Scott Stapp - The Space Between the Shadows World Tour (SP)

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Diferente. Diferente é a palavra que define a segunda viagem brasileira de Scott Stapp para promover sua carreira solo. Em 2016, o cantor esteve no país para realizar apenas um show, feito na Tropical Butantã, em São Paulo (SP). Neste ano, por outro lado, Stapp fez seis shows e a capital paulista foi a responsável por encerrar sua viagem tupiniquim, com show agendado na Audio Club.


Em 17 de novembro de 2019, a calçada que permeava a casa de show já se encontrava, às 18h, preenchida por uma fila que se estendia por quilômetros. Do lado de dentro, apesar de ambas as casas de show terem a mesma capacidade, o presente local se mostrava, visivelmente, mais cheio.


O público, sedento pela apresentação de Stapp, que divulga atualmente em suas performances seu terceiro e mais recente disco de estúdio solo The Space Between the Shadows, porém, teve de aguardar mais tempo para presenciá-la. Isso porque às 19h28 quem subiu ao palco foi a banda de abertura Removing Silence. Apresentando um blend de grunge com stoner rock, o grupo teve uma apresentação com som que de má qualidade e má mixagem, e que, por isso, não sobreviveu por muito tempo. Afinal, depois de duas músicas sem poder entender uma frase cantada pelo vocalista, o público começou a se dispersar e torcer para que o set terminasse o quanto antes, o que foi acontecer às 19h57.


Foi então que se iniciou um período permeado de tédio e ansiedade. Por uma hora, o público presenciou uma organização de palco lenta e preguiçosa ao mesmo tempo em que ouvia uma discotecagem repleta de músicas de rock dos anos 1990, fator que diminuiu a sensação de cansaço e tédio. Quando o palanque se viu livre da equipe de montagem, a plateia se pôs tensa e ainda mais excitada.


Foi então que, pontualmente às 21h, horário previsto pela organização do evento, que Scott Stapp e sua banda de apoio subiram ao palco provocando ainda mais delírio nos presentes. E assim como aconteceu em 2016, quando Stapp divulgava Proof Of Life, seu segundo disco solo, a faixa escolhida para inaugurar o show foi a explosiva Bullets, responsável por criar uma atmosfera de histeria no público, que ora gravava o momento com celular, ora pulava e ora gritava, e agressividade no som propagado pelos músicos.


Em seguida, Stapp e companhia trouxeram World I Use To Know, faixa de abertura de seu recente disco de estúdio. Com apresentação performática e intensa, o vocalista conseguiu novamente tirar a plateia do chão e criar alvoroços constantes até seu término, quando as pessoas presentes iniciaram uma salva de palmas sem fim.


Let’s go back to the beginning”, disse Scott Stapp posteriormente ao microfone para introduzir My Own Prision, música single do disco de estreia homônimo da carreira do Creed, grupo que o consagrou como letrista e vocalista. Na canção, mãos desenhando os chifres do rock eram vistas por toda parte enquanto os gogós, já roucos, tentavam acompanhar o cantor na letra da canção.


Face The Sun, também de The Space Between the Shadows, foi uma música com extrema pressão sonora, isso graças à química criada entre os guitarristas Yiannis Papadopoulos e Ben Flanders, o baixista Sammy Hudson e o baterista Dango Empire. Novamente, cabeças eram vistas indo para frente e para trás com força e cabelos voavam por toda a parte. Foi também na presente canção que foi possível perceber alguns vícios corporais de Stapp. Durante os instrumentais, o vocalista realizava movimentos ondulantes desengonçados pelo palco enquanto mantinha seus lábios rígidos em forma de bico.


Já em Overcome, single de Full Circle, último disco lançado pelo Creed até então, o público foi ao delírio e, insanamente, pulava e cantava junto ao vocalista. Devido à consequente receptividade, Stapp assumia feições nervosas após cada frase cantada e, segurando o microfone ao mesmo tempo em que mantinha o corpo inclinado para a esquerda, fazia movimentos circulares com as duas mãos, denunciando, enfim, outro vício corporal.


Inside Us All, a seguinte faixa, foi a primeira música responsável por arrancar lágrimas dos presentes. Seu som melódico e harmônico trazia sentimentos de melancolia e arrepios descontrolados na plateia, a qual, apesar dos sentimentos, cantava a todos os pulmões o trecho “there’s no peace, oooh there’s no peace inside us all”. 


Quebrando essa energia down, veio a matadora e pulsante What If, mais uma faixa do Creed. Contudo, a pressão e a agressividade com que a música foi apresentada fez com que a sensação dos presentes fosse a de que a música era atual, pois a roupagem rítmica estava audivelmente mais pesada e agressiva.


When I was a boy, something happens, something that hurts me”, disse o vocalista com olhar reflexivo ao introduzir a profunda e reflexiva Name. Com performance intensa e sentimental, o público se viu comovido pela história contada na letra e pela experiência de vê-la sendo tocada ao vivo que se viu dividido entre grupos que a assistiam pasmos e outros que cantavam e gravavam o momento a todo o custo.


Momentos marcantes do show também estiveram presentes em Survivor, quando a plateia, com um linguajar e sotaque totalmente brasileiros, gritava “Olê olê olê olê Scottê, Scottê”. Interessante foi ter o coro do público recebendo a participação do baterista Dango Empire, que atacava o bumbo no ritmo da frase entoada pela plateia.


Chris Cornell e Chester Bennington também não ficaram de fora do show. Afinal, Gone To Soon, a música feita em homenagem aos músicos estava inclusa no set entre as faixas inclusas no bis e recebeu boa resposta da plateia, que se viu emotiva e melancólica ao relembrar a morte dos músicos. Porém, quando Stapp resolveu cantá-la sentado no limite do palco, a plateia voltou a si e, insanamente, tentava a todo o custo tocar o músico.


Outro momento marcante foi durante a performance acústica de With Arms Wide Open. Três bancos foram posicionados ao centro do palco e Scott Stapp, juntamente com Papadopoulos e Flanders, tocaram a música em uma roupagem inovadora e sentimental. 


Para finalizar, a faixa escolhida foi Don’t Stop Dancing, outro forte single do catálogo musical do Creed. Foi nela que Scott Stapp se viu surpreso com o público que, em uníssono, cantou os trechos vocais de Aimee Stapp, irmã de Stapp e backing vocal convidada para gravar a canção.


Realmente a performance de Scott Stapp foi diferente. Atraiu mais público, foi mais intensa e mais agressiva. Além disso, enquanto a apresentação de 2016 teve Jesus Was a Rockstar, única faixa solo de Stapp tirada do repertório e substituída por Don’t Stop Dancing,  a performance deste domingo foi bem dividida, contendo seis músicas solo, sendo todas de The Space Between the Shadows, e 10 do Creed.


Com isso, espera-se que o público brasileiro não tenha de esperar mais três anos para presenciar a performance de Scott Stapp, um cantor e letrista que, com o tempo, se mostra musicalmente cada vez mais maduro e confiante em seguir seu próprio caminho.  


*​Crítica originalmente publicada no Allmanaque.



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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.