
Depois de um ligeiro repicar da caixa da bateria demonstrando uma estrutura percussiva minimamente intrigante, um verso lírico de essência meramente narrativa surge em cena por meio de uma sobreposição vocal que destaca um timbre masculino grave e empostado com suaves noções de empostamento e digitalização. Nesse ínterim, o ouvinte nota, sem qualquer dificuldade, a presença de um baixo de feição sisuda e cínica, até mesmo provocativa por meio de uma essência petulante, caminhando pelo cenário com grande saliência.
Ofertando corpo e densidade à canção, mesmo ela ainda não tendo se evidenciado por completo, o instrumento serve como uma primeira real percepção de textura e energia que o ouvinte pode esperar da obra. Conforme ela se desenvolve, portanto, um novo elemento é colocado sobre os holofotes. A guitarra, com seu riff agudo no limite da estridência, se coloca em cena como se estivesse se contorcendo pela sensibilidade de um prazer invasivo e sádico reforçado por um andamento rítmico linear e simples, mas equilibradamente conciso da bateria.
Por meio dessa conjuntura sonora, a obra já comunica de antemão uma imersão no campo de um rock industrial flertante com o avant-garde metal a tal ponto que destaca similaridades estéticas para com o Rammstein e o Guns And Roses durante sua fase Chinese Democracy. Caindo perante uma cenografia de textura completamente ácida e suja, a qual ainda comunica, também, flertes em relação às roupagens das canções do Megadeth, a presente obra chama a atenção pelo seu clima sombrio e asqueroso.
Narrada por uma voz masculina agora mais nítida em seu timbre agudo e de bases adocicadas a ponto de rememorar o timbre de Whitfield Crane, One Question se configura necessariamente como uma obra densa e até mesmo corrosiva. Através dessas sensibilidades, ela apresenta ao ouvinte um lirismo em que critica vorazmente o comportamento hipócrita assumido por algumas pessoas.