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A bateria de David Augusi é o elemento responsável por, a partir de uma frase repicada, promover o despertar da introdução. Antes mesmo que o ouvinte se ambiente em relação à energia que a sonoridade propõe, a guitarra solo de Thiago Valle, como fator protagonista no trecho, desfila uma movimentação que despeja sob a sensibilidade da audiência um senso de intensa angústia. Uma agonia que, talvez, felizmente, seja envolta em um torpor que lhe impeça de sorver toda a dor acumulada por algo ainda enigmático.
Enquanto isso, a guitarra base, também no comando de Valle, com seu tom áspero, ao lado da bateria, cuja contribuição entrega uma textura suja, faz com que o espectador fique entre a alucinação e súbitos de consciência, os quais são bem representados pelo baixo de Cleiton Hipólito que, propositadamente, é engolido pela massa instrumental pegajosamente desesperada em meio ao seu próprio estado de agonia. Tudo isso parece fomentar as emoções extravasadas pelo personagem do enredo. Afinal, por meio de sua representação assumida através da interpretação lírica de John Laporte, ele tem suas vísceras expostas ao passo que evidencia não apenas um senso desmedido de desesperança envolta em melancolia.
Ainda que esses detalhes realmente existam e sejam bem explorados por Laporte e seu tom rasgado, o personagem lírico de O Rio Da Vida é ainda alvo de comentários ruidosos acerca de sua ideologia um tanto utópica de perseverança. Cada julgamento de sua positividade é um exemplo da inveja daqueles que nem mesmo forças tem para sair da inércia da zona de conforto da comodidade e da sua melhor amiga, a depressão. Por isso, colocar um sonhador no mesmo lugar de um sofredor é um ato que confere ao segundo a confirmação de sua força de persuasão e convencimento.
Profunda, dramática e até mesmo capaz de causar sinceros incômodos no espectador, O Rio Da Vida é uma obra que, envolta em um rock alternativo áspero e ruidoso em sua essência lancinante, trata da relação com o tempo, da noção de pertencimento, do senso de motivação e, também, de superação. Ainda assim, a faixa não traz redenção, finalizando de maneira reflexiva que deixa cada palavra proferida pelo vocalista, ressoando sem parar no inconsciente do ouvinte, enquanto este busca respostas para questões nunca antes dadas como importantes.