De certa forma, a canção já começa madura. Afinal, ela evidencia uma atmosfera macia e fresca, ao mesmo tempo em que, com ligeira audácia, despeja generosas notas de melancolia que são rapidamente absorvidas pelo ouvinte. Oferecendo, com tal sonoridade de cunho indiscutivelmente intimista, um estado de torpor latente que se exalta ao trazer um aroma soturno típico do post-grunge, aqui com especial menção àquele do Puddle Of Mudd, tal amanhecer, definitivamente, se vende pela sua silhueta rascante e visceral.
Ainda que mantendo a mesma estrutura quando atinge seu primeiro verso, a faixa consegue comunicar, além de maturidade, boa equalização e mixagem por dar, ao ouvinte, a oportunidade de degustar claramente os sabores de cada instrumento disposto no espectro rítmico-melódico. O interessante é que fica a cargo da voz do vocalista, com suas notas ligeiramente ásperas, a tarefa de tentar recobrar a consciência do ouvinte ao tirá-lo de seu profundo estado de embriaguez.
Assim que se percebe a existência da harmonia vocal, construída entre a união do cantor e do backing vocal, a canção tem uma guinada em sua paisagem monocromaticamente cinza agraciada por uma chuva de gotas ácidas. Mas o que de fato chama a atenção em Vagabundo é a sua completa transformação, não em energia, mas em estrutura.
Saindo de um instrumental intimista e denotativamente entorpecente que se mantém o mesmo até após o refrão, a canção é abraçada por uma explosão que exorta a pura emoção. A intensidade de sentimentos há muito represados. A união da angústia, da agonia, do medo e da insegurança de maneira a permitir ao ouvinte o vislumbre de um olhar assustado e vulnerável que, sem dizer uma palavra, grita por ajuda. Não à toa que Vagabundo traz a história de um indivíduo em busca de pertencimento, de propósito e da pura sensação de ser querido por alguém. Da necessidade de sanar a carência por carinho e afeto como prova de sua importância, o afastando, assim, das ideias imediatas e trágicas para o fim de um sofrimento tão intenso.
