THAIS - ABALO

NOTA DO CRÍTICO
Nota do Público 4.5 (8 Votos)

Ela vem de Belo Horizonte (MG) e escolheu o primeiro trimestre de 2023 para se lançar oficialmente no mercado musical brasileiro. Dois anos depois de ganhar o edital RCKB, THAIS enfim apresenta ABALO, seu EP de estreia.


Uma voz doce e suave surge entregando uma velocidade lírica contagiante. De dicção semelhante àquela de Clarice Falcão, THAIS surge ao lado de um violão de linhas igualmente amenas, propondo uma nova vertente da MPB, não tão engessada e mais macia. Fluindo para uma levada mais indie rock ao estilo Los Hermanos, Noite Passada tem rompantes embriagantes a partir dos riffs pontuais da guitarra de Fepa e toques graves ocos do baixo de PH, proporcionando singelas levantadas na linearidade melódica. De energia leve, mas radiofônica, Noite Passada aborda a inconstância temperamental das duas partes da relação, dos desafios da convivência, do descaso com relação à rotina de casal, da negação dos conflitos. Ainda assim, é interessante notar que existe, como um coração pulsante, a vontade da entrega de energias para fazer o relacionamento funcionar. E a metáfora de se lembrar da noite passada se associa diretamente com essa entrega, com a vivência dos momentos presentes, sejam eles bons ou ruins.


A suavidade é reassumir na nova introdução. Aqui, porém, ela é conquistada somente pelo timbre e cadência amaciada com que THAIS começa a apresentar o conteúdo lírico. De levada pop contagiante, Nunca Gostei De Quem Só Me Faz Bem tem seu ritmo ligeiramente transformado quando a bateria de Lucas Teixeira insere um groove swingado à estrutura sonora. Com participação marcante do baixo grave dando uma corpulência quase estridente, é o enfrentamento do medo da entrega, da insegurança perante o imprevisível. É a liberdade do sentir e do experienciar situações que geram, de fato, desconforto pela sua vertente inconstante. Afinal, o amor é uma aventura sem receita ou mapa. E isso de fato assusta, mas se atravessado com leveza, pode trazer mais coisas boas do que ruins. Essa é a aposta de THAIS em Nunca Gostei De Quem Só Me Faz Bem, mesmo que, para os outros ou para si, ela se apoie na mentira de que ao menos gostaria de ter forças para negar verdadeiramente o amor.


Um som bojudo e nauseante perambula pelo ambiente entre vaivéns através do sintetizador de Diego Vargas. Curiosamente, existe aqui uma sensualidade amaciada que conquista o ouvinte com seu veludo estonteante. Misturando elementos do trap com o pop e o synth-pop, Querido é uma canção sobre o temor do tempo e, principalmente, sobre o estado de dependência sobre o outro. É a negação do luto vestida pela falsidade de um amor inexistente.


Voz e violão. A estrutura minimalista pode ser um desafio para muitos no que tange a construção de um enredo rítmico contagiante. Porém, THAIS conseguiu fazer o feito em Eu Quero Ficar Louca E Te Ligar De Madrugada. Entre melismas e falsetes, a mineira, sob uma esfera levemente exotérica, exorta o desejo por um romance verdadeiro, pela entrega e pelo reviver de momentos marcantes e prazerosos. Parafraseando Cazuza, se apoiando em coloquialismos e rimas simples, a cantora consegue comunicar, além da imaturidade, a ingenuidade de quem quer viver algo que, por um instante, foi bom. Eu Quero Ficar Louca E Te Ligar De Madrugada é simplesmente uma luta unilateral para que um caso de uma noite vire um romance duradouro e consistente.


Um trabalho doce, macio e contagiante. Com poucas, mas de texturas bem trabalhadas, ABALO é um trabalho que chama a atenção pela simplicidade, pela imaturidade e pela leveza interpretativa que THAIS emprega em cada uma de suas quatro viagens lírico-rítmicas.


O amor, de forma geral, é o norteador inegável de seus enredos. Trazido de maneira sedutora e contagiante, ele consegue convidar o ouvinte para curtir e para refletir sobre suas próprias vivências. Nesse aspecto, ABALO pode parecer juvenil, mas tudo o que vem relacionado à paixão e à entrega é comum a todas as gerações.


A negação do fim, a inimizade com o tempo, a dependência, o desejo, a manipulação e a ausência de consciência são fatores que, ao menos uma vez, acompanha o indivíduo nas aventuras do amor. E são justamente esses tópicos que THAIS propôs uma viagem. Um trajeto que, com auxílio de Felipe Martins na mixagem, foi respaldado por gêneros como MPB, pop, trap, indie rock e synth-pop.


Já a partir da produção entre Martins e Pedro Henrique Robes, ABALO surgiu fresco, inocente e contagiante em seu colorir de ingenuidade adolescente. Curiosamente, esses adereços foram também bem capturados pela arte de capa assinada entre Gabriel Hand e Gabriel Dantas. Nela, a indumentária de THAIS já comunica jovialidade. Seu corpo flutuante traz o êxtase da felicidade misturado com intensidade. É a voz do coração dando vida ao corpo.


Lançado em 10 de março de 2023 via Rockambole, ABALO é um EP adocicadamente fresco, amaciadamente ingênuo e embriagantemente imaturo. É um material honesto em sua leveza adolescente que contagia com sua maneira particular de transitar pela inconstância imprevisível do amor.










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Sobre o crítico musical

Diego Pinheiro

Quase que despretensiosamente, começou a escrever críticas sobre músicas. 


Apaixonado e estudioso do Rock, transita pelos diversos gêneros musicais com muita versatilidade.


Requisitado por grandes gravadoras como Warner Music, Som Livre e Sony Music, Diego Pinheiro também iniciou carreira internacional escrevendo sobre bandas estrangeiras.