Christian Camilo - Raio Amarelo

Nota do Público 5 (1 Votos)

O som ambiente daquilo que parece ser motores cortando as barreiras do vento é percebido, mas com notável sutileza, fornecendo um breve despertar sensorial no espectador. Rapidamente, porém, a canção já se apresenta em sua forma madura, mesmo que ainda esteja fornecendo o despertar de sua introdução.


Com um baixo de groove precisamente pontual fornecendo uma estética melódica precisa ao lado de uma bateria que, com sua postura macia, oferece agradáveis noções de fluidez, a base estrutural da obra, construída por Felippe Pompeo, já vem agraciada por uma coesão notável. Ao mesmo tempo, é necessário pontuar que a simetria existente entre o violão e a guitarra, fornecidos, respectivamente, por Christian Camilo e Leandro Publio, arregimenta uma espécie de frescor delicadamente melancólico.


Tal como se estivesse de joelhos em uma pose de reverência saudosa perante um céu azul límpido, a canção propõe um intrigante senso de gratidão que surge de maneira enigmática na atmosfera. É nesse momento que a obra é agraciada pelo despertar de seu enredo lírico. Desenhado por uma voz masculina de timbre sereno em meio ao seu toque delicadamente agridoce vindo de Camilo, ele adquire um senso introspectivo ao mesmo tempo em que incita a nostalgia.


Conforme se desenvolve, a faixa acaba ganhando contornos levemente dramáticos provenientes das notas no entremeio entre o grave e o agudo trazidas pelo piano. Agraciada, a partir daí, uma harmonia simples, mas tocante, a canção assume uma crescente em que o cenário dramatúrgico é embebido em um choque visceral adornado por lágrimas inestancáveis. 


Sendo até mesmo severa em sua forma homenageante, Raio Amarelo não é apenas um hino. É como a junção do sofrimento, da dor e das lágrimas represadas de todos os brasileiros agora órfãos de um verdadeiro ídolo automobilístico. Mas não somente. Por meio daquela fatídica tarde, os brasileiros ficaram carentes de uma imagem que lhes transmitisse coragem, fé e determinação.


Sua morte chocou a todos, mas Ayrton Senna, através da melodia de Raio Amarelo, continua presente na memória de cada indivíduo. A cada traço do Sol cortando o céu. A cada brisa que banha o seio da face. A cada onda que arrebenta no mar, será possível te sentir. Raio Amarelo é, a você, Senna, uma carta de gratidão com uma capa que, assinada por Vitor Pereira, te reverencia.

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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.