NOTA DO CRÍTICO
Vindo entre lançamentos inéditos e pegando a onda dos shows drive-in, o Ego Kill Talent chega agora no meio do segundo tempo de 2020 para divulgar um novo trabalho. Composto por faixas ao vivo gravadas durante a Bob Burnquist Spotlab Sessions, evento que aconteceu no Allianz Parque, em São Paulo (SP), o EP Live At The Drive-in percorre toda a carreira do grupo.
Diretamente de The Dance, mais recente EP de estúdio do grupo, vem Now, a faixa de abertura de Live At The Drive-in. O som ambiente é o que invade o público. Buzinas, gritos corriqueiros. Mas envolvendo todos esses elementos está um áudio quase transcendental, que convida o ouvinte a uma curta viagem astral. A voz grave de Jonathan Dörr perambula pelo silêncio orquestral da plateia imersa em seus carros. Contudo, a calmaria explode repentinamente em uma melodia hard rock emaranhada com o metal, criando uma intersecção rítmica estimulante e empolgante.
As buzinas ensurdecedoras dos automóveis revelam o êxtase dos indivíduos presentes no drive in. E é, junto com elas, que o riff sujo, grave e até um pouco agressivo da guitarra recebe Sublimated. Lembrando a sonoridade adotada pelo Alter Bridge em especial no disco Fortress, a música tem pressão e um entrosamento nitidamente harmônico entre os músicos. De refrão-chiclete, a faixa tem uma quebra na raiva e na agressividade com a questão hipnotizante “Are you hiden from yourself?”.
The Call chega com a função de ser uma balada, mas não uma convencional. Dentro dos graves instrumentais, dos repiques da bateria e dos dedilhados da guitarra a base rítmica é envolvente. Isso, portanto, entrega à faixa a posição de single lado b.
Um suspense misto com ansiedade invade o ouvinte com a introdução de Still Here, canção trazida direto do álbum de estreia autointitulado do Ego Kill Talent. A união das guitarras de Theo van der Loo e Niper Boaventura cria uma sensualidade agressiva por conta do peso dos riffs. Estruturada entre explosões e pausas, a canção é baseada em uma estética de melodia comercial, mas que não impede de conquistar a aceitação do público. Assim como em Sublimated, a presente faixa traz um refrão-chiclete que a consagra como um importante cartão de visita do grupo.
Um dedilhado de guitarra remete, bem lá no fundo, àquele riff de Eddie Van Halen empregado em Eruption. Em antítese a ele, uma melodia de tom melancólico se forma ao redor e convida ao ouvinte para caminhar por ambientes de grande e explosiva sonoridade. Ainda assim, o groove mais ameno reforça a sensação de melancolia anteriormente levantada e que é tão latente em Last Ride.
Um baixo em tom raivoso surge à espreita junto ao vocal de Dörr. Enquanto a guitarra base acompanha esse sentimento, a guitarra solo vem com linhas mais melódicas e sutilmente alegres. É curioso, porém, que quando acontece a explosão sonora de Try (There Will Be Blood), o ouvinte é imerso em um ambiente grunge comercial.
Transitando por entre a maior parte da trajetória do Ego Kill Talent até o momento, Live At The Drive-in mostra os músicos em boa forma e harmonia. Loo, Boaventura, Dörr, Raphael Miranda e Jean Dolabella estavam visivelmente entrosados e passaram ter firmeza e presença de palco, mesmo com a plateia escondida por entre os carros.
Sobre a sonoridade, mais do que nunca ficou clara as influências rítmicas do grupo. De Alter Bridge a Nickelback. De Nirvana a Van Halen. O que importa é que, com som autoral e alçando voos intercontinentais com letras apoiadas em um inglês lindamente pronunciado, o Ego Kill Talent reafirmou sua potencia nacional e sua representação no mercado de música internacional.
Bastante harmônico e melodioso, mesmo sendo ao vivo o EP tem boa mixagem, trazida justamente pelo entrosamento dos integrantes. Apesar disso, o recente trabalho tem um porém. A arte de capa foi elaborada de tal forma que faz parecer que o grupo é mais um expoente da métrica pop das boybands. O estilo sonoro, porém, prova o contrário.
Lançado em 06 de novembro de 2020 via BMG, Live At The Drive-in serviu para refrescar na mente do ouvinte a sonoridade do grupo e a criar uma mistura de dúvidas e expectativas de quando poderá sair o disco de estúdio sucessor do álbum de estreia autointitulado. Se falta muito, não se sabe. Mas com esse novo EP o público mata mais um pouco da saudade do Ego Kill Talent.
*Crítica originalmente postada no Allmanaque.