NOTA DO CRÍTICO
Já na saída do metrô Barra Funda, indicações comunicavam que o dia seria de um sábado atípico, com sugestões de caminho para o show que seria realizado no Allianz Parque dali a algumas horas, naquele 16 de dezembro claro e quente.
Por volta das 12h30, o calor era intenso e ardido, mas enganosamente persistente. Rompendo as grandes camadas de nuvem, mostrando um quadro azul, ele fazia as temperaturas oscilarem entre os 35 e os 37ºC, mas sem deixar de incitar a possibilidade de chuva.
Nas ruas, tudo seguia seu curso normal. Alguns comércios fechados e outros abertos. Já os pedestres, que se arriscavam ficar sob o calor de início de tarde, caminhavam tranquilos pelas calçadas da Avenida Francisco Matarazzo, sem mostrar qualquer sinal de anormalidade.
Porém, na frente da faxada do Allianz Parque, tapumes e grades indicavam outro tipo de cenário. Nele, pessoas entravam por dois portões separados, mas fora de horário. Afinal, a entrada oficial para o evento que ali seria realizado iniciaria somente às 15h, pouco mais de três horas depois daquele instante.
Como refúgio para a espera daquele que seria o último momento, a última apresentação solo do NX Zero antes de um novo hiato de duração indefinida e para fugir do calor escaldante, o Shopping Bourbon era o caminho. Curiosamente ou não, lá podia ser observadas, entre os pedestres que nele caminhavam, pessoas vestindo camisetas tanto da turnê Cedo Ou Tarde quanto do dono do dia. E não eram poucas.
A verdade era que, a partir daquele momento, os fãs do NX Zero ainda teriam de esperar para vê-lo se apresentar. E a espera não seria pequena: 08h e quatro apresentações de bandas e nomes como Day Limns, Glória, Supercombo e You Me At Six até o aguardado início do novo e último show solo de um dos grupos que marcou atrilha sonora do Brasil nos idos dos anos 2000.
Às 15h20, ainda acompanhado pelo mormaço, o público, enquanto se encaminhava para o interior do estádio, era tomado pelo temor de uma chuva torrencial que, vista no horizonte, já sonorizava o ambiente com seus encorpados trovões amedrontadores. Ainda assim, os espaços do campo já começavam a ser ocupados.
Day Limns
Às 15h32, o baixista Johnny Bonafe e o baterista Adriano Alves de Arruda assumiram seus postos no palco com grande frenesi vindo da parcela do público rente à grade da pista premium. Assim que Day Limns se posicionou ao centro do palanque, sua apresentação foi oficialmente iniciada com Vermelho Farol.
Depois que Kálice deu seguimento, a goiana introduziu Castelo De Areia para a plateia presente naquela tarde abafada. E ela fez daquele instante o primeiro ponto alto do show. Afinal, além da presença do convidado Artur Mutanen, vocalista da banda Bullet Bane, no microfone, o público se mostrou mais receptivo à música, cantando, mesmo que timidamente, alguns de seus trechos.
Dali, seguiram Só Por Amar e Más Caras até a chegada de Finais. Mesmo instigando sua interação, Day Limns recebia, frequentemente, respostas mornas do público. Porém, durante aquela faixa em especial, houve uma entrega orgânica por parte da plateia que, presenteada por grossas gotas de chuva refrescando o mormaço intenso, fez valsas braçais e cantou, junto da cantora, o refrão da canção.
Minha Religião, com seu som firme e preciso, vem em seguida entregando maciez com traços de melancolia até a chegada de Muito Além. A faixa, que conta com a participação de Di Ferrero, cuja contribuição foi transmitida pelos autofalantes, levou o Allianz a viver princípios de caos em virtude dos intensos, mas pontuais, frenesis vivenciados pelo público.
A apresentação seguiu com outras duas músicas: Cacos e Cinzeiro, mas sem vivacidade por parte da plateia. Ainda assim, antes de deixar o palco de forma definitiva, Day pegou o microfone e fez seus últimos dizeres: “só uma coisinha: Deus é mulher!”, vociferou a cantora, dando por encerrada, às 16h08, à sua performance de abertura desse último dia dedicado, inteiramente, ao NX Zero.
De maneira geral, o público foi pouco receptivo para com a goiana, se valendo apenas por interações brandas ocasionadas por braços erguidos e pulos tímidos, além de pontuais frenesis. Outro ponto que contribuiu ao clima de marasmo foi a baixa quantidade de pessoas durante a performance, ocupando mais amplamente as arquibancadas e deixando as pistas praticamente livres.
No quesito qualidade sonora, a apresentação ofereceu melodias fortes e precisas, além de dar destaque à afinação de Day. Isso fez com que a surpresa fosse boa para aqueles que pouco ou nada conheciam da cantora, que puderam se satisfazer com um potente cenário lírico melódico ofertado por ela.
Às 16h27, o público já mostrava maior presença no estádio em relação àquela vista durante a apresentação de Day Limns. Agora, portanto, ambas as pistas e a arquibancada já se encontravam bastante preenchidas.
Glória
Com os ponteiros do relógio marcando 16h31, apenas com a entrada dos músicos do Glória no palco, o Allianz Parque foi sonorizado por gritos uníssonos e agudos, além de princípios de histeria. Quando o vocalista Mi Vieira assumiu o microfone e introduziu Coração Codificado, o show do grupo teve seu início oficialmente declarado.
Oferecendo dramaticidade e um sofrimento lancinante ao público do estádio, o grupo emendou com Vai Pagar Caro Por Me Conhecer. Nela, o público presente rente à grade da pista premium foi tão enérgico que puxou bate palmas no compasso rítmico dessa que é uma faixa melodramática em seu azedume corrosivo.
“Vamos dar um grito bem alto! Vamos curtir que hoje vai ser foda!”, instigou Vieira ao introduzir A Arte De Fazer Inimigos. Com direito a faixas como A Cada Dia, o setlist ainda foi presenteado com Horizonte. Melodramática, ela foi recebida com boa aprovação da plateia, que se manteve em feições de admiração deslumbrante durante toda a execução.
“Mais uma desgraça pra vocês. Essa daqui se chama Bicho Do Mato”, brincou o vocalista ao introduzir a canção. Apesar de sanguinariamente melancólica, a faixa teve, também, boa participação do público que, nas frases instrumentais, erguia os braços com punhos cerrados no compasso rítmico.
“Quem aqui era da emo em 2009? Essa música girou muito na MTV”, falou o vocalista ao introduzir Tudo Outra Vez, faixa que contou com um público estático, mas gritando pontualmente aos estímulos do vocalista nessa que é uma canção de refrão melódico e chiclete, além de uma estrutura mais radiofônica.
Tudo Outra Vez, além de Horizonte, foram as responsáveis por dois dos maiores picos de interação do público em toda a performance do Glória, que ainda contou com a apresentação de Convencer. A música e recente no repertório do grupo, pois foi anunciada há uma semana, além de fazer parte do próximo álbum do grupo, que será lançado no início do ano que vem.
Com o céu já diminuindo em luminosidade, Minha Paz foi introduzida e recebida com alvoroço, além de ter sido cantada organicamente em coro pela plateia desde seu início. Com direito a palmas no compasso rítmico da canção, a canção foi a última do setlist e o terceiro ponto alto do show, que teve seu fim decretado às 17h11.
No apanhado geral, o público ainda se encontrava com uma postura densamente morna, mas se mostrava, ao mesmo tempo, mais aquecido e enérgico em relação às interações entregues na apresentação de Day Limns.
Com grande destaque ao guitarrista Vini Rodrigues, que surpreendeu pela afinação aguda e pelo alcance de seus falsetes, o Glória apresentou um compilado lancinante e melodramático de canções que transitavam pelo metalcore, emocore, nu metal e death metal com grandes doses de aspereza.
Mesmo sem a presença de mosh pits em seu set, o Glória apresentou um bom e surpreendente show. Precisa, intensa, dramática, lancinante e sofrida, a apresentação serviu como um perfeito aquecimento para a apresentação que se iniciaria dali a alguns minutos.
Supercombo
O céu já ia dando adeus ao Sol e acolhendo a noite quando, às 17h30 pontualmente, os telões foram preenchidos pelo nome ‘supercombo’, levando o público aos gritos. Paulatinamente, o alvoroço foi aumentando de intensidade conforme os integrantes do grupo iam assumindo suas posições.
Tendo Rogério como a canção de abertura, o quarteto conquistou as palmas do público, que seguiram o compasso rítmico durante o refrão. Ainda assim, a plateia se manteve em feições entorpecidas que se mantiveram até mesmo durante Monstros. Nela, no entanto, a diferença foi que os presentes entraram em uma síncope muda, mas em um estado de pura admiração morfinante estimulada pela melancolia lancinante da canção.
Com Sol Da Manhã, o Supercombo conseguiu estimular a energia do público a ponto de fazê-lo pular, durante o refrão, de maneira homogênea, fazendo com que o estádio fosse tomado por um senso de sofrimento amaciado. Outro ponto alto do show aconteceu durante a performance de Maremotos.
Por conta de sua estrutura sonora, a canção instigou cantos adocicadamente tímidos da plateia, que, ao comando do vocalista Leonardo Ramos, também foi responsável por construir um sonar percussivo feito pelas palmas em sintonia com o ritmo da música. Mais que aquele cenário observado durante Sol Da Manhã, Maremotos teve uma participação mais honesta por parte do público presente.
No que se refere à entrega do público para com a banda e a música, o show do Supercombo contou ainda com outros três importantes momentos. Em Amianto, a faixa mais lancinante, sofrida, visceral, dramática e sombria do set, o público entrou em um estado de êxtase coletivo e entorpecentemente contagiante pela dor do personagem lírico. Foi assim que, entre gritos, cantos uníssonos, danças mórbidas e palmas, a plateia se entregou ao grupo.
Durante tarde demais houve um momento interessante, quando Ramos, de supetão, pediu para que o público ficasse parado, estático, fazendo do estádio um cenário incômodo, tal como se houvesse várias estátuas de cera espalhadas pelo estádio. Isso durou até o próximo comando, o de retorno à normalidade, levando os presentes a retomarem seus pulos e passasse a transpirar seu ânimo melancólico. Ainda assim, o ponto máximo do show, até aquele momento, ainda não tinha sido observado.
Foi só em Piloto Automático, canção escolhida como saideira, que esse instante chegou. Contando com a participação de Lucas Inutilismo, a canção foi a única que o público cantou, de boa vontade, na íntegra. No mais, foi nela que a plateia se mostrou completamente entregue ao grupo até às 18h11, quando o fim da performance do Supercombo foi decretado.
Com som bem equalizador, maduro e potente em seu sofrimento agudo e ardido, o quarteto capixaba foi recebido por um público energicamente dormente e anestesiadamente mais em relação à entrega dada durante as outras apresentações do dia. Ainda assim, a plateia foi, também, momentos importantes de entrega e sincronia enérgica honestas ao show do Supercombo.
You Me At Six
Às 18h29, um minuto antes do horário programado, o baixista Matt Barnes e o baterista Dan Flint entraram no palco solitários, mas acompanhados de uma luminosidade vermelha clareando o palco. Ainda que sem a presença do vocalista, a dupla iniciou a explosiva e melódica Deep Cuts, que foi receber Josh Franceschi apenas a partir do primeiro verso.
“São Paulo!!!”, vociferou Franceschi ao microfone antes de puxar heartLESS, canção recebida por uma participação ainda nula da plateia, situação que se seguiu mesmo com tentativas de animar o público, como aquele momento ocorrido durante a performance de Bite My Tongue.
“Ladies and gentleman, we are called You Me At Six. This is our first time ever in Brazil and I can’t think any other better city to be besides São Paulo”, disse o vocalista dando uma primeira introdução à faixa. “You guys know mosh pit?”, finalizou questionando na tentativa de estimular uma enérgica participação do público. O que aconteceu em seguida foi a execução de uma Bit My Tongue sob uma desprezante receptividade do público, que se manteve parado e com feições de rejeição.
Felizmente, a trégua chegou na faixa seguinte. “Now, I’ve heard that people in Brazil have the loudest voices”, disse o cantor logo sendo, surpreendentemente, correspondido por um grito único, uníssono, contendo todas as vozes presentes no Allianz durante os versos onomatopaicos. Com essa feliz receptividade, Lover Boy foi apresentada.
Cenário parecido seguiu durante a próxima faixa. What’s It Like, apesar de intensamente dramática, teve palmas instigadas pelo vocalista e posteriormente obedecidas durante o refrão, além de ter sido ovacionada quando encerrada. Dali em diante, o Allianz voltou a ser representado pela inexpressividade.
Mesmo em Take On The World, momento em que o público obedeceu ao pedido de Franceschi de deixar o estádio iluminado somente pelas luzes dos celulares, as feições dos presidentes eram desanimadoras. Porém, o momento mais triste ainda não havia chegado, apesar de próximo.
Foi durante SUCKAPUNCH que a decepção e a vergonha alheia, pela rejeição, foram as emoções sentidas. Durante a faixa, o vocalista, com sua interação, quase chegou a implorar por um público participativo, o provocando para que este dançasse no compasso da melodia da canção, o que, apesar de concordado entre gritos, não aconteceu. Surpreendentemente, porém, a plateia chegou a obedecer, de bom grado, ao pedido de Franceschi de se abaixar e, depois, pular energicamente. Graças a isso, SUCKAPUNCH foi tanto o ponto alto da ignorância da audiência quanto da máxima receptividade.
Durante a animada e contagiante Beautiful Way, Franceschi apresentou o guitarrista base Max Heyler, o guitarrrista solo Chris Miller, Barnes e Flint, além de levar a primeira apresentação do grupo em um estádio brasileiro, às 19h21, oficialmente ao seu encerramento.
Apesar de surpreendentemente harmônico, melódico e de som potente, o show do You Me At Six teve um público com a máxima introspecção de todo aquele 16 de dezembro. Por mais que o vocalista transpirasse simpatia e alegria, suas tentativas de trazer a plateia para si e para a banda, algo que foi exercitado desde o primeiro segundo da performance do grupo, não surtiram efeito algum.
Ainda assim, aquele show do You Me At Six serviu para mostrar que o grupo tem potencial, além de fortes sincronia e química entre os integrantes. A única coisa dolorosamente desfavorável, definitivamente, foi a infeliz resposta do público a todas as tentativas de interação do vocalista, deixando a imagem de uma audiência limitada e conservadora em seus apetites musicais. Trocando em miúdos: o show teve ótima qualidade por parte do grupo, mas não foi valorizado pelos presentes.
Como era de se esperar, às 19h57 o Allianz Parque já se encontrava completamente preenchido por uma plateia sedenta pelo NX Zero. E foi às 20h01 que o público começou a entrar em uma histeria crescente pelo horário programado para o início da apresentação do grupo ter chegado.
Tal como foi observado, o grupo já dava a entender que repetiria a dose de atraso da noite anterior. Só restava saber se seriam os mesmos 30 minutos de delay, menos tempo ou maior tempo de retardamento.
NX Zero
Às 20h27, aos cantos do público pedindo NX Zero, o estádio virou breu e iniciou-se a preparação de entrada do grupo. Cheio de suspense e com direito a um homem caminhando pelo palco enquanto hasteava a bandeira com o nome da banda, o despertar do show deixou os presentes com olhares atentos, pupilas dilatadas e suor frio. A ansiedade tomou conta geral. Uma performance cujo despertar foi, sem dúvida, emblemático.
Com Di Ferrero no canto do palco, Só Rezo chegou servindo como uma abertura intensa. Regada por gritos histéricos, coros estridentes, e pessoas com olhares vibrantes e lacrimejantes, a canção fez se propagar uma maciça sensação de nostalgia por todo o ambiente.
Daqui Pra Frente, Bem Ou Mal e Pela Última Vez, as faixas seguintes, foram recebidas com o mesmo fervor a partir de um público completamente entregue e cantando decoradamente cada sílaba lírica. Dessas, especialmente no caso da última música, o vocalista deixou à plateia a responsabilidade de cantar o refrão, certamente ensurdecendo os arredores do estádio pelo decibel daquele coro.
Apenas Um Olhar seguiu linearmente a excitação enérgica dadas às canções passadas, com direito a um público pulando como um só corpo durante os refrões. Apesar da visceralidade da entrega da audiência para com o NX Zero, a primeira prova da sincronia admirativa dada por ela foi acontecer em Onde Estiver.
Nela, Ferrero quis deixar o público cantá-la em sua totalidade, mas acabou dividindo igualmente as participações vocais. Dessa forma, até em relação à troca banda-público ocorreu um primeiro grande sinal de respeito e admiração mútuos que chegou a arrepiar os ali presentes.
Espero A Minha Vez surpreendeu pela sua repaginação estética para algo mais intimista e acústico em sua majoritária execução, tendo ainda um público ativo cantando todos os seus versos e deixando aquele instante com uma atmosfera contagiantemente tocante. Foi, contudo, em Mentiras E Fracassos, que a plateia, pela primeira vez naquele dia, ficou realizada em responder positivamente aos estímulos de um frontman. Assim, o Allianz se transfigurou como um único corpo saltante, fazendo o chão trepidar durante o instrumental final.
Pega desprevenida, a plateia foi, em seguida, surpreendida pela reprodução da imagem de Chorão em todos os telões. Com ela como norte, Ferrero prestou homenagens ao saudoso vocalista do Charlie Brown Jr. e introduziu Cedo Ou Tarde com um estádio inteiramente iluminado apenas pelas lanternas dos celulares, criando, assim, um clima profundamente tocante. Tão carinhoso que até mesmo Ferrero deixou escapar choros de emoção pela entrega amorosa do público, aproveitando para pedir, em seguida, que aquela mesma energia fosse direcionada a Alexandre Magno Abrão.
A inédita Você Vai Lembrar De Mim, além de Meu Bem e um solo curto do baixo de Caco Grandino foram as últimas a terem uma entrega visceral e ativa do público, pois em Círculos a plateia já se mostrava mais mansa e contemplativa. Dali em diante, a tranquilidade foi o mote até outra grande surpresa.
Ainda era cedo para o fim do show, mesmo o céu noturno estar maduro. Mesmo assim, após Mais E Mais a banda saiu do palco e demorou alguns segundos até que a imagem da banda foi transmitida nos telões. E ela mostrou o trajeto do grupo pelo estacionamento do Allianz até a chegada de um novo palco. Mais intimista, o novo palanque se localizava no canto médio esquerdo do campo, praticamente no meio do setor da pista.
Naquele novo cenário, o NX Zero performou faixas como Incompleta, Fração De Segundo e Marcas De Expressão, sendo essa última incluída no set a pedido dos fãs. Foi naquele novo palco que uma média de 50 mil pessoas também presenciaram um momento inesperado. A clamores, Ferrero puxou ao palanque Jéssica e Beatriz para um pedido de casamento. Com o vocalista como oficializador da união e o público como testemunha, a resposta foi um sim intensamente ovacionado.
Enquanto o grupo voltava ao palco principal, o público não mais o acompanhou, pois o que foi exibido nos telões foram vídeos caseiros antigos feitos pelos integrantes da banda, construindo um clima amplamente nostálgico. Quando novamente ao palco, o quinteto emendou Seguir Em Frente, Amuleto Da Sorte e Ligação até que foi a vez do público surpreender a banda.
Quebrando o protocolo, nas palavras do próprio Ferrero, as pessoas rente à grade da pista premium começaram a abrir uma imensa bandeira em homenagem ao NX Zero que, totalmente aberta, tangenciava os alambrados que dividiam a área da pista comum com a vip. Naquele momento, não foi a audiência, mas sim os cinco membros do grupo que se emocionaram e, no centro do palco, se abraçaram intensamente comovidos.
Ainda abraçada pela comoção, a banda quis retomar a energia, introduzindo Isso Não É Normal. Felizmente, ela foi recebida de maneira enérgica e com um público cantando todos os versos até seu encerramento e a chegada oficial do bis, com o grupo, de praxe, saindo do palco sob as luzes ainda acesas.
Criando uma atmosfera de grande suspense, o NX Zero deixou o público na companhia de outro vídeo sendo exibido nos telões. Dessa vez, o conteúdo, ainda nostálgico, mostrava cenas de shows passados do grupo sob uma trilha sonora dramática e densamente saudosista.
No retorno ao palco, o grupo performou, primeiro, A Melhor Parte De Mim. Porém, foi somente na segunda que o público se entregou, de fato, por inteiro. Além De Mim levou o público a um de seus últimos esforços por histeria. Cantada em coro, com direito a pulos, valsas braçais e celulares desesperados pela gravação de um momento marcante da performance, a faixa representou um dos instantes mais aguardados do show.
Razões E Emoções, a saideira, seguiu com o mesmo grau de histeria e êxtase, além de ter sido, sem dúvida, o outro ponto alto mais aguardado da noite. Entre valsas braçais, cantos em coro e danças macias, a faixa fez do Allianz, assim como em Mentiras E Fracassos, um único corpo saltante. Usando os últimos resquícios de energia do público, a canção, nas marcas de 22h57, oito horas após o início das apresentações daquele 16 de dezembro, levou ao término do show do NX Zero.
Sem dúvida, o dia foi de celebração. Desde Day Limns, o clima foi nostálgico e saudosista por dois motivos: um por reativar as atenções no emocore e, noutro, por trazer o NX Zero como foco e recolocá-lo em evidência em uma dobradinha cujos ingressos foram rapidamente esgotados.
Seja sob um sol escaldante, um mormaço torturante ou aterrorizado pela ameaça de uma chuva torrencial, o público daquele 16 de dezembro se manteve firme desde às 15h, quando os portões foram oficialmente abertos. Ainda que presente fisicamente no estádio desde o início da celebração, um ponto precisa ser destacado.
É preciso frisar que a entrega dada pelo público às bandas que antecederam o headliner foi brutalmente contrastante. Com pouco público, Day Limns não teve muito do que se queixar. Já com o Glória, a plateia se mostrava mais robusta e com entregas mais viscerais e, portanto, intensas.
O Supercombo já contou com interações brandas, mesmo sendo agraciado por momentos de frisson. O baque de participação se deu durante a performance do You Me At Six, pois apesar da simpatia de seu vocalista, a banda não conseguiu capturar a atenção do público, mesmo com as insistentes tentativas de Josh Franceschi em fazer a audiência participar ativamente das performance. Com isso, os ingleses foram recebidos com a receptividade mais fria do dia.
Como era de se esperar, o pico de energia e entrega da plateia se deu a partir das 20h27, quando o NX Zero subiu ao palco. Recebida por uma audiência elétrica e vibrante, a banda foi presenteada com a máxima participação na esmagadora parte de seu set, que teve mais de 26 canções.
Entre emoções das mais variadas naturezas, o dia foi repleto de nostalgias e boas memórias. Com uma organização pontual quanto ao início e ao término da maior parte dos shows, só houve, por parte dos organizadores, um escorregão. E foi justamente com os headliners. Marcado para subir ao palco às 20h, o grupo foi assumir seu posto somente 27 minutos depois.
Ainda assim, tal atraso não desanimou ou interferiu na energia da plateia, que se manteve elétrica até o último acorde da última canção da banda. Com dois dias esgotados e levando uma média de 100 mil pessoas ao Allianz Parque, o NX Zero, nas ocasiões, não somente representou a força do rock nacional, mas se firmou, inclusive, como um dos grandes nomes da cena do rock brasileiro da atualidade.
Apesar de já ter uma performance agendada no ano que vem como banda de abertura do Simple Plan na I Wanna Be Tour, a dobradinha do Allianz Parque marcou as últimas performances solo do grupo e as derradeiras da Tour Cedo Ou Tarde. A dúvida agora é saber quanto tempo durará o novo hiato. Enquanto isso, a saudade do NX Zero volta a ser construída. Espera-se, certamente, que a saudade não seja o único alimento de recordação da banda. Pelo menos, não por muito tempo.