Fusion Sonica - Arde El Cielo

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Como a faísca se tornando uma brasa e como uma brasa se tornando um incêndio, a guitarra cresce, gradativamente, com seu sonar agudo e inicialmente adocicado, rompendo o silêncio incômodo do ambiente. Antes mesmo que o ouvinte seja completamente hipnotizado em um senso de torpor sem qualquer menção ou chance de escapatória, a canção é tomada por um sonar sintético de cunho gutural que não apenas insere o drama à cenografia, mas deixa a atmosfera densa sob uma silhueta épica. Densa a ponto de já deixar o ouvinte em pose de alerta para uma possível transformação nessa paisagem sonora.


Enquanto sonares de violinos vão moldando a base melódica com ligeiros rompantes harmônicos, o chimbal é percebido por entre movimentações sincopadas que dão ao cenário um embrionário andamento rítmico rígido que, felizmente, consegue fornecer certo grau de fluidez. Quando essa gama de camadas sonoras é enxugada a ponto de deixar o ouvinte, novamente, apenas na companhia da guitarra, o caos começa.


Levando o ouvinte para um cenário bruto, intenso, preciso e regido por uma sonoridade azeda que transpira do reverberar das cordas das guitarras, a canção começa a assumir uma feição carregada em uma espécie de cinismo mórbido transfigurada por um enganoso semblante de tranquilidade. É nesse momento em que, enquanto o primeiro verso ganha vida através de uma linha lírica moldada por uma voz masculina curiosamente aveludada que se pronuncia sobre uma interpretação lírica que beira uma espécie de prece desesperançosa, o baixo é identificado por entre ondas azedas que flertam com a estridência na dianteira melódica.


Tal como Serj Tankian age nas canções do System Of A Down, o vocalista assume uma postura um tanto entorpecente perante algo iminente, e socialmente desconcertante. Agraciado pela sua língua-mãe, o espanhol, o cantor coloca sobre a mesa um enredo lírico não apenas dramático, triste ou decepcionante, mas, sim, profundamente tocante. 


Em Arde El Cielo, uma canção metal alternativo de sonoridade conjuntural rascante, o Fusion Sonica trata, com a devida delicadeza, mas sem esconder a sua revolta e seu senso de absurdez, sobre os jovens que são mandados para a guerra sem necessariamente compreendê-la. Um retrato pungente de como a experiência bélica transforma, para sempre, a vida desses novos homens.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.