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Uma guitarra solo de riff angustiante cresce, gradativamente, em espaço conforme o efeito fade in vai lhe conferindo cada vez mais protagonismo. No momento em que passa a ser acompanhada por trovões secos proferidos pelo chimbal, a canção logo vai exortando sua natureza dramática e visceral. Assim que um grito azedo e áspero é ouvido, a obra enfim tem seu primeiro verso despertado, momento em que suas emoções ganham mais espaço para serem não apenas exploradas, mas profundamente vivenciadas.
Sob uma energia melancólica transpirada de um equilibrado instrumental de natureza calcada no rock alternativo, a canção permite que o ouvinte perceba o baixo andando pela superfície melódica entregando, com seu groove encorpado, uma precisão que dá a consistência para que as lágrimas consigam escorrer pelas esquinas melódicas melodramáticas proferidas pelas guitarras. Com a presença de uma bateria suja desenhando o compasso rítmico de maneira a entrar em perfeita sintonia com o teor sofredor da obra, o vocalista, por meio de sua interpretação lírica introspectiva e lamentadora, amplia o senso de desesperança transpirado conforme a faixa se desenvolve.
Surpreendentemente, como um oásis no meio do deserto, a canção leva o ouvinte para um momento de notável imersão entorpecente em meio à agonia dilacerante. De refrão contagiante em sua forma lamuriosa, La Toccade é uma faixa que abraça os quatro quesitos que fazem de um produto musical algo memorável: harmonia, melodia ritmo e letra.
E é justamente no enredo lírico que mora a máxima ousadia e autenticidade do Black Iris. Não se rendendo à monopolização do inglês na indústria musical, o grupo preencheu o lirismo da canção com sua língua-mãe, o francês. Por meio desse detalhe, La Toccade difunde, inclusive, um charmoso caráter regional em meio à sua aparência soturna.