NOTA DO CRÍTICO
Em 2018 era lançado no mercado fonográfico nacional mais um nome. Mariana Nolasco, que naquele ano anunciou seu álbum de estreia autointitulado, se mostrava uma aposta do pop nacional. Dois anos mais tarde, ela retorna com um novo trabalho. Intitulado Um Só, o primeiro EP de sua carreira sucede Mariana Nolasco Sessions, o segundo disco da cantora.
Uma voz doce, afinada e aveludada surge no horizonte acompanhada de linhas igualmente singelas de um violão tímido e rouco, mas que dá livre passagem para que Mariana Nolasco apresente seu vocal. É assim, de um jeito tranquilo e reconfortante que Um Só tem seu início a partir de Não Sei Por Onde Começar. É difícil, porém, não fazer comparações entre o timbre e o estilo de canto da campineira com aqueles empenhados por cantoras como Clarice Falcão e Malu Magalhães. Afinal, ambos possuem a mesma harmonia e a mesma cadência de pronuncia.
Uma atmosfera praiana e leve como a brisa do mar se forma em Era Amor, uma música de groove sutil por parte do time da base rítmica formado por Marinho Lima e Fabinho Sá, mas em cuja cadência mora o fator-conquista com o público. Com uma estrutura majoritariamente acústica, a música conta com sobreposições vocais em que as interpretações líricas são recheadas de melismas e falsetes que, de certa forma, engrandecem a melodia.
Acredita, em seu curto espaço de tempo, se mostra uma balada melancólica em que o conteúdo lírico apresenta uma mensagem forte sobre aceitação e imposição. Essa mesma energia melancólica ganha ainda mais força com a chegada de Ask For Love, a faixa seguinte.
As notas do violão, mais tristes e espaçadas, fazem pairar pelo vento sensações como saudade. Cantada em inglês, Ask For Love tem uma complexidade melódica em comparação com as músicas anteriores, isso porque Rovilson Pascoal põe mais peso e dramaticidade com um violão de 12 cordas. Mas não só isso. A canção tem momentos em que faz elevar uma impressão transcendental com a programação de João Milliet. Com a entrada do refrão, Ask For Love tem uma crescente harmônica que em muito lembra as músicas recentes de Avril Lavigne.
Uma música em que o protagonismo cabe inteiramente ao time de cordas. Misturando o clássico pelas mãos de Aramis Rocha, Daniel Pires Viola e Dani Feijó, influências da música havaiana e o pop no sentido mais estrito da palavra, Dia de Sorte retorna e reforça o lirismo de tema amoroso, caloroso e reconfortante. Por ter um refrão cuja melodia aproxima, instiga, envolve e cativa, a canção é, sem dúvida, um single de forte apelo comercial.
Groovada e de flertes sutis com o samba, Alto Mar tem, tem ainda, como o próprio nome sugere, uma atmosfera praiana. Há nela ainda um dueto entre Mariana e Vitor Kley que oferece à harmonia uma mistura de cores que renova os tons majoritariamente pastéis da melodia. Isso entrega à faixa um grande potencial comercial, a unindo, consequentemente, com Dia de Sorte.
Um Só é, sem mais nem menos, um trabalho de forte apelo juvenil. Sua melodia tranquila, agradável e amena em união aos conteúdos líricos abordando o amor e o relacionamento harmônico a dois lhe entrega essa temática adolescente.
De instrumental contagiante, Um Só se fixa no pop, mas ainda assim, não deixa de flertar com estilos como o samba, a música clássica e a havaiana. Essa soma de estilos, mesmo que pareça invisível para alguns, está ali e pode ser percebida em meio à sutileza rítmica endossada pela mixagem de Milliet.
Como não poderia deixar de ser, essas características tão presentes no enredo das canções estão, também, presentes na arte de capa de Um Só. Feita por Átila Brito, elementos como os cabelos esvoaçantes de Mariana e o preenchimento do cenário com flores não passam somente a ideia de leveza. Com a ajuda de objetos antigos, ela ganha contornos retrôs que se adequam à temática do EP mesmo não sendo algo inserido na harmonia das canções.
Lançado em 22 de janeiro de 2021 de forma independente, Um Só é um trabalho teen em todos os seus aspectos. Mas isso não o impede de ser cativante, harmônico e envolvente. Ouvi-lo é um exercício de relaxamento capaz de fazer surgir sorrisos tímidos no canto dos lábios.