NOTA DO CRÍTICO
Mesmo depois de uma garoa fina molhar a cidade, a noite ficou com clima agradável com seus 19ºC marcados nos termômetros espalhados pelas ruas. Perto do metrô Barra Funda, o Espaço Unimed, antigo Espaço das Américas abria suas portas para receber o público de sua nova atração.
Já às 19h34, o espaço interno já abrigava um volume considerável de pessoas que começavam a conquistar seus espaços em meio às outras na ávida função de encontrar a melhor visão do palco. Entre olhares arregalados e pontas de pé, os olhos brilhavam ao ver o palco montado e penumbroso apenas aguardando o momento de início.
Com o tempo passando depressa com auxílio do DJ, que, apesar de entre disparidades no volume das canções executadas, proporcionou um set de rock clássico que funcionou bem para aquecer o sangue do público, que ia aumentando consideravelmente entre os dois principais setores. Ainda assim, porém, grandes vãos ainda existiam pincelados por todo o ambiente.
Quando o vídeo de apresentação do Espaço Unimed começou a ser exibido nos telões às 20h55, a plateia já entrou em euforia. Gritos, uivos e celulares, dos mais variados tamanhos e modelos, se posicionaram ao alto para capturar a melhor imagem possível da entrada do trio de Oklahoma. As luzes gerais de súbito se apagam, ficando apenas as centrais, aquelas que iluminam o front do palco, acesas. Exatas 21h, depois de duas horas de espera, Isaac, Taylor e Zac e dois músicos de apoio se posicionaram em seus postos entre os três cantos do palco para, enfim, dar início à apresentação do Hanson.
Entre os gritos constantes, fotos, e brilhos intensos nos olhares de encanto do público, o trio puxou a introdução da contagiante e swingada Fired Up, que, apesar de estar na tracklist de Anthem, álbum de 2013, conseguiu tirar a plateia do chão no compasso da melodia. Ao final, Taylor, o tecladista, segura firme seu microfone e dá o início às interações com um “good night, São Paulo”.
Mantendo a plateia em estado de fervor, sem muito tempo de respiro, o trio logo puxou a introdução de Where’s The Love?, o primeiro de muitos outros pontos altos do show. Com notável elevação no padrão de excitação, o público vibrou batendo palmas, pulos e rebolados no compasso rítmico enquanto sorrisos tolos apreciavam a desenvoltura do trio como uma espécie de miragem.
“Everybody is having a good time, São Paulo? So this is for you!”, disse Taylor ao introduzir Minute Without You, música que contou com nova participação do público, que se dividiu entre cantos junto ao vocalista e pulos descompassados. Aqui, grande parte da plateia pincelou o ambiente com luzes das lanternas de celulares criando um misto de introspecção e êxtase.
Against The World acabou sendo a primeira música de respiro do show, momento em que o público se acalmou, respirou e tomou mais fôlego, algo muito necessário para o que viria a seguir. Afinal, quando o som da gaita foi ouvido, houve um delírio endêmico e altamente transmissivo que até então não tinha sido experienciado.
If Only, que manteve o público pulando, gritando e batendo palmas durante todo o tempo, foi ainda mais enérgica que Where’s The Love? e, até aquele momento, garantiu o pódio de interação público-banda. Afinal, os cantos, os pulos e as palmas estavam em perfeita sintonia com o compasso melódico. Impossível não dizer que banda e público estavam visivelmente conectados pela energia de generosas doses de excitação. Ao fim de tal performance, ainda, os gritos de aprovação e êxtase perduraram por longos instantes, tornando If Only uma verdadeira festa.
Outros momentos grandiosos aguardavam o público naquela noite de 15/10. Em Been There Before, estimulado por Taylor, o público a cantou no estilo à capela, tornando a performance comovente. Já em Go, que contou com uma performance acústica, Zac foi responsável de apresentá-la de maneira introspectiva, a tocando ao centro do palco sentado em seu cajon.
Depois que Isaac apresentou, emotivo, Write You A Song, canção que fez a pedido e para a filha, o público foi surpreendido com uma nova, súbita e grandiosa injeção de adrenalina. Tudo graças a um piano introdutório que, para quem sabia, foi o suficiente para deixar muitas gargantas roucas. This Time Around, canção que estimulou a criação de um inédito frenesi. Aqui, não apenas a música em si ajudou na excitação crescente, mas também o revesamento de luzes e a própria entrega dos músicos na performance. Mantendo o sangue aquecido, Can’t Stop veio logo em seguida mantendo contagiando a plateia com sua melodia acelerada.
Foi somente 18 músicas após o início da apresentação que Isaac tomou a frente e, durante a jam session construída na introdução de Cold As Ice, apresentou os companheiros de palco. Nesse momento, inclusive, o músico deu visibilidade a Dimitrius Collins e Andrew Perusi, que, na penumbra, quase na coxia do palco, davam mais peso às melodias a partir de suas competências na guitarra e teclado, e baixo, respectivamente.
Pouco depois, veio a grande surpresa do show. Enquanto Zac e Isaac deixam o palco, Taylor se posiciona no centro e começa a cantar à capela, Save Me, a principal e emotiva balada do Hanson. Com a ajuda do público, Taylor foi respaldado por um consistente coro durante toda a execução da canção, que teve a presença somente do teclado em sua segunda metade. Save Me foi recebida com um calor respeitoso e sensível à sua proposta introspectiva, o que lhe conferiu uma atmosfera bastante comovente.
Uma das canções mais aguardadas do show, foi chegar apenas quatro faixas depois. “This is probably the first song you heared from us”, disse Taylor ao puxar MMMBop, o single mais popular da carreira do Hanson. Felizmente, a canção depositou mais ânimo na plateia, que àquela altura, já se encontrava com feições cansadas. Ainda assim, a música foi recebida com bastante entusiasmo e animação, qualidades que se mantiveram em Get The Girls Back.
Eis então que os músicos iniciam seus agradecimentos e deixam o palco enquanto as luzes do palanque se apagam, deixando apenas a frontal acesa. Mesmo assim, o público se manteve irrequieto e gritando ‘Hanson’ a plenos pulmões até que o trio retorna à cena ovacionados. Como primeira faixa do bis, foi então escolhida propositadamente ou não, aquela de título mais sugestivo: I Don’t Wanna Go Home.
A saideira ficou por conta da animada Lost Without Each Other, que facilmente conquistou e estimulou o público. Entre pulos, gritos, dança e um festival de jogadas de cabelo para o lado, o público deu seu recado de aprovação pela performance do Hanson, uma performance que, às 23h18, para a infelicidade geral, chegou ao fim.
Em pouco mais de duas horas de apresentação e 29 faixas executadas, o maior número entre as apresentações brasileiras da Red, Green, Blue World Tour, o Hanson surpreendeu por diversos fatores. O primeiro e principal é que a sincronia do trio e dos músicos de apoio estava muito bem afinada, o que proporcionou momentos de grandiosas harmonias e uma qualidade de som impecável.
O segundo fator diz respeito à heterogeneidade da faixa etária da plateia ali presente. Claramente, a esmagadora maioria, que consistia no público feminino, aparentava estar na casa de seus 30 anos, é verdade. No entanto, isso não impediu de serem notadas pessoas bastante jovens entre os pagantes. Isso mostrou que o grupo está conseguindo diversificar sua base de fãs ao arriscar compor novos materiais e mesclá-los com os antigos.
O terceiro fator foi a postura do trio. Tanto Zac quanto Taylor e Isaac estavam muito bem afinados e com a voz perfeitamente em forma, além, claro, de desfilarem muito carisma. Tal virtude muito cooperou para a receptividade do público, que se manteve aberta e alegre durante toda a noite.
A espera de cinco anos para o retorno do trio a São Paulo pareceu longa, mas como toda saudade, sempre existe o momento certo para saná-la. E o que o Hanson fez naquela noite de clima agradável foi deixar o público ir embora encantado e extasiado pelo adocicado e aromático sabor de nostalgia.