O baixo é o elemento que funciona como o abre-alas da composição. Com uma postura cínica e provocativa, ele se movimenta como um predador sem escrúpulos se posicionando à espreita no aguardo do melhor momento para dar o bote fatal em sua presa. Não é de se espantar que, apesar de se mostrar linear, ele cause, no ouvinte, sensações que vão de desconforto a insegurança em milésimos de segundo.
Nesse ínterim, a paisagem embebida em seu tom preto absoluto recebe rajadas de fogo ao passo que o vocalista entra em cena com uma voz de timbre rasgado e ácido. Nesse momento, o ouvinte consegue notar, não apenas no estilo de canto, mas também no tom, semelhanças estéticas para com os vocais de Whitfield Crane e Layne Staley.
Com um clima de suspense tenebroso e pegajoso, que hipnotiza o ouvinte a partir do medo, Lucious explode em uma estrutura flamejante que, sem delongas, mistura elementos sonoros do post-grunge, do hard rock e do blues. Sob essa luz, a canção evidencia influências que vão de Stone Temple Pilots a Nirvana em uma paisagem estética que caminha entre o fim dos anos 90 e o começo dos anos 2000.
Intensa, visceral e rascante, a canção surpreende por, através da guitarra, fornecer uma espécie de swing debochado em sua postura hipnótica. E é nesse momento, enquanto o instrumento faz o seu número de sensualidade, que o vocalista mergulha em um viés esquizofrênico, angustiante e até mesmo louco, na forma como introduz o lirismo.