NOTA DO CRÍTICO
Foi uma noite quente em São Paulo (SP). Às 19h, próximo ao metrô Barra Funda, uma aglomeração se formava em frente à novata casa de show Fabrique Club, local com capacidade para 700 pessoas. Portões abertos, o ambiente interno foi ganhando novos tons. As pessoas ali presentes buscavam tranquilamente um espaço próximo ao pequeno palco, o qual era ocupado apenas por um estande de microfone que, exatas 20h11, com 11 minutos de atraso, foi dominado pelo britânico Roo Panes.
Com um misto de gritos histéricos e fanáticos vindos da plateia, o batizado Andrew Panes se colocou no centro do palco com seu violão e, com sorrisos tímidos e envergonhados pela calorosa recepção, deu início ao show com Indigo Home, canção de seu primeiro disco de estúdio, datado de 2014.
Vestido de forma casual, com calça jeans e um pulôver, Panes parecia nervoso, mas ainda assim arriscou um discurso com a plateia, cujos olhares de admiração, não desgrudavam do músico inglês. “Is so good to be here”, disse o cantor antes de descrever a música seguinte. “This music is about breakups and memorys. Memorys of what I lived”, contou ao introduzir Thinking Of Japan.
Dali em diante, enquanto a música estava em exercício, a plateia se calou. Dividindo espaço com os vários celulares que captavam o momento, os olhos das pessoas ali presentes transmitiam um misto de encantamento, admiração e cumplicidade. Em contrapartida, Panes prosseguia com um olhar rígido e visivelmente nervoso focando no centro da plateia.
Dada por encerrada a música, a plateia fazia ecoar aplausos altos e estalados, os quais, quando silenciados, deram a chance para um novo discurso do artista. Discurso esse que foi interrompido por um problema no cabo do violão, forçando Panes a deixar o palco por instantes. Quando de volta, o astro contornou a situação com humor e fez a plateia dar singelas risadas. Em seguida, nova conversa. “I wrote this song when I was in South Africa, six months ago”. E assim, Panes deu ao público paulistano uma surpresa, a performance de There’s a Place, uma música inédita.
Mesmo depois de três músicas tocadas e uma participação insana do público durante o refrão de Run Before the Storm, Roo Panes precisou apresentar mais três músicas para que, finalmente, se sentisse à vontade com a situação. E esse momento se deu durante a performance de Little Giant. Curiosamente, essa foi a canção de maior histeria do show, afinal, alguns fãs gritaram o título antes mesmo do vocalista a anunciar. Contudo, o momento memorável aconteceu assim que a canção terminou, pois houve uma longa onda de aplausos.
Quiet Man foi anunciada por Panes como a última canção, pois, segundo ele, não estava mais em condições de prosseguir com o show, sinalizando incômodos na garganta. Tanto que ao seu fim, o vocalista deixou o palco. Contudo, sem nem dar tempo de a plateia entristecer, o músico retornou ao seu posto e iniciou o bis com uma ordem de canções diferente daquela apontada no setlist.
A primeira a ser apresentada foi Ophelia, single de Quiet Men, seu mais recente disco, datado de 2018. A canção enfrentou uma grande disputa entre sua performance realizada por Panes e os insistentes pedidos da plateia pela execução de Know Me Well. Sem dar ouvido às súplicas e nitidamente sem jeito, porém, o músico deu continuidade à apresentação da música.
O momento que marcaria o encerramento das súplicas finalmente chegou, isso se Roo Panes seguisse com o setlist programado, algo que não aconteceu. A canção inicialmente selecionada por fechar a noite era de fato Know Me Well, mas foi trocada de última hora por Open Road. O motivo, segundo o próprio cantor, foi devido ao alto tom que ela exigia. Mesmo com a iminente decepção, a plateia não desanimou, entregou outra memorável participação e um fim digno para o show fraco do inglês, decretado às
21h45.
Sim, fraco. Isso pode ser atribuído a várias razões. A primeira delas é que, mesmo sendo um show altamente intimista, contendo voz e violão, poderia muito bem ter havido uma interação mais viva e animada entre cantor e plateia. Contudo, o que aconteceu foi o contrário. Roo Panes pareceu, durante todo o set, estar nervoso e desconfortável, dando à plateia o máximo comando do evento. Resultado: Enquanto era função do anfitrião da noite instigar o público a cantar junto e estimular uma entrega enérgica por parte da plateia, o que aconteceu foi o oposto. Foram os 560 fãs ali presentes que lutaram para que Panes fizesse um show animado e transformasse seu olhar majoritariamente apático e rígido em um mais harmonioso e convidativo.
A segunda razão pode ser atribuída à aparente falta de preparação do astro para o show daquela noite de 14 de setembro de 2019. Trocar as canções de última hora porque uma exige maior entrega do que a outra pareceu uma desculpa para que o público não notasse a sua falta de treino.
A terceira e última razão é atribuída à forma como o show foi construído. Roo Panes já entrou com atraso e, aparentemente, se apoiou em longas conversas introdutórias para que o tempo inicialmente acordado para a duração da apresentação fosse devidamente cumprido.
Demorou sete anos para que Panes finalmente realizasse um show em solo paulistano. Contudo, as expectativas para um show memorável e de boa qualidade não foram devidamente correspondidas. Fica para a próxima.
*Resenha originalmente publicada no Allmanaque.