NOTA DO CRÍTICO
Promoções variadas. Especulações de baixa bilheteria e hipótese de mudança de local. De fato o que circundou o show de Ozzy Osbourne não era favorável. O valor alto dos ingressos ia à contrafluxo da situação econômica do país, o próprio protagonista da ocasião desmentiu ser o final da carreira e a data escolhida foi o domingo de Dia das Mães. A baixa bilheteria era algo irreversível até a data do evento. Às 16hs o estádio Allianz Parque estava vazio. Plateias premium e comum com um volume irrisório. Arquibancada só se via as poltronas. Isso que a capacidade estabelecida pelo organizador era de 47.146 pessoas. Mas tudo se inverteu. Sem show de abertura, o grande público começou a chegar no final do dia. Ás 19hs o espaço das plateias ganhava outros tons que iam preenchendo o tapete branco que protegia o gramado. Às 20hs30, 1h antes do início do show, o Allianz Parque estava tomado, apenas aguardando a chegada do Príncipe das Trevas e companhia.
Pontualmente, a apresentação começou às 21h30 com a exibição de um vídeo, uma coletânea de trechos de shows e clipes do batizado John Michael Osbourne. 21h33 todos entram no palco, juntos, dando início à pernada nacional da No More Tours 2. Sem apresentação prévia, os músicos foram tomando seus respectivos postos, dando início a Bark at the Moon, faixa-título do terceiro disco solo de Ozzy Osbourne, de 1983. Com um sobretudo roxo gliterizado, Osbourne tomou o público para si com seus agudos e fôlego ainda em forma.
Mr. Crowley veio em seguida com uma pausa dramática na entrada vocal. O frontman segurou o microfone e encarou o público para, posteriormente, entrar em união com o restante dos instrumentos. Apesar da música pertencer a Blizzard Of Ozz, o disco de estreia do britânico, estimulou a plateia para cantar o refrão de crítica ao ocultista inglês Aleister Crowley.
O segundo ponto alto da apresentação veio alguns minutos depois, quando o guitarrista Zakk Wylde e o baterista Tommy Clufetos puxaram Fairies Wear Boots, um cover de sua banda-mãe, a heavy metal Black Sabbath, a qual também incluiu São Paulo em sua turnê de despedida, no ano de 2016, com show realizado no Estádio do Morumbi.
"Eu preciso ficar sem álcool, então...", disse Ozzy Osbourne ao microfone trazendo Suicide Solution. Dali para frente, foi uma trilogia que fez o público vibrar e se unir ao grupo que se apresentava. Bob Daisley, baixista, trouxe No More Tears, com Osbourne se empolgando e se superando, novamente puxando o coro entre os cantos extremos do palco e se balançando. Nos agudos, no entanto, não atingiu as notas certas, mas a energia que se sentia não deixou o fato nítido. Dando uma boa mescla no repertório, após uma sequência de canções metalizadas, o setlist trouxe a melódica Road to Nowhere. A química entre Osbourne e Wylde, ambos já colegas no ramo, tendo trabalhado juntos em No More Tears, sexto disco do cantor e o dono da faixa, foi muito bem restabelecida nesta nova união.
Mais ativo e nitidamente mais enérgico, Ozzy Osbourne nem de longe lembrou o frontman do Black Sabbath durante a apresentação paulista da Farewell Wolrd Tour. Com sorriso no rosto, como se estivesse agradecido pela empolgação do público, Ozzy encara novamente a plateia. "Vocês são realmente loucos", disse trazendo outro cover do Black Sabbath, War Pigs. Quarto ponto alto do show, a performance apresentou o típico estímulo de Osbourne batendo palmas acima do corpo, como se estivesse fazendo polichinelo.
Durante os solos, Zakk Wylde, chacoalhando a cabeça, desceu duas vezes na plateia da pista premium, onde ficou por longos segundos durante as execuções. Gritos, palmas e assobios eram ouvidos dos quatro cantos do estádio. Em seguida, veio o medley de trechos das canções Miracle Man, Crazy Babies, Desire e Perry Mason, acompanhado de outro solo do guitarrista e um do baterista.
Aproveitando a deixa, o dono da apresentação tomou o microfone e apresentou seus companheiros da No More Tours 2. Zakk Wylde na guitarra, Blasko no baixo, Adam Wakeman no teclado e Tommy Clufetos na bateria.
Crazy Train, a primeira canção mais aguardada, viria quatro músicas mais tarde, antes do bis. A vibração da plateia foi tamanha ao ouvir o grito "all aboard", na introdução da faixa. No final, Ozzy Osbourne se virou à plateia e entoou palmas e oleolês pelos instantes seguintes. Sem sair do palco, como é de praxe nos bis de shows, Osbourne simplesmente ficou. "Essa é a parte que vocês gritam: Mais uma música" e foi assim que entregou a performance da balada Mama, I'm Comming Home. Isqueiros e lanternas de celulares eram vistas em todo o Allianz Parque, de luzes apagadas para a performance da faixa.
Por fim, era chegada a música de despedida. Com o cliché "chave de ouro" iniciou-se o terceiro e último cover do Black Sabbath. A irreverência de Zakk Wylde ficou nítida nos acordes introdutórios de Paranoid. Gritos e pulos eram vistos na platéia, e nesse quesito, Ozzy Osbourne também não ficou de fora. Sua animação tomou o ponto máximo, pegando o microfone e andando pelo palco levantando os braços pedindo para o público gritar "Hey". E sem sentir o tempo passar, a música e a apresentação chegam ao fim. Com uma despedida emblemática, todos cumprimentam o público, mas Osbourne ficou um momento que de tão curto, foi quase imperceptível. Mas o homem que amordaçou um morcego aproveitou bem o tempo limite.
Sozinho, o vocalista se ajoelhou no palco em sinal de reverência ao público de São Paulo. "Esta noite nunca sairá da minha memória!", exclamou emocionado o frontman britânico.
13 de maio de 2018, data da última apresentação em São Paulo (SP), que provou e desmistificou muitas coisas, do conhecido Príncipe das Trevas. Ozzy Osbourne, mesmo com seus 69 anos, ainda tem fôlego, disposição e capacidade para comandar uma plateia que, a olho nu, preencheu a capacidade máxima estipulada pelos organizadores.
Esta foi a apresentação de uma lenda, o show de um homem que moldou o subgênero do heavy metal e soube, em uma carreira solo bem consolidada, mesclar hard rock, heavy metal e metal melódico em uma discografia que vem sendo formada há 30 anos.
Obrigado Ozzy Osbourne por lembrar de São Paulo em sua turnê nacional de despedida.