
Sem qualquer menção de delonga, a guitarra solo já entra em cena confiante, certa e imponente em sua postura sensualmente provocante. Rapidamente acompanhada por uma guitarra base pulsante, um baixo encorpado e trovejante, além de uma bateria explosiva, o instrumento vai moldando um terreno atraente e de caráter levemente libidinoso.
De natureza ensolarada, a harmonia que se cria entre os instrumentos ainda é agraciada por uma guitarra em efeito lap steel que uiva aos quatro ventos em uma perfeita metáfora que incita um senso desmedido de liberdade. Esse novo ingrediente, inclusive, é o responsável por dar ao ecossistema uma caracterização folk no que se refere à estética, mas, no que tange o sensorial, traz consigo o bucólico e o interiorano para os holofotes.
De movimento rítmico amaciado e estética sonora dos elementos de corda se mostrando pulsante, a canção tem seu enredo lírico vivido através de uma voz masculina agridoce e levemente fanhosa que amplifica a percepção estrutural enviesada no folk. Porém, antes mesmo que Shanky pudesse arregimentar seu terreno vocal, ele é logo acompanhado por uma voz feminina de caráter doce e suavemente aveludado.
Com essa companhia, a canção não apenas é agraciada por momentos pontuais de duo vocal, mas ganha, com tal recorte, uma harmonia que chega a ter um charme bastante belo. Por meio dessa arquitetura conjuntural, Silent Wonder, adornada por um enredo penetrante que traz consigo a história de uma figura quase mitológica que agiu em prol do bem-estar de seus iguais, quase como uma espécie de símbolo altruísta, prende a atenção do ouvinte em vista de uma combinação entre storytelling bem arregimentado, harmonia bem trabalhada e um instrumental sincronizado a ponto de criar um escopo rítmico-melódico maduro e consistente através de seu folk-rock-pop.