É como estar sentado em um gramado verdejante observando o cair do Sol embebido por uma paisagem bucólica perfumada pela sua simplicidade espectral. Fresca e delicada, a melodia que puxa a introdução é regida por uma equilibrada simetria entre guitarra e baixo a ponto de promover vivacidade, mas, ao mesmo tempo, uma espécie de veludo de postura extremamente gentil.
Assim que a bateria é percebida de maneira crescente, ela assume a função de oferecer ao ouvinte a divisão entre introdução e primeiro verso. Afinal, quando ela atinge seu pico mais alto com seus golpes uníssonos entre caixa, surdo e bumbo, a canção é levada para um cenário de frescor inebriante que se destaca por um primeiro palato harmônico que já se mostra, de certa forma, tocante, graças à maneira com que Kenyon Grey pronuncia as palavras dos primeiros versos se combinam com a delicadeza do piano que caminha educadamente pela base melódica.
É nesse mesmo instante que, além de o espectador se ver fisgado pelo timbre grave e ligeiramente nasal de Grey, o baixo se torna um importante elemento na construção da consistência e precisão melódicas, enquanto se movimenta amaciadamente, junto ao piano, na base melódica. Agraciada por harmonias vocais conforme se encaminha para o refrão, a canção amadurece sua presença por meio de uma nítida receita sonora versátil.
Afinal, enquanto o que salta aos ouvidos é um folk de caráter bucólico, a base rítmica desenhada pela bateria traz um enquadramento típico do rock, proporcionando uma noção fluida de movimento. Amarrando tudo isso, está o aroma e o sabor românticos que Cherish The Lullabies despeja pelo ecossistema. Nela, Grey não apenas exorta seu amor, admiração e carinho pela sua esposa, mas destaca o seu sentimentalismo perante a maneira com que ela trata e se envolve com seus respectivos filhos. Detalhe é evidenciado no momento em que ela canta canções de ninar, fato que consagrou o amor do vocalista pela sua figura maternal e cuidadosa.