NOTA DO CRÍTICO
Dois anos depois do último álbum de estúdio. Oito anos depois do último EP. Pensando assim, pode ser um tempo longo de hiato de lançamentos. Mas não é. De toda a forma, é agora, no início de 2021, que o We The Kings anuncia SAGA, seu mais recente EP.
Uma explosão rítmica alegre e em compassos acelerados no estilo pop punk dá o iniciar de Turn it UP. De repente, como guia, surge uma voz tranquila, levemente rouca e bem no caráter indie. É Travis Clark trazendo uma letra de energia revigorante e cuja melodia ganha mais groove com a entrada do baixo de Charles Trippy. Suas linhas aceleradas não conseguem, porém, desvencilhar a semelhança rítmica com Open Your Eyes, single do Snow Patrol.
These Nights chega com a mesma energia, mas com uma estética sonora diferente. Calcada em programação, ela tem um início mais eletrônico que, no refrão, recupera a temática pop punk com o baterista Danny Duncan imprimindo frases tão características do subgênero. Curiosamente, esse mesmo trecho da música possui uma melodia cujo movimento lembra o ápice da canção Love Story, da pop Taylor Swift.
No 1 Like U é uma canção diferenciada. O teclado de Coley O’Toole imprime traços do soul, enquanto, com a união da bateria, parece haver flertes até mesmo com o gospel. Mas o que exala química e contágio é o refrão. De estrutura chiclete, ele não só penetra e faz com que o ouvinte cante junto ao vocalista como, e justamente por conta disso, possui caráter de single.
Saindo de uma música de forte apelo comercial, SAGA parte para uma faixa de forte apelo emocional. Apesar de as notas do violão estarem aceleradas, Falling – So In Love tem uma sonoridade levemente melancólica. Com uma letra romântica, sua melodia evolui para algo eletrônico que atende a todas as necessidades do público adolescente, afinal, é dançante, é grudenta e, como foi dito anteriormente, tem seus toques de melancolia.
Notas extremamente doces do piano são apresentadas no iniciar de The Light, uma música de mensagem lírica forte imersa em uma melodia calma e tranquila. Se em Falling – So In Love havia toques melancólicos, na presente faixa esse é um ingrediente dominante que inicia seu ápice logo no pré-refrão, onde a mensagem ganha dramaticidade. E como não podia deixar de ser, o refrão é tão dramático quanto o pré-refrão e conta com frases marcantes como “I can finally breath”.
Definitivamente, o protagonismo de Love Me Or Let Me Down é a dupla de guitarras. Mas mais do que isso, é som, a afinação e a interpretação da guitarra de Hunter Thomsen que entrega a energia que a canção pede: reconfortante como o sol poente. É verdade que a faixa ainda carrega resquício da melancolia presente nas canções anteriores, mas o que a afasta das demais é a letra de cunho amoroso e a interpretação de Clark, a qual é recheada de falsetes bem executados. Mas não só isso. No refrão, a melodia toma corpo de tal forma que a música se iguala àquela sonoridade empregada em The Scientist, single do Coldplay.
SAGA é um EP pop punk. Disso não se tem dúvida ou discussão pertinentes. Mas o que acontece nele é uma divisão harmônica entre faixas propriamente pop punks e outras pop em cujas harmonias possuem misturas rítmicas que fazem o extended play ter uma certa complexidade em sua melodia.
Majoritariamente com energia excitante, ele tem distorção, mas tem também programação, melancolia, ânimo e, o mais importante, apelo comercial. É verdade, porém, que esse quesito foi mais bem explorado nas canções No 1 Like U e Falling – So In Love, mas o EP todo contém algo de sedutor que o enquadra nas programações radiofônicas.
Mixado por Jeff Juliano e Chris Lord-Alge, SAGA é um EP de qualidade harmônica e uma arte de capa que parece mais funcionar como uma autopromoção do próprio We The Kings, pois tem elementos que dizem respeito somente à banda. A única coisa é que a utilização da cor preta na totalidade do plano de fundo não torna o produto atrativo aos olhos, passando uma ideia de tristeza e obscuridade que não dizem respeito ao conteúdo musical do EP.
Lançado em 05 de fevereiro via S-Curve Records, SAGA é um EP que divide o auto-astral com uma melancolia penetrante. O apelo adolescente com gêneros mais maduros. De fato, um EP que representa bem o que é o We The Kings, uma banda que não se fixa a apenas um rótulo.