
É como o vislumbrar do alvorecer do dia surgindo por entre o horizonte marítimo. A delicadeza do céu crepuscular, com a adesão de notas aromáticas florais surgindo junto da brisa nascente do dia, faz com que a canção já adquira uma atmosfera agradável que surte, no ouvinte, a sensibilidade inerente ao conforto e ao aconchego.
Graças às nuances sonoras de caráter unicamente aveludado produzido pelo sintetizador, a canção deixa escapar flertes estéticos para com uma roupagem calcada na paisagem da new wave com traços pops e de natureza contagiantemente dançante. Nesse ínterim, o mais curioso é perceber que, em meio a uma sonoridade excessivamente sintética, o ouvinte se depara com uma presença orgânica bem-vinda proveniente do baixo.
Notado através de sua desenvoltura linearmente ondulante ao ponto de ofertar uma equilibrada consistência à canção, sem alterar a sua atmosfera delicada e aveludada, o baixo dá à atmosfera suaves conceitos de consciência em meio à energia entorpecente. Ainda assim, é inquestionável que o que a composição mais transpira é um senso de bem-estar profundo que é capaz de apaziguar qualquer estado de espírito, algo também alcançado por meio do timbre agridoce e delicado de Martin Oh.
De estética delirante, é interessante destacar que existe uma energia nostálgica pairando pelo ar de uma cenografia sensorial veranista, enquanto o enredo lírico se desenvolve a ponto de escancarar uma mensagem de caráter, curiosamente, motivacional. Isso porque Neverland traz consigo sugestões que levam o ouvinte a refletir sobre a percepção perante sua própria autoconfiança. É a aquisição do senso do puro amadurecimento que leva à coragem de encarar a liberdade e se desvencilhar da insegurança. Do medo. Na canção, portanto, entre o torpor e o veludo do electropop com nuances new waves, Oh aborda, como a base de seu diálogo, a superação.