a voz de Thomas, a canção consegue criar uma ambiência levemente teatral. Nesse ínterim, Daniel Petersen vai entrando em cena com delicadeza e, com mais cuidado ainda, vai oferecendo seu backing vocal para que o cantor principal tenha mais liberdade de atuação.
Crescendo em um refrão harmônico graças à contribuição de Daniel, Clock With No Hands começa a deixar claro seu viés romântico e apaixonado. Com um lirismo repleto de metáforas à previsibilidade e à atemporalidade, a faixa enaltece a figura da pessoa amada como um alicerce que mantém a normalidade em curso e afasta os mínimos sinais de heterogeneidade.
Produzida e mixada por Emil Isaksson e a Vinyl Floor, a canção traz uma estrutura bem feita e com uma sonoridade bem definida. O único detalhe que poderia valer a atenção é a falta de destaque no baixo de Rob Stoner. Apesar de, sim, ele ser percebido em alguns momentos, sua participação é trazida de maneira tão delicada que seu som pode escapar como um filhote de pássaro ansiando pela liberdade de seu primeiro voo.