A bateria surge em frases de punch que soam levemente desnorteadas, confusas. Embriagadas. Cruas, assim que a guitarra surge em um relâmpago distorcido e ácido, ela encontra seu rumo e passa a desenhar uma base rítmica lúcida e consistente. Ainda que sendo o primeiro elemento indispensável para a criação da energia da canção, ela ganha outras companhias importantes, como a já citada guitarra e o teclado, percebido ao fundo, com seu dulçor ácido entregando as primeiras menções de harmonia.
Na forma de um pop punk da virada dos anos 90 aos 2000, a canção acaba dando ao baixo grande responsabilidade em relação à criação da densidade melódica ideal à sua estrutura sonora. Nesse ínterim, uma voz feminina levemente aguda e aveludada entra em cena preenchendo a camada lírica. Ao lado de backing vocals monossilábicos contribuindo com a esfera harmônica, a cantora, com seu sotaque inglês afiado, vai deixando a obra, gradativamente, mais contagiante.
Divertida, de traços ligeiramente cômicos, esteticamente atraente e melódica, ainda que com notável flerte com um som de garagem, Cary Grant é uma canção em que a narradora se utiliza da imagem de um homem garanhão e frio como um gancho para incentivar outras mulheres a se empoderar, a ter autoconfiança e autoadmiração. A autoestima, aqui, é um elemento que auxilia, inclusive, no caminho rumo à superação de experiências que machucaram o coração. Outra interpretação, porém, é a de que o The Linda Brady Revival critica a idealização feminina de um homem perfeito. Um príncipe disneyresco.