
A canção se inicia já com uma estrutura rítmico-melódica pulsante graças à precisão com que o bumbo da bateria vai desenhando o escopo percussivo. Ao mesmo tempo, no que tange especialmente a melodia, a guitarra proporciona um andamento sonoro repleto de uma sensualidade provocante por meio de seu riff de natureza ardentemente áspera. O interessante é que, quando o espectador parece já estar familiarizado com o ambiente, uma gaita surge entre gritos regozijantes, proporcionando um aroma irresistivelmente adocicado.
A partir do instrumento, a paisagem da canção se torna solar a tal ponto que o ouvinte consegue se perceber em um cenário bucólico em seu sentido mais léxico. É nesse instante, inclusive, que o primeiro verso tem seu despertar. Nascido através de uma voz masculina afinada em meio às suas nuances brandas rasgadas, os primeiros contornos líricos já evidenciam um charme de natureza inquebrantável, principalmente em virtude do idioma francês como norte do conteúdo verbal.
Com direito a um baixo ondulante, mas que se mostra capaz de proferir a quantidade exata de corpo para conferir consistência à melodia, a canção passa, consequentemente, a desfilar certo grau de firmeza em meio ao seu delírio de sensualidade. Escorregando em um refrão agraciado por uma boa camada harmônica graças ao toque adocicadamente ácido proferido pelo que parece ser o hammond, Blues Solitude se configura como uma extasiante composição que mistura equilibradamente o folk com o já indicado blues.