
Seu início é marcado por uma atmosfera vibrante. Diante de seus primeiros instantes sonoro-narrativos, a canção destaca a sinergia entre os saxofones de Erik 'Super E' Korte e Paul O'Jibway na companhia de outros elementos de sopro, como trompete e trombone, introduzidos em cena por Joel Hamilton e Miles F. Davis. Ainda assim, é necessário destacar que a vivacidade ofertada por essa conjuntura harmônica dá à atmosfera um intrigante senso de melancolia.
Assim que a bateria de Scott Culling entra em cena por meio de uma frase minimamente repicada que marca o encerramento da primeira fase introdutória para o despertar instrumental do primeiro verso, a canção leva o ouvinte para um cenário sonoramente mais complexo. Na presença de outros elementos percussivos, como tambores e bongôs, a obra é agraciada por uma maciez estética que beira um embrionário swing. Ainda assim, a forma como a reprodução adocicadamente ácida do hammond é feita pelo teclado de Reckless Randall Sly faz transcender o senso de melancolia já identificado na introdução imediata.
Auxiliando, inclusive, no surgimento e no enaltecimento de um clima dramático pungente, o teclado não permite nem que a guitarra lap steel de Dan Matheny traga alegria à atmosfera. Afinal, o instrumento se coloca em cena através de uivos cabisbaixos e de postura lamentadoramente sofredora. Capaz de destacar até mesmo sua natureza lacrimal, o instrumento permite, inclusive, a percepção da consistência de Culling através dos golpes por ele empregados na bateria, proporcionando uma base rítmica bastante firme.
Nesse ínterim, as guitarras de Steve Shoha e Word E. Smith também pode ser notada por entre brisas salientes e marcantes, mas de postura ainda inebriada pela essência entristecida que tanto marca a energia da composição. Assim que Smith exorta, enfim, seu timbre azedo dando vida ao primeiro verso, o ouvinte acaba conseguindo entender, gradativamente, a razão de haver um contagiante senso de lamúria transpirando por todas as esquinas dessa obra ska-reggae.
Good Trouble, em sua máxima essência, traz o Bop (Harvey) dialogando sobre o envolvimento de John Lewis, líder dos direitos civis estadunidenses, no evento que ficou conhecido como Marcha de Selma e Montgomery ocorrido na região do Alabama. Não é à toa, portanto, que o escopo rítmico-melódico tenha em si uma natureza visceralmente dramática e melancólica, mesmo sendo o reggae sendo um gênero musical que exorta tranquilidade e um senso de calmaria.
Ainda no que tange o instrumental, é necessário pontuar que, por mais que o baixo de Danny St. Echo não seja pronunciado em sua forma habitual tradicional como o próprio reggae pede, ele é, sim, identificável. É por meio de sua contribuição, ondulante e encorpada, inclusive, que toda a sonoridade se beneficia com mais consistência e súbitos de sensualidade como forma de incitar o senso de fluidez.