Não existe qualquer sinal de cerimônia ou timidez. Afinal, a canção já começa com um punch ácido e consistente proporcionado pela união das guitarras de Pedro Bap e Raul Ferreira e da bateria de Daniel Moscardini de forma a criar uma ambiência crua, mas que, ao mesmo tempo, é capaz de transpirar certo grau de sensualidade. Com essa estrutura inicial, a camada melódica passa a ser agraciada, também, por uma voz grave.
Surpreendendo os ouvintes pela sua força e toques rasgados provenientes do drive ao qual se apega durante o canto, Mariana Camelo surge imponente e já transpirando uma postura rock n’roll quase suburbana. Com sua imponência, a cantora distrai o ouvinte durante o período em que a canção entra em uma linearidade constante, até que começa a mostrar suas silhuetas empoderadas.
Durante o pré-refrão, Águas De Julho traz ligeiros toques de humor que a deixam um tanto divertida, enquanto seu instrumental flui para uma estrutura mais rápida e melódica. Porém, é, de fato, no refrão, que a mágica acontece. Explodindo em uma sonoridade forte, excitante, enérgica e quase libidinosa, é nesse momento em que a obra injeta doses generosas de adrenalina no ouvinte.
Narrando, de forma debochada, aquilo que parece ser a experiência de um indivíduo intenso repetindo os mesmos erros, Águas De Julho traz um baixo de Alysson Resende de linha ligeiramente trotante capaz de dar o peso necessário à canção, o que mostra, de certa forma, um êxito da mixagem. Ainda assim, sua presença é como a de um personagem onipresente que traz, à obra, a perfeita significância do que é consistência.
Contudo, o que Águas De Julho chama mesmo a atenção é na sua função de apresentar um novo nome ao circuito do rock nacional. De estirpe garageira e trazendo referências de nomes como Pitty, Mariana Camelo mostra ter um potencial suficiente para fazê-la romper os limites do som underground e alçar, em um futuro próximo, voos mais longos.