Sua introdução é regida por uma delicadeza espectral, palpável. Fornecida unicamente por um piano que, sem cerimônia, já transpira profundas camadas emocionais, as quais vão de um inebriante torpor a certo quê de melancolia, ela é abraçada, simplesmente, por uma melodia intimista e minimalista em sua tomada pegajosamente dramática. Evidenciando uma fragilidade tocante, o aspecto introspectivo desse amanhecer faz com que o ouvinte se sinta ao relento sob um céu cinza e agarrado a uma cabisbaixa garoa.
Rapidamente, a camada lírica começa a ser preenchida por uma voz masculina afinada em seu tom suavemente agridoce. Sob uma interpretação verbal introspectiva tal como se cada palavra proferida fosse lançada ao vento em busca de uma resposta capaz de sanar certo grau de angústia facilmente perceptível, Jimi Kempsey fornece um toque agradavelmente rasgado que rompe com o torpor até então experienciado pela melodia.
De energia profundamente emocional, a canção passa a testar ainda mais seu viés dramático conforme novos elementos são introduzidos à melodia. A guitarra elétrica, ouvida apenas com a devida atenção, no entremeio da base sonora, o violão trazendo um perfume fresco que confere ainda mais destaque à estética delicada, e a bateria, que desenha um compasso rítmico com sincrônica leveza, conseguem conferir um toque rascante e até mesmo visceral à gama de sentimentos propostos em The Other Half Of Me. Nesse ínterim, o que chama a atenção é o viés autobiográfico percebido pela forma com que Kempsey profere cada palavra, garantindo ao enredo uma energia intensa e pungente que transpassa o limite do som e toca, de maneira bastante íntima, o espectador.
